A portuguesa Inês Bettencourt tem um currículo de meter inveja a muitos no que ao basquetebol universitário norte-americano diz respeito.
“Comecei no basquetebol no Clube União Sportiva aos 7 anos. Participei nas seleções de São Miguel e joguei pelos Açores nas Festas de Albufeira. Em sub-14 participei pela primeira vez na seleção de Portugal. No ano seguinte voltei a participar num torneio como sub-15. Infelizmente, com a covid-19 as seleções foram canceladas. Voltei a ser convocada para os estágios de sub-18 e no segundo ano participei no europeu. Estava tudo planeado para depois do campeonato europeu ir para uma universidade, na Flórida. Entretanto recebi a proposta da UConn que não podia recusar. Após dois anos fantásticos, decidi mudar para a universidade de Gonzaga onde espero ter muitos sucessos”, conta à Forbes.
Para os mais distraídos, Inês jogou durante dois anos na equipa universitária de Connecticut que levou até à WNBA alguns dos maiores nomes da história do basquetebol feminino, como Maya Moore, Sue Bird, Diana Taurasi ou Breanna Stewart. Além disso, foi treinada por Geno Auriemma, um dos melhores da modalidade na opinião de várias jogadoras.
Este ano, a jogadora portuguesa optou por ir atrás de um novo desafio, ainda nos EUA. A Forbes falou com ela sobre a sua experiência até agora e os planos para o futuro.
Como é que surgiu a oportunidade de ires jogar para os Estados Unidos?
Aos 16 anos sonhava ir para os Estados Unidos. Comecei a falar com atletas portuguesas que passaram pelo Sportiva e que estudaram nos Estados Unidos. Tentei saber um pouco mais de como era a vida lá e quais os benefícios de tirar um curso fora de Portugal. Fruto da visibilidade do Europeu sub-18, recebi o convite da UConn.
Estiveste na equipa universitária por onde passaram nomes como Maya Moore, Sue Bird, Diana Taurasi, Breanna Stewart. O que é que estes nomes representam para ti?
Estes nomes representam muito para mim. Ao saber que estas lendas do basquetebol feminino passaram pela UConn, faz com que as atletas queiram ser treinadas pelos mesmo treinadores para obterem bons resultados e aprender muito.
Tens alguma história com alguma delas?
Tenho uma boa memória de quando vi a Sue Bird pela primeira vez. Estávamos no torneio de Thanksgiving, em Portland, e ela apareceu no hotel enquanto estávamos a tomar o pequeno almoço. Uma das minhas treinadoras fez questão de me apresentar e depois começámos a falar sobre o Cristiano Ronaldo, porque na altura estava a decorrer o mundial. E, claro, a história mais importante será sobre quando as jogadoras que ganharam os campeonatos em 2003, 2004, 2013 e 2014 se reuniram todas e foram ver um jogo nosso contra Notre Dame. No dia antes do jogo tivemos um jantar com todas elas no restaurante do treinador, foi muito bom para nós atletas podermos fazer perguntas às grandes referências da UConn.
Qual é o balanço que fazes deste tempo que passaste como jogadora da Uconn?
É um balanço extremamente positivo. Apesar de não ter tido os minutos que desejava, foram dois anos de muitas aprendizagens, tanto com os treinadores com currículos recheados, como com as minhas colegas de equipa. Criei grandes amizades com elas, considero-as como irmãs.
Quais foram as principais coisas que aprendeste com o treinador Geno Auriemma?
O treinador Geno tem muita experiência, sabedoria e um grande QI. Com ele aprendi lições que levo para o resto da vida. Lições dentro e fora do campo, que me fizeram crescer bastante e tornar-me mais madura. Não posso esquecer, também, o quanto aprendi com os restantes elementos da equipa técnica.
Estavas numa equipa que tinha as atenções todas voltadas para ela, primeiro porque é sempre um dos nomes na corrida ao título, mas também porque tinhas a Paige Bueckers como colega de equipa. A pressão foi maior?
A pressão é sempre maior só pelo nome que levamos ao peito. Mas o treinador Geno só recruta jogadoras que ele sabe que irão aguentar a pressão, por isso é que a UConn tem o historial de excelentes jogadoras que chegam muito longe. Quanto à Paige, nunca senti pressão acrescida, pelo contrário, ela sempre me apoiou de forma entusiástica, assim como todas as outras atletas.
Como é que a jogadora europeia é vista nos Estados Unidos?
Hoje em dia a jogadora europeia é muito bem vista, tanto é que cada vez mais as jogadoras europeias estão a ser recrutadas para o basquetebol universitário e WNBA.
Este ano foi especial para o basquetebol feminino, que bateu vários recordes ao longo da march madness. Como foi para ti viver esse momento?
Foi uma experiência única e inesquecível. É uma alegria saber que o basquetebol feminino está finalmente a ser reconhecido e tenho orgulho de fazer parte dessa mudança.
Quais são os teus planos a partir daqui?
Tenciono continuar a trabalhar muito para evoluir o máximo que conseguir enquanto atleta universitária que me permita depois jogar profissionalmente. Fazer parte das seleções nacionais é sempre um grande objetivo.
Quem são as tuas maiores referências?
As minhas maiores referências são as jogadoras que passaram pelo Sportiva nos meus anos de formação, como por exemplo Jhasmin Player, Joana Soeiro, Josephine Filipe, Simone Costa e Inês Viana, que não passou pelo Sportiva, mas sempre foi uma referência.
E a tua maior ambição como jogadora?
Antes a minha maior ambição era chegar à WNBA. Agora, sabendo o quão difícil é chegar a esse nível, pretendo continuar a trabalhar. Se não o alcançar, jogar nas melhores ligas europeias será a alternativa.