O Banco Europeu de Investimento (BEI), alerta, no seu Relatório de Investimento 2022-2023, que os volumes de investimento que estão a ser feitos na Europa são insuficientes para cumprir as metas da neutralidade carbónica. Aconselha ainda a Europa a aumentar significativamente os gastos com investimentos produtivos se quiser acompanhar a concorrência e, assim, atingir as metas ambientais. Esta publicação anual, que resulta de um inquérito no qual participam cerca de 12.500 empresas em toda a Europa, e ainda envolve vários municípios europeus, revela que os investimentos em soluções mais ecológicas foram retomados em 2022, após a quebra devido à pandemia, porém ainda se sentem algumas barreiras administrativas e, sobretudo, muita incerteza. A análise do BEI refere, contudo, que alguma desta incerteza poderá ser compensada, em parte, pelo incentivo que o elevado preço da energia traz ao mercado na procura de novas soluções. As empresas inquiridas apontaram a incerteza, a escassez de competências e os elevados custos de energia como os principais constrangimentos ao seu investimento.
O futuro da Europa depende da nossa capacidade de abraçar a transição digital e da aposta na sustentabilidade ambiental
O relatório ressalva ainda outras conclusões relevantes, como o facto de as empresas europeias terem menos probabilidade de inovar ou adotar novas tecnologias face às suas congéneres norte americanas. Segundo este research, o baixo investimento em inovação, em máquinas e equipamentos, poderá comprometer, a longo prazo, a capacidade da Europa competir com o resto do mundo.
O estudo acrescenta ainda que a diferença do investimento produtivo entre as União Europeia e os Estados Unidos é de quase 2% do PIB, um desfasamento que persiste há mais de uma década. “O futuro da Europa depende da nossa capacidade de abraçar a transição digital e da aposta na sustentabilidade ambiental. Isso exige investimento intenso nos setores público e privado. No entanto, a incerteza, gerada por políticas imprevisíveis e pelas condições de mercado, está a ser uma barreira para as decisões de investimento”, explica a economista-chefe do BEI, Debora Revoltella. Esta especialista acrescenta ainda que a transição verde é uma oportunidade que a Europa não pode desperdiçar e que deveria até conseguir manter a sua liderança em algumas tecnologias verdes, aproveitando o potencial que o mercado único cria, reduzindo os obstáculo ao investimento. O estudo ressalva que, enquanto a Europa fica atrás dos Estados Unidos no que diz respeito à inovação digital, consegue manter-se líder na inovação ao nível das tecnologias mais amigas do ambiente, sobretudo em setores como o dos transportes, das redes inteligentes e da energia eólica, vantagem esta que, sem investimento, poderá estar ameaçada.
Também a questão das competências é um fator chave para a transição digital e para a transição ecológica. Quase 70% dos municípios inquiridos afirmam não ter as competências necessárias para fazer esta transição, sendo que a própria coesão regional está em risco, ao existirem regiões mais avançadas e outras mais atrasadas. Esta questão regional é fundamental para o que o pacote de recuperação e resiliência europeu seja aplicado com sucesso.