De visita a Portugal para apresentar o novo livro ‘A Wild Animal’ no espaço da Penguin na Feira do Livro de Lisboa, Joël Dicker falou com a Forbes Portugal sobre esta nova história, os sucessos que já lançou até hoje, a forma como encara a indústria e a sua editora Rosie & Wolfe.
O que nos pode dizer sobre esta história, ‘A Wild Animal’?
É o meu sétimo livro, o que é mais um desafio para mim. Livro após livro, sinto que me estou a relacionar com mais pessoas, a encontrar mais leitores, sinto que também estou a construir esta relação com os meus leitores, o que é muito bom. Muitos deles seguem-me livro após livro, e isso é algo que me deixa muito comovido. Já tive a experiência de ser um autor cujos livros não eram lidos, e ser lido é muito bom, mas também quero evoluir e fazer algo diferente, quero surpreender os meus leitores. Por outro lado, também gosto do género, do thriler, dos romances de mistério. Então, como é que me renovo? É a pergunta que me faço muitas vezes. E para mim uma das respostas está neste livro, e é algo muito importante para mim desde há muito tempo: quero ser mais eficiente na minha narrativa. É uma história que se passa em Genebra, a minha cidade natal, e é uma história de um roubo e, ao mesmo tempo, a história de dois casais vizinhos. E vai haver toda uma história entre eles.
É desafiador tentar fazer algo diferente quando já se tem tantos leitores?
Acho que não sinto a pressão, porque quando vejo os leitores e os encontro nas livrarias, vejo todo o amor pelo meu trabalho. Se há uma expetativa, e é uma grande expetativa, para o meu leitor é que eu continue a ser muito ambicioso, que continue a fazer livros longos e ambiciosos, com muitas reviravoltas, muitas personagens. Os meus leitores precisam de sentir o que eu estou a fazer quando escrevo, ou seja: Ponho tudo nos meus livros, todo o meu coração, toda a minha energia, trabalho incansavelmente. Acho que é isso que eles esperam e é isso que encontram livro após livro.
Há uns anos disse numa entrevista “Como é que posso escrever uma história passada em Genebra, onde vivo todo o tempo? Conheço todos os lugares de Genebra e tudo me levava a coisas pessoais, tudo me levava à minha perceção do lugar”. Mas no “Enigma do Quarto 622” e neste novo livro escreve sobre Genebra. O que o fez mudar de ideias?
Acho que o que eu queria dizer era que seria um desafio para mim contar uma história em Genebra. Porquê? Porque sou um autor de ficção e a ficção é o oposto da realidade. Genebra é a minha realidade. Por isso, no início, foi muito difícil enquadrar a história na minha realidade, porque eu pensava ‘onde está a ficção na realidade?’. Foi um longo caminho e muito trabalho, mas estou feliz por tê-lo feito. Conseguir encontrar uma forma de contar uma história, de narrar uma história, de organizar uma ficção no mundo da minha realidade.
E quais são as suas expetativas para a apresentação deste livro em Portugal?
Não sou uma pessoa que cria muitas expetativas, para ser sincero. Antes de mais, estou muito feliz por estar aqui, muito grato por estar de volta a Portugal, por ver o meu livro novamente em português, por estar na Feira do Livro, ver os leitores. Mas pergunto-me sempre, quando venho para um sítio longe de casa, se haverá leitores. Não é que eu esteja à espera de pessoas, não é que eu fique triste se não houver ninguém, não tenho ansiedade em relação a isso. Eu vim de duas ou três horas daqui, é o meu sétimo livro, será que ainda há leitores dispostos a seguir-me? É mais uma pergunta do que uma expetativa.
O quão impactantes são as reviews para um autor?
Já não as leio. As primeiras reviews, claro [que afetaram], queremos ler, queremos saber o que as pessoas pensam do nosso livro e isso é muito entusiasmante. Algumas são muito boas e outras muito más, e isso também faz parte do trabalho. Mas eu já não as leio, não que não queira, mas não as procuro. Não sei porquê, não vou ler os comentários no Instagram ou na Amazon. Talvez também porque o feedback que tenho, tenho-o dos meus leitores quando vou à livraria e acho que isso é suficiente para mim.
Como descreve o seu processo criativo?
Não o descrevo, vivo-o, passo por ele. Muito intuitivo, não gosto de planos, e isso é muito pessoal, mas sinto que os planos são uma limitação. Sinto que não ter planos vai ou está a ajudar-me a encontrar mais histórias e a tentar mergulhar nas histórias. Por isso, se há uma palavra a dizer sobre isto é intuição. Seguir o instinto e confiar no processo.
Tem uma rotina diária ou vai escrevendo conforme a inspiração surge?
Apenas escrever o máximo que conseguir.
E assim que termina um livro, começa logo outro?
Normalmente, muito rapidamente. Adoro escrever.
Ao lançar um novo livro, a pressão agora é maior? À medida que o sucesso vai sendo maior também.
Não é bem uma pressão porque não está nas minhas mãos, agora depende dos leitores, do mercado, dos vendedores de livros, de tanta gente. Por isso, sinto as borboletas, estou ansioso por ver o que vai acontecer.
Porque é que acha que ‘A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert’, e toda a trilogia, foi um sucesso tão grande? O que é que esses livros têm que os torna especiais?
A forma como a história é contada. Acho que para as pessoas que me conheceram através destes livros é a primeira abordagem a este tipo de história. É um livro, mas a forma como a história é contada é mais como a tradição da oralidade. É alguém a contar-lhe uma história, mais do que o leitor a ler a história. E acho que esta voz, esta forma de narrar a história, é algo bastante diferente para as pessoas.
Há planos para adaptar outros dos seus livros para uma série?
Sim, há, mas nada de concreto. As pessoas dizem-me que os meus livros são muito cinematográficos: “vemos o filme, imaginamos o filme, a série”. E depois vêm os produtores, tentam e apercebem-se que é muito difícil adaptar. A minha resposta é que parece cinematográfico, mas não é. Tentem adaptá-lo e verão. Por isso, há muitos projetos em cima da mesa, mas neste momento não há nada em curso, porque é difícil.
O aumento do número de leitores ao longo dos anos, acabou por influenciar a sua escrita de alguma forma?
Não sei. É difícil responder porque, claro, tem impacto em tudo. O facto de as pessoas lerem o nosso trabalho tem impacto, mas a questão é: sou capaz de lidar com esse impacto e de continuar a ser fiel a mim próprio e ao que quero fazer? Penso que sim.
E as redes sociais, sente a influência das redes na indústria?
Não, de todo. É fantástico que hoje em dia autores e leitores possam falar sobre livros. O BookTube e coisas do género são fantásticos, porque é para isso que serve uma rede social, para partilhar cultura. Vamos falar sobre um livro que lemos, uma recomendação, isso é fantástico, acho ótimo. Para mim, esse é o único lado bom das redes sociais, o resto não me agrada muito.
O que é que o levou a criar a sua própria editora, a Rosie & Wolfe?
A morte do meu editor em Paris. Ele faleceu e, no seu testamento, quis que a sua editora fosse extinta. Por isso, fiquei sem editora e, como queria manter-me fiel a ele, porque era uma pessoa muito importante para mim, decidi abrir a minha própria editora e não recorrer a alguém.
Quais foram os maiores desafios até hoje na editora?
A escassez de papel. Quando comecei, foi no meio da maior escassez de papel, agora está a correr um pouco melhor. Ainda é complicado porque o custo do papel aumentou muito e nunca baixou, mas quando comecei não havia papel disponível.