Os incidentes de cibersegurança registados pela Equipa de Resposta a Incidentes de Segurança Informática Nacional (CERT.PT) diminuíram 38% no primeiro trimestre em termos homólogos, mas ficaram 28% acima do último trimestre de 2022.
Os dados constam da quarta edição do “Relatório Cibersegurança em Portugal – Riscos & Conflitos” do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), referem que o número de incidentes de cibersegurança registados pelo CERT.PT recuou de 754 registos no primeiro trimestre de 2022, para 470 de janeiro a março de 2023.
Mas os autores do relatório realça que “este valor representa uma subida de 28% relativamente ao último trimestre de 2022, no qual se registaram 366 incidentes”.
Numa avaliação ao total do ano de 2022, face a 2021, os incidentes de cibersegurança registados pelo CERT.PT aumentaram 14%, de 1781 para 2023, mantendo a trajetória ascendente dos anos anteriores.
Ainda assim, o CNCS destaca que se tratou do “crescimento mais baixo de sempre, de apenas 14%, quando na maioria dos restantes anos se registaram crescimentos entre os 20% e os 26%, à exceção de 2020, ano do início da pandemia de covid-19, em que se contabilizaram mais 88% de incidentes face a 2019””.
De acordo com o CNCS, a leitura deste abrandamento do crescimento “não deve ignorar o facto de o número de incidentes ter vindo a aumentar de ano para ano de forma cumulativa, representando um efetivo incremento deste tipo de problema no ciberespaço de interesse nacional”.
No ano passado, dois terços dos incidentes registados afetaram entidades privadas e um terço entidades públicas, tendo os setores e áreas governativas com mais ocorrências registadas sido a banca (sobretudo clientes), com 19% do total e um aumento de 32%, seguida das infraestruturas digitais (7%) e da educação e ciência, tecnologia e ensino superior (7%).
Ainda de acordo com o mesmo documento, o ‘phishing’ (‘emails fraudulentos) e o ‘smishing’ (SMS fraudulentos) representaram 37% do total de incidentes, seguindo-se a engenharia social, com 14%, e a distribuição de ‘malware’ (‘software’ nocivo), com 11%.
O relatório conclui que as marcas da banca (59% do total), dos transportes e logística (17%) e dos serviços de ‘email’ e outros (17%) são as mais simuladas nos ataques de ‘phishing’ e ‘smishing’ registados pelo CERT.PT em 2022, tal como já aconteceu em 2021.
Já a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) contabilizou, em 2022, 376 violações de dados pessoais, mais 15% do que no ano anterior, sendo que cerca de 80% das entidades que notificaram violações eram privadas, sobretudo do comércio e serviços (28% dos casos), banca e seguros (15%) e saúde (11%).
O ‘ransomware’ foi a origem mais frequente para os incidentes de violações de dados notificados à CNPD (30% do total e uma subida de 57% face ao ano anterior), seguido da falha humana (22%) e das falhas aplicacionais (13%).
No que se refere aos crimes informáticos (Lei do Cibercrime) registados pelas autoridades policiais, aumentaram 48% em 2022, enquanto a burla informática/comunicações (não registada entre os crimes informáticos, mas relacionada com a informática) decresceu 2% (mas devido sobretudo a alterações metodológicas, caso contrário, teria crescido, nota o relatório).
A burla informática/comunicações é o crime relacionado com a informática mais registado pelas autoridades policiais em 2022, com 20.901 registos, sendo que o crime estritamente informático mais registado foi o acesso/interceção ilegítimos, com 1.012 registos, mais 60% do que no ano anterior (dados da Direção-Geral da Política de Justiça – DGPJ).
Os dados compilados pelo relatório do CNCS apontam ainda que a Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (UNC3T) da Polícia Judiciária abriu mais 6,7% de inquéritos em 2022 do que em 2021, destacando-se o branqueamento de capitais, a ‘sextortion’ (extorsão de dinheiro em troca da não divulgação de imagens de cariz sexual) e o ‘ransomware’ (‘software’ nocivo usado para bloquear dados de computadores e servidores e usado por ‘hackers’ para exigir resgates) como os crimes com mais impacto entre os inquéritos abertos.
O Gabinete de Cibercrime da Procuradoria-Geral da República (PGR) registou, também no ano passado, 2.125 denúncias, mais 83% do que no ano anterior, sendo o ‘phishing’ e diversos tipos de burlas ‘online’ os tipos de criminalidade mais denunciados.
Lusa