Como são modestos não assumem abertamente aquilo que os fãs vão dizendo um pouco por todo o lado: a Hybrid Theory é a melhor banda do mundo de tributo aos Linkin Park. Anuem, porém, que levam este projeto muito a sério e que trabalham continuamente para aperfeiçoar o seu espetáculo. “Esse título não é dado por nós, mas sabemos o trabalho que temos feito e isso traz-nos resultados. Como conseguimos avaliar esses resultados, sabemos que somos bons. Trabalhamos muito: ensaiamos todos os dias das 11 horas da manhã até às 5 horas da tarde”, explica Miguel Martins, guitarrista e manager da banda formada em Lagos. Já Ivo Rosário, vocalista – que faz as delícias do público pela incrível semelhança com o falecido Chester Bennington -, afirma que “Agarramos isto como um emprego normal de oito horas diárias. O nosso trabalho não começa só quando pisamos o palco”.
Apesar de todo o empenho que colocam naquilo que fazem, ainda lhes custa a acreditar a dimensão que o projeto, nascido em 2017, apenas alguns meses após a morte do líder da banda norte-americana, alcançou em pouco tempo. “Fui tudo em bola de neve, não conseguimos explicar bem como aconteceu”, assume Miguel Martins, gracejando que os pedidos foram surgindo “out of the blue”. Quando recebeu o primeiro convite para darem um concerto no Altice Arena – atualmente MEO Arena – riu-se e não levou a sério: “Não somos uma banda que encha assim uma sala dessa dimensão”. Só à terceira vez aceitou a proposta, tendo esgotado o pavilhão em abril de 2023. Daí a aparecerem no Palco Galp do Rock in Rio foi um pulinho.
A história de um sonho
A Hybrid Theory – nome do álbum de estreia dos Linkin Park, editado em 2000 – nasceu no final de 2017 com uma missão: juntar algum dinheiro para comprar equipamento extra para a banda de originais que tentavam criar na altura, os Zeroh. Algum tempo antes, Miguel Martins fizera um casting para este projeto e Ivo Rosário fez a sua audição a cantar Linkin Park. Os elementos da altura ficaram impressionados, acabou por ser o escolhido, mas nem por isso avançaram logo com a ideia de um tributo: queriam mesmo tocar originais e já tinham vários temas prontos a lançar. “Quando finalmente decidimos arrancar com o tributo não tínhamos nada, na minha cabeça nem seria possível reproduzir isto da forma que estamos a fazer hoje. Aliás, fui das pessoas que mais se opôs a fazê-lo porque tecnicamente achava que não era possível”, admite Miguel Martins. Hoje tem dificuldade em acreditar como alcançaram tanto em tão pouco tempo. Além de Miguel Martins e Ivo Rosário, fazem ainda parte da banda mais quatro elementos: Pedro Paixão, vocalista, que faz a voz de Mike Shinoda, Nuno Bernardo, baixista, Diogo Neuparth, baterista, e Daniel Pimenta, DJ.
O primeiro concerto aconteceu em janeiro de 2018, no bar Bafo de Baco, em Loulé e não podia ter corrido melhor. Na semana seguinte marcam outro em Portimão e os bilhetes esgotaram em duas horas, sendo que tiveram de marcar outra data. Rapidamente agendaram outros, tendo realizado cerca de 30 nesse ano, incluindo alguns nos Açores. No ano seguinte surge o convite para sair de fronteiras e acontece o primeiro concerto na Alemanha, seguindo-se uma proposta para fazer o tour na Austrália.
A pandemia veio complicar a agenda, mas nem mesmo assim pararam. “A seguir à pandemia, em maio de 2022, voltamos à Semana Académica do Algarve, e colocamos um dos vídeos desse concerto no Youtube. Este tornou-se viral, com dois milhões de visualizações. E isso mudou tudo”, explica Miguel Martins. Foi aqui que começaram a receber mais contactos para concertos já com outra dimensão. “A partir daí pensámos: se calhar isto é mesmo para manter, e começámos a pensar no aspeto mais visual do espetáculo, com componentes de vídeo e multimédia, e não só no musical, para podermos dar às pessoas uma experiência que infelizmente já não é possível ter por parte da banda original”, afirma Ivo Rosário.
Quando aceitaram o desafio para fazerem um concerto no Altice Arena, as coisas começam mesmo a mudar: era necessário ter uma equipa maior, devido à exigência do espetáculo. Assim, o pequeno grupo de seis, sempre acompanhado pelo técnico de som, passou a uma equipa de 15. Toda a experiência de luzes e imagem foi devidamente trabalhada, elevando o nível da apresentação.
Inicialmente mantinham este projeto em paralelo com as suas atividades profissionais, mas a partir do momento em que se tornaram virais perceberam que era impossível compatibilizar as duas coisas e teriam de dedicar o seu tempo integralmente à banda. “Quando o vídeo ficou viral percebemos que a banda tinha crescido a um nível superior, e nem tivemos um tempo de adaptação, foi assim, de repente”, explica Miguel Martins.
De cachets não falam ainda. Dizem que não trabalham para os “cifrões”, mas porque têm gosto no que fazem, mas “obviamente que o cachet é maior agora, é à escala, não podíamos continuar a receber 50 euros cada um por concerto”, graceja Miguel Martins.
Como se constrói uma banda de tributo
A receita, dizem, é trabalhar muito. “São muitas horas a trabalhar, em frente ao computador, no estúdio, a estudar, a gravar e a ouvir para perceber se está a soar igual. Estudamos todos os vídeos que há de Linkin Park, como tocam ao vivo, como fizeram no estúdio, tudo o que pudermos recolher para que nos possa ajudar a passar uma boa experiência para quem nos vê. Ainda demorámos alguns meses até que tudo ficasse sólido e consistente”, explica Ivo Rosário.
Questionado sobre a parte dos direitos de autor e da relação com a banda original, Miguel Martins refere “esta foi a parte mais simples, porque não há nada para tratar: os direitos de autor funcionam como qualquer outra banda de covers, o promotor do espetáculo é responsável por pagar todos os direitos de autor, os royalties e licenças às entidades responsáveis, e fazer chegar a respetiva percentagem à banda original. Portanto, eles também estão a ganhar connosco.” Infelizmente, a banda portuguesa não tem qualquer contacto ou feedback dos Linkin Park, apesar de já o terem tentado algumas vezes.
Em relação às tours que já realizaram, revelam que os melhores concertos foram na Índia, onde já foram duas vezes. “A banda é muito grande na Índia. Pousamos no aeroporto e já temos a comunicação social à porta. É o país onde há mais loucura à nossa volta”, refere Ivo Rosário. “O primeiro concerto na Índia foi ao nível do Woodstock, íamos dar um concerto para 800 pessoas e chegámos lá tínhamos um estádio de críquete esgotado. Não fazemos ideia quantas pessoas tinha”, revela Miguel Martins divertido.
Quanto ao futuro da banda, afirmam estar tudo em aberto. Se enveredam por originais ou se se mantêm assim, tudo pode acontecer. “Mas claro que dar um concerto no Rock in Rio tem um peso muito grande, representa outra responsabilidade, e obviamente que pode abrir outras portas, mas não queremos antecipar o futuro”, remata Miguel Martins.