Debater a evolução da Inteligência Artificial e a sua humanização, assim como os desafios e oportunidades que esta tecnologia traz ao mundo foi o ponto de arranque para a conferência “Generative AI: do ChatGPT ao dia-a-dia das organizações”, que decorreu esta tarde e que promovida pelo Jornal Económico e pela consultora ligada a análise de dados e inteligência artificial, Wiimer.
Entre os vários oradores estiveram o CEO da VisionWare, Bruno Castro, o consulting partner da PwC Miguel Fernandes, e a Head of People da Sonae MC, Vera Rodrigues.
Durante a sua intervenção, o consulting partner da PwC, Miguel Fernandes, defendeu que “do ponto de vista de experimentação a Inteligência Artificial é um acelerador inacreditável para poder ser utilizado e que vai marcar as organizações”. E alertou que é “uma tecnologia que em cinco dias teve um milhão de utilizadores, hoje são mais de dez milhões em dois meses. Humanizar significa que as pessoas têm de entender que isto é um acelerador com enorme potencial, mas como tal é também é um risco. O que antes se levava um dia a fazer, agora faz-se em segundos”.
Reagir e prevenir problemas
Já o presidente executivo da VisionWare, Bruno Castro, admitiu que vê a transformação da IA a nível corporativo através da criação de rápidas dinâmicas com os colaboradores da sua empresa. Bruno Castro sublinhou que “temos evoluído para processar a informação mais rapidamente, o que acarreta riscos. Estamos a falar de 24h durante sete dias da semana. Saber que alguém está a fazer algo que não devia estar a fazer. Perceber quando algo se movimenta no mundo cibernético e que pode tornar-se uma ameaça. O grande desafio vai ser sem dúvida a capacidade de reação para prevenir os problemas”.
Do universo do retalho, a Head of People da Sonae MC, Vera Rodrigues, lembrou que não há nenhuma dicotomia entre a gestão mais humanizada e uma gestão mais efetiva da tecnologia. E destacou que esta “perspetiva da Inteligência Artificial neste estado de desenvolvimento degenerativo tem a vantagem de tirar da frente das pessoas aquilo que elas não gostam de fazer. Por exemplo, ninguém gosta de criar currículos. Isto permite melhorar a experiência das pessoas nas organizações e fazer com que elas gostem de trabalhar nas mesmas”.
Mas detetou como grande problema o facto de o mundo estar a mudar a uma velocidade exponencial, e do ser humano não conseguir mudar a essa mesma velocidade, o que provoca uma “incompatibilidade destes dois ritmos”, chamando também a atenção para a forma em como o ser humano se vai adaptar ao fenómeno do ChatGPT. Vera Rodrigues não tem dúvidas que “esta é uma onda que não vai parar. Se cada um de nós começar a pensar quais são as coisas que não gosta de fazer, pode ter aí um trigger sobre aquilo que o ChatGPT pode fazer”.
O impacto na transição energética
Noutro dos painéis em que se debateu a transição energética no contexto da Inteligência Artificial Generativa, o chief data office da Galp, Jorge Afonso, realçou que a inteligência artificial “traz muitos desafios, mas também muitas oportunidades. A analítica e os dados estão a ganhar uma dimensão enorme com a IA, sobretudo a generativa. As organizações portuguesas não estão capacitadas para gerir este tipo de tecnologias e há todo um caminho para chegar a um ponto efetivo para que haja vantagem para os negócios”.
No mesmo painel, o chief strategic office da OMIP (Operador de Mercado Regulado), Ricardo Nunes, destacou que a transição energética “apresenta uma série de desafios e a IA pode ajudar a resolver alguns deles”. O responsável explicou que “temos de ser independentes em termos tecnológicos e a IA pode ser importante nas análises e previsões de consumos, preços, trading, etc. Pode ser fundamental para que a transição energética tenha sucesso. Com uma análise correta dos dados pode haver muitas vantagens para empresas e famílias”.
O Head of Energy Automation and Sustainability da Siemens, Luís Marçal, afirmou que “a Siemens está a ver a IA com enorme responsabilidade”. E também não tem dúvidas que a Inteligência Artificial trouxe grandes desafios a empresas como a Siemens e a outras multinacionais “com o nível de exigência” que coloca. Luís Marçal sublinhou que “temos de perceber como pode aportar valor internamente (eficiência) e como vamos dar valor aos nossos clientes e como é que os projetos podem ser desenvolvidos. A nossa história tem sido feita de abraçar as novas tecnologias, sempre que há um salto, a Siemens está na frente. Procuramos desumanizar algumas tarefas que são repetitivas: coisas que poderiam durar algumas semanas podem ser feitas por alguns segundos. A IA vai-se massificar”.
Durante a sua intervenção, o managing partner da Wiimer, Miguel Moreira da Silva, garantiu que “o sentido de urgência da IA aumentou porque já estamos ao nível da discussão de como conseguimos melhorar o negócio através da IA. Continuam a ser modelos complicados porque nos perguntam já em quantas semanas conseguimos aplicar os modelos”. Miguel Moreira da Silva deixou ainda uma certeza: “Não vai haver uma única indústria que não será impactada”. E destacou vários exemplos de que não haverá nenhuma função dentro de organização que não terá nenhum contacto com esta tecnologia.