As mulheres representam apenas um terço dos licenciados em ciência, tecnologia, engenharia e matemática na Europa, de acordo com o Painel de Avaliação Digital 2021 da Comissão Europeia. A diferença de género afeta igualmente o empreendedorismo, uma vez que as mulheres não representam mais do que 15,5% dos fundadores de startups na UE.
Os dados constam do estudo “The Power of the Ecosystem – Startup Heatmap Europe Report 2021”, da DEEP Ecosystems, baseado numa análise de 20.000 perfis fundadores em 2020 e são apresentados a propósito do Dia Internacional das Mulheres e Jovens na Ciência, que se celebra neste 11 de fevereiro.
A estatística revela igualmente que, além menos licenciaturas em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM), as mulheres também enfrentam obstáculos no acesso ao financiamento.
Na Europa Central e Oriental, uma pesquisa recente mostra que apenas 1% do capital disponível vai para startups com fundadoras femininas, e mais 5% para equipas mistas.
No entanto, os dados mostram também que as fundadoras desta região europeia apresentam uma produtividade superior, ao gerar 96% mais receitas por 1 euro de financiamento, face às startups fundadas por homens.
Interesse que desvanece
De acordo com um inquérito realizado pela Microsoft junto de 11.500 jovens mulheres em 12 países europeus, as raparigas com 11-12 anos estão tão interessadas em temas STEM como os rapazes. No entanto, assim que atingem a faixa etária dos 15-16, esse interesse decresce.
Nessa idade, segundo a OCDE, apenas 5% das raparigas diz esperar ter uma carreira nas áreas de informática ou engenharia, contra 18% dos rapazes. A pesquisa da Microsoft também revela que modelos femininos visíveis espoleta o interesse das meninas em carreiras STEM, bem como uma maior experiência prática e exercícios dentro ou fora do ambiente de aula.
Maioria feminina na saúde
Na saúde, no entanto, as coisas parecem ser diferentes. O EIT Health, uma das maiores parcerias público-privadas da Europa no campo da inovação em saúde, declara que as mulheres constituem a vasta maioria dos profissionais de saúde no continente europeu (entre 70 e 80%).
Na Europa Central, Oriental e Meridional, o rácio de médicos do sexo feminino é mesmo o mais elevado entre os países desenvolvidos. Nos estados bálticos, nos países do Grupo de Visegrado, na Eslovénia e Portugal, a maioria dos médicos são mulheres, ultrapassando a média da OCDE, que é de 49%.
“Embora a experiência profissional das médicas pareça destiná-las à adoção de medidas inovadoras no setor de saúde, o seu ímpeto empreendedor é menos explorado do que o dos seus colegas homens”, indica o EIT Health.
Os últimos anos assistiram a um crescente número de mulheres empreendedoras na área da saúde.
“Observamos três tendências fortes agora. Em primeiro lugar, as mulheres inovadoras nos cuidados de saúde provêm de indústrias mais diversas. Claro que a ciência e a tecnologia são predominantes, e muitas mulheres vêm diretamente dos laboratórios; mas também há licenciadas em ciências sociais. Há muitos papéis diferentes ao nível da inovação dos cuidados de saúde, aos quais as mulheres podem rapidamente adaptar-se. Em segundo lugar, observamos que mais startups são fundadas e/ou lideradas por mulheres. E, em terceiro lugar, há uma onda de discussões sobre o estabelecimento de igualdade de oportunidades para startups lideradas por mulheres, e verificamos que no ecossistema de arranque os venture capitals estão mais abertos a investir em startups lideradas por mulheres”, explica Monika Toth, Diretora do Sistema Regional de Inovação do EIT Health InnoStars, a organização que apoia o desenvolvimento da inovação em saúde.
O EIT Health, que tem vários programas destinados a capacitar as empresárias, um dos quais é um Bootcamp de empreendedorismo feminino que, ao longo de cinco semanas, liga startups de cuidados de saúde que se encontrem em fase de lançamento, lideradas ou colideradas por mulheres, a uma rede de mentores, com vista a fomentar e apoiar o seu rápido crescimento, tem acelerado diversas mulheres empresárias na Europa Central, Oriental e do Sul, nos setores da saúde e da biotecnologia.
Ver para ser, é o mote inspiracional em que a EIT Health aposta
“Destacar as mulheres inovadoras não só é fundamental para as suas próprias start-ups, como também ajuda a gerar um impacto social de maior amplitude na atração de mais mulheres para as STEM e inovação”, sublinha Monika Toth. O portefólio do EIT Health contém vários “líderes influenciadores” que estão a desbravar caminho na inovação em saúde.
Em Portugal, esta parceria destaca o caso de Joana Melo, uma jovem empresária portuguesa que participou em vários programas aceleradores do EIT Health InnoStars.
A sua empresa, a NU-RISE, encontra-se a apoiar os médicos nacionais a desenvolver tratamentos por radiação mais precisos, garantindo uma dose adequada no local certo.
Outro exemplo é Joana Paiva, CTO e cofundadora do iLof. Ao aproveitar a biofotónica e a Inteligência Artificial, a empresa sediada no Porto está a desenvolver uma solução não invasiva para o rastreio de doentes com Alzheimer para ensaios clínicos.
Em 2020, Joana Paiva integrou a lista da Forbes 30 Under 30 Europe na categoria Science & Healthcare, para além de nomeada para o EIT Woman Award.
Na Polónia, a lista das 100 mulheres mais influentes, a cargo da Revista Forbes, inclui Magdalena Jander, PhD, CEO e cofundadora da UVera, vencedora do EIT Health Catapult e dos InnoStars Awards.
Esta startup encontra-se a desenvolver a próxima geração de substâncias protetoras saudáveis e ecológicas, perante todo o espetro da radiação solar UV. Juntamente com a sua equipa, ambiciona uma produção sustentável, que contribua também para a economia circular.
A start-up lituana CasZyme, fundada em exclusivo por mulheres, está, igualmente, a desenvolver ferramentas que melhoram a aplicação de CRISPR (Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats) na pesquisa e desenvolvimento de edição de genes. A ferramenta já é bem-sucedida nos cuidados de saúde, no combate a doenças genéticas e várias formas de cancro, bem como na aceleração de testes COVID-19.
Segundo a Monika Paule, doutorada em ciências sociais e com experiência em desenvolvimento de negócios de alta tecnologia e transferência de tecnologia na indústria da biotecnologia, “precisamos de remodelar a indústria da biotecnologia para termos um impacto positivo em ambos os sexos”.
Uma razão para tal é que as mulheres na indústria de biotecnologia podem ser mais sensíveis aos últimos desenvolvimentos ambientais. De acordo com um inquérito da OCDE, as mulheres tendem a ser mais sensíveis às preocupações ecológicas, mais propensas a reciclar, a comprar alimentos orgânicos e produtos com rótulo ecológico, a envolver-se em estratégias de poupança de água e energia e a utilizar formas de transporte energeticamente eficientes. Isto também pode traduzir-se em ideias sustentáveis mais orientadas para as mulheres.