Depois de, em março de 2023, o Iscte Executive Education ter apresentado o estudo “O impacto social e económico da indústria de tabaco em Portugal”, que, pela primeira vez, lançou luz sobre um setor produtivo historicamente relevante para a economia portuguesa desde o século XVI, a instituição de ensino regressou ao tema para aprofundar o conhecimento sobre uma indústria que, nem todos saberão, tem em Portugal uma vocação eminentemente exportadora e é um dos maiores contribuintes do Estado.
No retrato feito a um setor controverso pelas implicações que o consumo do tabaco tem para a saúde, o Iscte Executive Education destaca o facto deste setor se posicionar como um dos principais pivôs da indústria transformadora portuguesa: num universo de empresas transformadoras (67.252 empresas), os seus operadores industriais ocupam a segunda posição em termos de volume de negócios médio, logo depois das empresas do setor petrolífero. Adicionalmente, o volume de negócios médio das empresas de tabaco (€254 milhões) é 87 vezes superior ao das empresas dos diversos setores da indústria transformadora nacional (€2,92 milhões).
Segundo os dados compilados, o setor impacta diretamente mais de 3.000 trabalhadores, “num universo total de 50.000 pessoas impactadas em todo o território português, dada a capilaridade da sua rede comercial, que chega a todos os concelhos do país”.
O impacto social originado neste setor de atividade é sentido de forma diferente, quando considerada a referência geográfica onde cada uma das empresas do setor se encontra. Em Portugal Continental, os trabalhadores impactados representam quase 0,9% da população ativa do Continente. Na Região Autónoma dos Açores, a percentagem de população ativa impactada pelo setor do tabaco atinge 1,92%, enquanto na Região Autónoma da Madeira alcança 1,14% da população ativa madeirense.
Quatro fábricas em Portugal
Esta distribuição está relacionada com a implantação geográfica dos três grupos empresariais dedicados à indústria do tabaco (a Fábrica de Tabaco Micaelense, a Empresa Madeirense de Tabacos e a Tabaqueira, subsidiária portuguesa da Philip Morris International/PMI e que representa 93% do valor gerado pela indústria de tabaco em Portugal), que contam com quatro unidades fabris distribuídas pelo território Continental (1) e pelas Regiões Autónomas dos Açores (2) e da Madeira (1).
Esta indústria está a operar uma transformação, trabalhando para deixar para trás os cigarros e focando-se nos novos produtos de tabaco.
José Crespo de Carvalho, Presidente da Comissão Executiva do Iscte Executive Education, afirma: “Na nova edição deste estudo, quisemos estudar em maior detalhe a componente das pessoas, por se tratar de uma indústria que sendo muito antiga e histórica, com mais de cinco séculos em Portugal, está agora a operar uma transformação importante, trabalhando para deixar para trás os cigarros e focando-se nos novos produtos de tabaco. Nesse sentido, quisemos perceber como se está a preparar para o futuro, por forma a garantir a competitividade num contexto global mais competitivo e a sua manutenção enquanto motor das exportações portuguesas. E o que vemos é uma indústria que está a saber reinventar-se. Isso é particularmente visível, naturalmente, naquele que é o grande operador deste setor, a Tabaqueira. Para um setor que tem demonstrado uma grande resiliência e muito dinamizador da economia portuguesa, essa capacidade de fazer diferente e ter uma visão com base na inovação e na sustentabilidade é vital”.
Peso da Tabaqueira
Relativamente à Tabaqueira, que foi quem solicitou este estudo, as suas exportações praticamente atingiram o patamar dos €830 milhões, em 2023, reforçando a sua posição no Top 10 das maiores exportadoras nacionais e contribuindo para o saldo da balança comercial portuguesa (+ €539 milhões). A empresa também aumentou a sua contribuição para o Valor Acrescentado Bruto da economia nacional (€185 milhões) e para as receitas fiscais entregues ao Estado (que atingiram €1,27 mil milhões no ano passado).
Analisando a subsidiária portuguesa da PMI, que desde 2017 duplicou o número de trabalhadores, “constata-se uma evolução no perfil do novo emprego”, salienta o Iscte, em grande parte motivado pelo investimento da multinacional em Portugal, que localizou em Sintra, na sede da Tabaqueira, três Centros Operacionais de Excelência que vendem serviços a diversos mercados mundiais – um dedicado às Operações, outro financeiro (Planning, Budgeting, Forecasting & Report) e um pólo tecnológico (Platform Engineering Hub). Igualmente, a PMI instalou em Portugal diversos Departamentos Globais de Finance, Marketing & Sales e de Services.
Ao todo, estes centros empregaram, em 2023, praticamente quatro centenas de trabalhadores qualificados – número que cresceu cerca de 60% nos últimos dois anos e que permitiu alimentar o aumento das exportações de serviços de elevado valor acrescentado pela Tabaqueira, que, no ano passado, atingiram €52 milhões de euros e representaram 6% do total das vendas ao exterior da empresa.
A partir de Sintra, a Philip Morris International opera o segundo maior IT Hub mundial do Grupo.
Marcelo Nico, Diretor Geral da Tabaqueira, refere: “A Tabaqueira, por via da sua casa-mãe, a Philip Morris International, tem investido de forma muito comprometida em Portugal, num total de €418 milhões de euros desde 1997. Uma parte muito relevante deste investimento tem sido canalizada para a instalação destes centros e departamentos globais. Por exemplo, é a partir de Sintra que opera o segundo maior IT Hub mundial do Grupo, responsável por apoiar global e transversalmente na operação, produção e comercialização dos seus produtos. A dinâmica entre os diversos centros e departamentos globais permite concretizar a transformação do nosso negócio, posicionando-nos como uma empresa tecnológica, que investe na inovação e aposta em serviços de alto valor. Enquanto empresa, permite-nos encarar com otimismo o futuro, na certeza de que estamos a contribuir para transformar este setor, mantendo o foco nas exportações e na competitividade industrial.”
A segunda edição do estudo “O impacto económico e social da indústria de tabaco em Portugal” foi apresentado esta segunda-feira na conferência organizada pelo Iscte Sintra – “Sintra do Futuro: Talento, Competitividade e Inovação”, onde se debateram os desafios da qualificação do talento jovem e o papel das universidades na garantia da competitividade das indústrias e do crescimento económico.