Opinião

Investir em Portugal: É urgente mudar o paradigma

Sérgio Cardoso

A forma como os portugueses investem continua a ser marcada por uma lógica defensiva, profundamente enraizada na cultura financeira nacional. A aversão ao risco não é apenas uma preferência, é uma consequência direta da falta de conhecimento, da ausência de planeamento e da perpetuação de mitos sobre o investimento.

Durante décadas, fomos educados para poupar “para não faltar”, mas nunca para investir “para fazer crescer”. O resultado é uma sociedade que poupa pouco, investe menos e, quando o faz, privilegia produtos de capital garantido, como depósitos a prazo ou certificados de aforro. Estes instrumentos, embora seguros, não respondem às exigências de um futuro cada vez mais incerto, onde a longevidade aumenta e os rendimentos provenientes das pensões diminuem.

É preciso dizer com clareza: o risco de não investir é hoje maior do que o risco de investir com prudência. Continuar a adiar decisões financeiras estratégicas é comprometer a qualidade de vida futura. E não se trata de apostar em produtos complexos ou voláteis, trata-se de construir uma base sólida, diversificada e ajustada ao perfil de cada pessoa.

A solução não está apenas na criação de novos produtos. O mercado já oferece alternativas acessíveis, flexíveis e adaptadas a diferentes perfis. O verdadeiro desafio está na literacia financeira. É urgente capacitar os portugueses para que compreendam o que significa investir, como se avalia o risco, e como se constrói uma carteira equilibrada. Sem este conhecimento, qualquer produto – por mais inovador que seja – será visto com desconfiança ou ignorado.

A educação financeira tem de ser uma prioridade nacional. Não pode depender apenas de iniciativas pontuais ou da boa vontade de alguns agentes. É preciso uma estratégia integrada, que envolva escolas, empresas, meios de comunicação e entidades públicas e privadas. Só assim conseguiremos formar cidadãos capazes de tomar decisões informadas, conscientes e alinhadas com os seus objetivos de vida.

Os jovens, em particular, merecem atenção especial. Apesar dos rendimentos baixos e da instabilidade laboral, têm uma vantagem decisiva: tempo. Se começarem cedo, mesmo com pequenas quantias, podem construir uma base que lhes permita alcançar a liberdade financeira com mais segurança. Mas para isso, é preciso que lhes sejam dadas as ferramentas certas, conhecimento, produtos adequados e incentivos à poupança regular.

Portugal precisa de uma nova cultura financeira. Uma cultura que valorize o planeamento, a autonomia e a visão de longo prazo. Investir não é um luxo, é uma necessidade. E quanto mais cedo assumirmos essa responsabilidade, mais preparados estaremos para enfrentar os desafios do futuro.

Sérgio Cardoso,
Chief Education Officer do Doutor Finanças

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