Quando começamos a pesquisar e a organizar as nossas ideias sobre investimentos, é natural sentirmos uma motivação essencial: ganhar mais dinheiro! Estabelecemos então o nosso plano de investimento, fazemos o esforço de todos os meses colocar algum dinheiro nesse plano e, a pouco e pouco, começamos a acumular capital que gera, por si só, cada vez mais capital. No entanto, será que ganhar dinheiro deve ser o único foco? Parece-nos que não, e este artigo tem como objetivo partilhar as minhas ideias sobre o assunto.
Pensemos nas coisas que gostamos e com as quais concordamos no mundo, seja lá o que for. Pensemos naquilo que nos parece ser a “coisa certa a fazer”, a marca que queremos deixar no mundo. O que nos impede de começar ainda hoje a fazer a diferença no mundo mesmo que isso signifique ganhar menos dinheiro? Defendo que a nossa estratégia de investimento deve refletir a pessoa que somos e aquilo em que acreditamos.
É fácil olhar para investimentos (sejam eles quais forem) e ver números apenas. Olhamos para os rácios de uma empresa ou para a ficha de um ETF e tomamos a decisão de investimento baseada nisso. E se passarmos a olhar, efetivamente, para onde estamos a investir? O dinheiro investido é nosso, ou seja, temos propriedade sobre uma parte daquilo onde investimos. Será que nos identificamos com os nossos investimentos? Se alguém olhar para a nossa carteira de investimentos, a ideia que forma sobre nós corresponde à realidade?
Vamos a um exemplo concreto, utilizando algo muito em voga e sobre o qual todos temos uma opinião: o setor da energia. De que lado estamos nesta opinião? Do lado que defende que o caminho são as energias verdes como a eólica, hídrica ou solar? Achamos que estas fontes são uma ameaça para a vida animal, por exemplo, e soluções como a nuclear ou, mais disruptiva, o hidrogénio serão o futuro? Ou, por outro lado, entendemos que ainda há uma quantidade muito considerável de pessoas no mundo sem acesso a eletricidade e que o caminho para melhorar isso passa pelas mais tradicionais, e baratas, soluções fósseis? Provavelmente todos temos a nossa própria opinião e penso que nenhuma está errada. Como em tudo, qualquer solução tem vantagens e desvantagens sobre as outras, por isso qualquer uma delas é válida.
Para quem defende a energia verde, faz sentido investir nas empresas ou fundos de petrolíferas? Qual a mensagem que esta pessoa transmite ao mundo? É possível afirmar que “Acredito que as energias renováveis são o futuro, mas tenho o meu dinheiro investido em petrolíferas porque me trazem mais lucros”?
Os investimentos devem ser, claro, uma ferramenta para gerar rendimento e acumular património financeiro, mas penso que devemos ir além disso. Tentarmos ver os investimentos como muito mais do que números e olharmos para eles como uma forma de ver aquilo que nós próprios somos.