A indústria de pagamentos sofreu uma quebra de 2,5% de 2019 para 2020, um impacto menor do que o previsto face à crise causada pela COVID-19. Feitas as contas, prevê-se que o total de receitas possa chegar aos 2,9 biliões de dólares (original: 2,9 trillion dollars; ou seja 2,5 biliões de euros) até 2030, de acordo com o novo relatório da Boston Consulting Group (BCG), intitulado “Global Payments 2021: All In for Growth”.
Explica a BCG que o impacto foi menor devido às “soluções encontradas pelo setor para responder rapidamente aos desafios colocados pela pandemia, especialmente através da aceleração de transformações como a capacitação do e-commerce e a conversão de dinheiro em não numerário”.
Neste contexto, uma consequência a curto prazo será previsivelmente a entrada de novos players no mercado, potencialmente acelerando ainda mais esta inovação, anteveem estes especialistas.
As receitas de aceitação de pagamentos (acquiring) continuam a ser a área de mais rápido desenvolvimento no setor e, após um aumento de apenas 2,2% entre 2019 e 2020, a estimativa é que voltem a uma taxa de crescimento anual composta de 11,3% nos próximos cinco anos, aproximando-se da sua taxa média em período pré-pandémico de 11,8%.
Após duas décadas de forte desenvolvimento no setor bancário, as fintech estão a entrar numa fase de amadurecimento.
“Contudo, persistem desafios como as variações na rentabilidade entre segmentos e o aumento do comércio eletrónico, que irá desacelerar as transações no ponto de venda físico. Estas dinâmicas deverão levar a uma maior desintermediação, especialmente quando fornecedores de software integrados e os comerciantes online incorporam capacidades de pagamento nas suas plataformas”, adverte a BCG.
Sobre a emissão de cartões (issuing), prevê-se que este mercado apresente um forte desempenho, com receitas a aumentar 7,6%, de 2020 a 2025, próximo da taxa de crescimento anual composta de 9,4%, nos cinco anos anteriores à pandemia.
Refere a BCG que “os impulsionadores deste cenário poderão ser, entre outros, o sucesso do segmento ‘compre agora, pague mais tarde’ (‘buy-now-pay-later’) e uma maior vontade dos fornecedores de software integrados e fintechs em estabelecer parcerias com processadores de cartões da próxima geração”.
O estudo identifica ainda que, embora as receitas de pagamentos wholesale (caso dos pagamentos interbancários) tenham diminuído 22 mil milhões de dólares (original: 22 billion dollars, algo como 19 mil milhões de euros) entre 2019 e 2020, devido às baixas taxas de juro e a um declínio nas despesas das empresas, a sua recuperação deverá ser rápida, com um crescimento expectável de 6,6% até 2025.
“Será expectável também o surgimento de uma nova onda de fintechs centrada nos pagamentos com criptomoedas, bem como no financiamento descentralizado”, perspetiva a BCG.
O relatório indica também que, após duas décadas de forte desenvolvimento no setor bancário, especialmente nos pagamentos, as fintech estão a entrar numa fase de amadurecimento e irão agora definir estratégias para crescer num espaço cada vez mais ocupado e desenvolver elementos como o compliance e gestão de risco. “Será expectável também o surgimento de uma nova onda de fintechs centrada nos pagamentos com criptomoedas, bem como no financiamento descentralizado”, perspetiva a BCG.
“A pandemia impulsionou a inovação, o surgimento de novos players e a adoção de novas soluções por parte dos comerciantes e setor bancário, o que fez com que a indústria de pagamentos fosse um facilitador da recuperação económica. Só em Portugal, em 2020, verificou-se um crescimento de 66% nas receitas geradas no e-commerce, mais 41 p.p. que o aumento sentido em 2019, segundo o estudo “O Caminho para um Portugal Biónico: A maturidade digital do tecido empresarial em Portugal”, afirma Pedro Pereira.
Para o managing director e partner da BCG, “perante um cenário cada vez mais competitivo, as empresas que terão mais sucesso nos próximos cinco anos serão aquelas que mais rápido se adaptarem a esta nova realidade e aproveitarem as oportunidades que estão a surgir”.
Tendências globais para os próximos anos
A consultora identifica no relatório tendências globais que podem dominar o setor dos pagamentos nos próximos anos: integração de soluções de software especializado, desenvolvido pelas grandes tecnológicas e pelas fintech, e um envolvimento mais ativo dos bancos; consolidação da indústria e de fusões e aquisições; aceleração da atividade da moeda digital e a emissão de mais moeda por parte dos bancos centrais; promoção de uma agenda de banca aberta por parte dos reguladores de pagamentos e melhoria das infraestruturas de pagamentos.
Estima a BCG que todas as regiões do globo deverão registar um crescimento anual nos próximos cinco anos, com a Ásia-Pacífico a continuar a liderar com 8,8%, seguida pela América Latina com 8,3%, Médio Oriente e África com 6,9%, América do Norte com 5,8%, e Europa com 5,3%.