Jogadoras da WNBA lutam por um novo acordo coletivo de trabalho

A WNBA voltou a ter uma temporada histórica, que terminou com o terceiro título em quatro anos para o Las Vegas Aces. A liga de basquetebol feminino norte-americana registou a sua temporada regular mais assistida desde 1998, com uma média de 969 mil espetadores para jogos transmitidos pela televisão nacional. A assistência nos pavilhões também…
ebenhack/AP
As jogadoras da WNBA não estão a disputar pontos dentro da quadra, mas não desistem da luta pelos seus direitos fora dela. A atual offseason da liga de basquetebol feminino norte-americana pode vir a ser a mais importante da sua história.
Sports Money

A WNBA voltou a ter uma temporada histórica, que terminou com o terceiro título em quatro anos para o Las Vegas Aces. A liga de basquetebol feminino norte-americana registou a sua temporada regular mais assistida desde 1998, com uma média de 969 mil espetadores para jogos transmitidos pela televisão nacional. A assistência nos pavilhões também está a aumentar, com a WNBA a bater um novo recorde. As 13 equipas atraíram, no total, 2,5 milhões de adeptos em 226 jogos, superando a marca anterior estabelecida em 2002, que contou com uma competição de 16 equipas.

Mas enquanto tudo isto acontece, há um outro tema em cima da mesa. O que é que realmente está a acontecer na WNBA?

Em julho deste ano, durante o All-Star Game da WNBA, ficou claro o descontentamento das jogadoras em relação à própria liga. Com Caitlin Clark e Napheesa Collier como capitãs das equipas, todas as jogadoras da Team Clark e da Team Collier entraram para o aquecimento com camisolas onde se podia ler: “Paguem-nos o que nos devem”.

As camisolas surgiram depois de as jogadoras e a liga não terem chegado a um novo acordo coletivo de trabalho. As jogadoras optaram por sair do seu último acordo em outubro e estão à procura de um modelo melhor de partilha de receitas, aumento de salários, melhores benefícios e um teto salarial mais flexível.

“Estou muito inspirada com a quantidade de jogadoras que compareceram, com o envolvimento que houve”, disse a presidente da Women’s National Basketball Player’s Association (WNBPA), Nneka Ogwumike. “É disso que se trata. Acho que hoje vamos conseguir usar esta conversa para começar a colocar as coisas em movimento”.

Napheesa Collier (Minnesota Lynx) | Foto: Ethan Miller/Getty Images

Mas o otimismo de Ogwumike acabou por não se concretizar, uma vez que o acordo continua por fechar, e seguiu-se mais um momento que deu muito que falar em todo este processo: as declarações de Napheesa Collier. No final do jogo três das semi-finais, a jogadora acusou a WNBA de “autossabotagem” e de não colocar o bem-estar das jogadoras em primeiro lugar. Ao serviço do Minnesota Lynx disse que a comissária da WNBA, Cathy Engelbert, demonstrou “a pior liderança do mundo” e que a liga tem “falta de responsabilidade”.

A jogadora revelou ainda uma conversa privada que teve com Engelbert, alegando que a comissária havia rejeitado as suas preocupações em relação ao salário das jogadoras. Segundo a própria, a conversa aconteceu durante um jogo da liga Unrivaled, em fevereiro, e houve um momento em que questionou o porquê de jovens estrelas da liga como Paige Bueckers, Angel Reese e Caitlin Clark ganharem tão pouco, apesar de serem grandes impulsionadoras do crescimento da liga. Engelbert respondeu: “A Caitlin deveria ser grata por ganhar 16 milhões de dólares fora das quadras, porque sem a plataforma que a WNBA lhe dá, ela não ganharia nada”.

Engelbert, por sua vez, negou ter feito qualquer comentário. “Obviamente que não fiz esses comentários”, disse aos jornalistas, falando em particular cobre Clark. “A Caitlin tem sido uma jogadora transformadora nesta liga, tem sido uma grande representante da modalidade, trouxe dezenas de milhões de novos fãs”.

Durante uma conferência de imprensa, Clark defendeu que Collier “disse tudo” e considerou que a colega “apresentou muitos argumentos válidos” na sua declaração dirigida a Engelbert. Bueckers, numa entrevista à Fortune, também falou sobre o tema: “Somos as jogadoras, por isso sentimos que devemos receber o que merecemos e o que as pessoas antes de nós prepararam para nós, o que a próxima geração merece. À medida que o jogo continua a crescer e a W continua a capitalizar o nosso crescimento… sentimos que devemos receber uma parte desse bolo”.

Caitlin Clark (Indiana Fever) e Paige Bueckers (Dallas Wings) | Foto: Brian Spurlock/Icon Sportswire via Getty Images

Toda a situação foi comentada também pelo comissário da NBA, Adam Silver, num artigo do USA Today, em que defendeu: “Cathy Engelbert presidiu a um crescimento histórico na liga, mas não há dúvida de que há questões que precisamos de resolver com as nossas jogadoras. Não são apenas questões económicas. Há também questões relacionadas com as relações. Estou confiante de que podemos resolver isso com o tempo, e esta liga pode continuar na trajetória ascendente em que se encontra agora”.

No seu podcast “Post Moves”, Candace Parker, um dos maiores nomes da história da liga norte-americana, também deu a sua opinião sobre este tema. E começou por usar a sua relação – ou falta dela – com a comissária da WNBA como exemplo: “Acho que as relações são importantes. O Adam [Silver] está a liderar de uma forma diferente. Se a NBA é o nosso modelo, então temos de olhar para ela de cima a baixo, não podemos simplesmente escolher o que queremos ver. E vou dizer isto: assinei um contrato com a Amazon e recebi uma mensagem de parabéns do Adam Silver. Tive o meu terceiro filho e recebi uma mensagem do Adam Silver sobre o meu terceiro filho. Recebo um presente de Natal do Adam Silver todos os anos. Quando me reformei, o Adam Silver enviou-me uma mensagem. Mas não tive notícias da Cathy”.

A ex-jogadora do Los Angeles Sparks, Chicago Sky e Las Vegas Aces deixou ainda uma mensagem a Collier, pelo seu papel no desenrolar deste tema: “Já não se pode liderar com mão de ferro, tem de se ser simpático, humano. Então, parabéns à Phee”.

Cathy Engelbert | Foto: Ian Maule/Getty Images

A expetativa é que os próximos meses vejam nascer um novo acordo coletivo de trabalho, sendo que cada uma das partes tem os seus pontos “não negociáveis”. As jogadoras, e de acordo com a WNBPA, insistem que, além dos salários mais altos, merecem uma maior participação nas receitas da liga. Em segundo, a remoção da questão da priorização. A WNBA tem uma duração de cerca de quatro meses, o que leva muitas jogadoras a participar numa segunda liga no mesmo ano num país estrangeiro. O conceito de priorização exige que as jogadoras que participam de ligas estrangeiras “priorizem” a WNBA, potencialmente deixando os seus clubes estrangeiros antes do final das temporadas para estarem presentes no início da liga norte-americana.

“É muito pessoal, porque a WNBA quer proibir as jogadoras de ganhar muito mais dinheiro do que alguma vez ganhariam aqui. As pessoas têm famílias, este é o nosso trabalho. Ganhamos mais dinheiro na China, na Rússia, na Turquia do que aqui, por isso é muito pessoal”, afirmou Satou Sabally, jogadora do Phoenix Mercury, durante um dos media day do clube.

Da parte da liga, são exatamente essas duas questões que estão a atrasar as negociações, uma vez que esperam manter um teto salarial fixo não vinculado às receitas da WNBA e a preservação da regra de priorização.

Mais Artigos