Dona das marcas como a Lavoro, a No Risk e a Portcal, todas na área do calçado técnico e de segurança, a ICC – Indústrias e Comércio de Calçado, sediada em Guimarães está a realizar fortes investimentos para conseguir duplicar o seu volume de negócios, aumentando a sua capacidade de produção. Este crescimento só será possível graças ao incremento das exportações. Atualmente presente em mais de 50 países, as vendas externas representam cerca de 80% dos atuais 22 milhões de euros de faturação do grupo do norte, mas deverão ter um peso maior em poucos anos.
Teófilo Leite, engenheiro mecânico de formação e atual CEO, fundou a empresa em 1986 quando decidiu que estava na hora de enveredar por um negócio próprio. “A minha formação em engenharia conduziu-me precisamente a adotar este ramo específico do calçado tecnológico, regulado por normas. Ou seja, trata-se de tudo o que seja calçado para atividades industriais, mas também para as florestas, resistentes a cortes de motosserra, e para atividades militares de segurança e policiais”, explica o fundador.
Já são três os filhos do fundador presentes no negócio familiar, que detém 50% da empresa, uma motivação extra para continuarem ligados ao património da família.
Atualmente já três dos seus seis filhos estão envolvidos no negócio e detém cerca de 50% do mesmo, pois este envolvimento acionista “permite assegurar o desenvolvimento do negócio, com protocolos de família que regulam a família na empresa para que não haja surpresas e se possa olhar para o futuro de uma maneira tranquila”, afirma Teófilo Leite.
A principal marca do grupo é a Lavoro, calçado ainda mais técnico, que é distribuído através de uma rede de distribuidores de equipamentos de proteção individual que fornecem equipamentos de proteção da cabeça aos pés para a indústria. “Temos na Lavoro um serviço importante, que resulta do que desenvolvemos no nosso Foot Science Center, onde trabalham “futorologistas”, engenheiros biomédicos, que acabam por dar apoio e consultoria às grandes empresas que necessitam de calçado de segurança”, explica o CEO. No SPODOS – Foot Science Center, que trabalha em parceria com centros de investigação e universidades, são feitos estudos que incidem sobre uma faixa de 3% a 5% de trabalhadores que têm problemas nos pés, havendo consultoria especifica para este tipo de trabalhadores, tendo-os sempre protegidos com calçado adequado.
Inovação faz parte do seu ADN
A inovação é um aspeto fundamental nas marcas da ICC, sobretudo da Lavoro. A No Risk e a Portcal estão mais no segmento do calçado de calçado de trabalho, mas com componente de moda e estão presentes na distribuição moderna. A Lavoro é a que mais usufruiu da Investigação e Desenvolvimento (I&D) feita dentro e fora de portas. “Problemas como pés mais disformes, trabalhadores com uma perna mais comprida, que necessitem de uma sola mais alta, solas adaptadas, ou calçado próprio para trabalhadores com doenças, como a diabetes, ou insensibilidade nos pés, são todos soluções que disponibilizamos aos nossos clientes”, refere Teófilo Leite.
A inovação é uma constante neste negócio, e uma das vertentes do mesmo é dar apoio às necessidades das empresas suas clientes em termos de calçado específico para quem tem problemas de pés.
Um dos exemplos que o responsável destaca é sua participação no projecto Augmanity, projecto mobilizador que movimentou perto de 10 milhões de euros, e foi promovido pela Bosch Aveiro. “Participamos na área do calçado, com o objectivo de desenvolver calçado que permita melhorar as condições de trabalho dos colaboradores, como por exemplo, como determinar a temperatura do pé, a humidade, a pressão plantar, etc.”, refere Teófilo Leite. Com mais de 20 empresas participantes, o investimento da ICC rondou os 400 mil euros.
A empresa terá terminado o ano de 2023 com cerca de 22 milhões de euros de faturação e tem vindo a investir continuamente para melhorar o seu negócio. Atualmente está num ciclo de investimento que ronda o cinco milhões de euros – três milhões já realizados na unidade industrial da Póvoa de Lanhoso onde já instalaram novos equipamentos produtivos. “Estes investimentos que temos vindo a fazer colocam-nos no objetivo de estar nos 40 milhões de euros nos próximos três anos. Estamos convencidos que vamos aumentar a nossa capacidade de produção, com novas ofertas, novas soluções, a produção robotizada. Por outro lado, vamos apostar no reaproveitamento de desperdício para produção de solas, que são fatores determinantes para poder dar resposta diferenciadas no mercado”, explica o líder da empresa.
O investimento de 5 milhões de euros vai permitir que a empresa cresça consideravelmente as suas vendas, sobretudo para mercado externos
A empresa registou, por exemplo, uma patente que incide sobre um sistema exclusivo da Lavoro, o Clima Cork System, através do qual é feita a integração de cortiça no calçado. Esta solução permite melhorar o regulamento térmico, e melhorar o sistema de apoio do pé, aumentando superfície de contacto, através da inclusão de uma camada isolantes de cortiça entre a sola e a palmilha. Ou seja, a cortiça permite a criação de uma espécie de “impressão digital” do pé, favorecendo a sua adaptação ao sapato, contribuindo para a redução da fadiga ao fazer uma distribuição mais uniforme do peso. “Com a nova tecnologia das máquinas que estamos a instalar, podemos passar com mais facilidade para um novo sistema de clima cork system. Ora isto só é possível com esta nova geração de equipamentos que nos permite abordar o mercado com diferenciação de produtos”, explica o CEO.
Unidade industrial em crescimento
Também a unidade de Guimarães vai ser alvo de melhorias, sendo feita uma reformulação das instalações de forma a que passe dos atuais 5 mil metros quadrados para 10 mil metros quadrados, permitindo uma melhor utilização do espaço e permite ter novos equipamentos muitos deles à semelhança do que foi feito na Póvoa de Lanhoso. Será ainda feita uma aposta significativa naquilo que é o corte automático, a costura robotizada, e a injeção de reaproveitamento dos desperdícios. Boa parte deste investimento diz respeito à produção de energia, com a instalação de um parque solar que permite uma autonomia energética de 50%. “Toda a cobertura das novas instalações será feita com painéis solares que conduz a este resultado”, explica Teófilo Leite.
Um das apostas é a independência energética, já que a ICC está a instalar painéis solares nos textos das unidades industriais, tendo já uma produção que alimenta 50% das suas necessidades.
O grande mercado da ICC, sobretudo da marca Lavoro, são os países que já têm exigências legais quanto à higiene e segurança no trabalho. Países menos desenvolvidos, são menos utilizadores destes equipamentos. A Europa é assim um importante destino deste calçado, mas exportam ainda para alguns países do Médio Oriente, Ásia e Austrália. “Os Estados Unidos é um país que estamos também a considerar, tal como o Canadá e a América do Sul, que é menos exigente, mas também está no nosso radar”, remata o CEO.