A indústria automóvel está em ebulição há alguns anos. A onda de dificuldades da indústria – pelo menos na dos veículos tradicionais – começou pela transição energética, que mobilizou a indústria na aguerrida competição pelo segmento dos veículos elétricos, continuou em maré baixa com os constrangimentos logísticos provocados pela pandemia e está agora a enfrentar a chamada guerra das tarifas.
Um recente estudo da Credit Y Caucion, marca de seguros de crédito interno e de exportação, prevê que que a produção mundial de veículos automóveis e peças registe uma contração de 1,7% em 2025, e de 2,1% em 2026, à medida que as tarifas de importação impostas pelos EUA atingem o setor. Segundo este relatório, apesar de uma pausa anunciada pela Casa Branca no final de abril, as tarifas de 25% dirigidas às importações automóveis irão perturbar as cadeias de abastecimento regionais e globais, com o devido impacto nos custos dos componentes e materiais importados.
As consequências serão sentidas não apenas nos Estados Unidos, como em outras regiões do globo, já que, por exemplo, os componentes atravessam várias vezes as fronteiras entre os EUA, o México e o Canadá para a produção de um veículo. Isso deixa os fabricantes que operam na América do Norte expostos a riscos significativos a curto e médio prazo. Mas não só.
Globalmente, o setor enfrenta ainda outros desafios, como o fator demográfico. Com uma população cada vez mais envelhecida haverá uma diminuição da procura futura.
Em 2024, o Japão, a Coreia do Sul e a Alemanha eram os principais fornecedores de automóveis aos EUA, depois do México e do Canadá, em termos de veículos acabados e peças. O relatório estima que os fabricantes de equipamento original (OEM) e os produtores de peças automóveis sediados nestes mercados sejam afetados de forma significativa.
Globalmente, o setor enfrenta ainda outros desafios, como o fator demográfico. Com uma população cada vez mais envelhecida haverá uma diminuição da procura futura. Por outro lado, enquanto os veículos elétricos estão a ganhar presença no mercado, os fabricantes de motores de combustão tradicionais estão a ser forçados a reorientar a sua produção para evitar o encerramento. De acordo com o estudo da Crédito y Caución, estima-se que as vendas de veículos elétricos atinjam 59% das vendas totais até 2030.
Produção na União Europeia volta a cair em 2025
O mesmo estudo avança que, depois de uma diminuição de 5,1% em 2024, a produção automóvel na União Europeia e Reino Unido volta a contrair este ano, com uma quebra prevista de 3,7%. “O desempenho económico na Europa permanece moderado e as compras de veículos novos são suscetíveis de se manterem deprimidas nos próximos
meses, à medida que os consumidores adiam as despesas com artigos de grande valor. Em 2026, prevê-se apenas uma modesta recuperação de 0,4%”, pode ler-se no documento. Além disso, como as indústrias fornecedoras dependem das estratégias dos fabricantes automóveis, também as suas perspectivas de negócio diminuíram. Redução das margens de negócio, aumento nos atrasos de pagamentos e insolvências afetarão mercados como a Alemanha, a Itália e o Reino Unido. Também o abandono da produção de motores de combustão interna terá impacto na estrutura do setor, que se está a remodelar na Europa, e tendo em conta essa alteração, muitos fornecedores podem não ter meios tecnológicos ou financeiros para subirem na cadeia de valor e poderão ter de abandonar o mercado.
Outra ameaça ao mercado europeu é a China, onde os fabricantes oferecem modelos mais baratos e tendem a ser mais rápidos na adaptação às condições do mercado.
A indústria automóvel alemã e italiana, bem como as cadeias de abastecimento dos países da Europa Central e Oriental, como a República Checa e a Eslováquia, são as mais ameaçadas. Nesse sentido, espera-se que as exportações de automóveis alemães e italianos possam diminuir mais de 5% em 2025 como resultado das tarifas norte-americanas. Na Europa, os países com maior nível de risco serão a Áustria, a Bélgica, a França, a Hungria e a Suíça. Com um nível elevado destacam-se a República Checa, a Alemanha, a Itália, a Polónia, a Eslováquia, a Turquia, o Reino Unido e Portugal.
Outra ameaça ao mercado europeu é a China, onde os fabricantes oferecem modelos mais baratos e tendem a ser mais rápidos na adaptação às condições do mercado. Para proteger a indústria automobilística local, a União Europeia impôs tarifas sobre as importações chinesas de veículos elétricos. Por um lado, esta medida poderia ajudar a reduzir o dinamismo das importações chinesas, mas também poderia acelerar os planos dos fabricantes chineses de transferir a produção para a Europa.