Ser campeã mundial é uma coisa estranha! No meu caso, a primeira campeã mundial de um circuito profissional de uma modalidade de ondas para Portugal. Um marco que fica na história do desporto português. Soa pomposo mas o behind the scenes é bem humilde.
Desde miúda, quando comecei a fazer bodyboard, perguntavam-me qual era o meu sonho, dizia sempre que era ser bodyboarder profissional e conseguir viver do bodyboard. Era pura verdade, mas de forma secreta também sonhava ser um dia campeã mundial. Digo secreta porque não contava esse sonho a ninguém, parecia-me demasiado longínquo e muito improvável de vir a tornar-se realidade. Sempre tive um pouco a postura do faz primeiro e fala depois. Toda a minha carreira desportiva, o meu foco sempre foi o mesmo: evoluir, tentar ser melhor bodyboarder e divertir-me.
15 anos de competição mais tarde, recebo a taça de Campeã do Mundo em plena Praia do Norte, na Nazaré. Isto em 2017 e apenas na minha segunda temporada a competir no circuito mundial na íntegra. Antes tinha sido impossível correr o circuito todo por falta de apoios, até 2016 apenas competia nos circuitos nacionais e europeus (onde acumulei sete títulos nacionais e quatro europeus). Em 2017 quando passei a líder do ranking mundial, com a vitória na etapa portuguesa (o Sintra Pro), e a as hipóteses ao título começaram a tornar-se muito reais, as expetativas começaram a crescer, recebi inúmeras mensagem de apoio e de incentivo, mensagens que me enchiam o coração mas também aumentavam a pressão. Pessoas a perguntar se era desta que Portugal finalmente teria um campeão mundial de bodyboard.
O momento exato foi uma turbilhão de emoções difícil de descrever. Lembro-me perfeitamente que a primeiro sentimento foi de alívio. Já acabou! A sensação de estar feito. Não desiludi todas estas pessoas que estavam a torcer por mim. A praia do Norte estava em festa e a coisa mais bonita deste título foi a partilha do momento com a comunidade de bodyboard portuguesa, foi uma conquista partilhada, foi mesmo um titulo de todos nós amantes das ondas. Portugal já merecia este título há muito tempo e ser eu a trazê-lo para casa foi uma honra enorme.
Eu não tinha a noção da importância que um título mundial teria na minha carreira, não tinha exemplos anteriores para ver o real impacto. Foi uma descoberta e na verdade a minha vida mudou de um dia para o outro. Recebi um selo de qualidade universal, deu-me autoridade dentro do desporto que tanto precisava. Mudou a forma como o bodyboard é reconhecido. Fez-me crescer enquanto pessoa, puxou pelas minhas habilidades fora da praia. De repente tinha de ser uma porta-voz para a modalidade. Abriu mais portas que alguma vez podia imaginar.
Acima de tudo fez-me perceber que quando seguimos os nossos sonhos sem medos e com toda a nossa convicção, somos recompensados. O trabalho, o sacrifício e a perseverança são imprescindíveis mas no final vale a pena. Olhando agora para os meus 20 anos de competição, mais que qualquer título, o que me orgulha é mesmo o meu percurso para lá chegar.
Deu-me a confiança de dizer que gostava de ganhar um segundo título mundial!