A Huub percebeu rapidamente as necessidades de um mundo em constante mutação e de um universo em que as marcas estão consistentemente em competição. Gerir a operação entre o fornecimento da mercadoria até à porta do cliente – ou seja, apostar na logística – está a revelar-se, até agora, um tiro certeiro.
Totalmente focada na gestão da cadeia de abastecimento, a empresa criada em 2015, quer permitir que cada marca se dedique em exclusivo ao “desenho da sua colecção e em vender”, explica à FORBES Luís Roque, co-fundador e director-executivo desta start-up do Porto. Foi precisamente a norte que falámos com ele, na sede que pudemos visitar.
A Huub trabalha maioritariamente com marcas de moda infantil e é responsável pela cadeia como um todo. Gere os cinco canais de venda – retalho, e-commerce, market place, lojas próprias e franchising – e não se limita ao fluxo físico, mas também ao fluxo de informação além de dar suporte à marca.
A operação começa no fornecedor e só termina na porta do cliente, e está toda desenhada para ser rápida. Muito rápida. E eficiente. A título de exemplo: uma marca realiza vendas em feiras internacionais através de amostras da colecção. Após cerca de seis meses – e depois de, com os fornecedores, estarem acertados todos os requisitos para permitir que a mercadoria seja comercializada na Europa – os materiais chegam a Portugal ou à Holanda, os dois hubs da empresa nacional. “É a partir daqui que é feito o fulfilment de todos os canais da marca”, explica Luís.
Luís Roque conta que rapidamente consegue ter produtos a serem entregues no centro da Europa: “em 24 horas foi processado, saiu e chegou ao cliente”, garante.
As entregas são realizadas através dos oito parceiros de transporte. O grande responsável pela velocidade da operação é o “algoritmo de machine learning” desenvolvido pela Huub – o Order2Box – que determina previamente que caixas serão utilizadas para quê.
Desta forma, as encomendas são abastecidas diretamente assim que se dá a recepção da mercadoria, possibilitando que a zona de encomendas do armazém esteja em constante rotação. Luís conta que rapidamente consegue ter produtos a serem entregues no centro da Europa: “em 24 horas foi processado, saiu e chegou ao cliente”, garante.
Toda a operação da Huub está centrada no Spoke, a plataforma criada pela empresa que “permite a gestão integrada e colaborativa da totalidade da cadeia de abastecimento” de cada marca.
Contam com parceiros como a transportadora UPS ou o operador logístico Damco e é através dela que se trabalha a gestão de fornecedores, encomendas, fluxo de mercadoria, gestão do armazém, distribuição, entre outras coisas. Após a encomenda abandonar os armazéns, o Spoke permite, através de “infra-estrutura de tracking seguida tanto pelas marcas como pelo cliente final”, que não se perca de vista nenhum produto.
Talento e trabalho em equipa
Tudo começou com a marca alemã Noé & Zoë, a primeira cliente, mas foi com a marca de roupa infantil Wolf & Rita, outro importante utilizador da Huub, que falámos recentemente. Sónia Rocha, responsável de vendas da empresa, afirma que a Huub tem “uma abordagem mais completa ao produto e ao serviço que presta”.
Oferecem algo que, segundo ela, mais ninguém oferecia no mercado: “veio trazer-nos a possibilidade de fazer o envio das encomendas para todo o mundo, com preços muito competitivos, e fazer também o acompanhamento das vendas on-line”. Mais até, porque outra das competências da empresa é a logística inversa. Ou seja, em caso de necessidade de trocas, devoluções ou extravio de encomendas, quem assegura todo o processo é também a Huub.
A start-up nasceu pelas mãos de Luís Roque, Pedro Santos e Tiago Paiva, amigos e antigos colegas de faculdade, e com uma participação da empresa Just All Design, que pertence à mãe de um deles.
Apesar de os sócios não divulgarem o valor total do investimento feito até agora, a FORBES apurou que a start-up 7Graus entrou na Huub com 350 mil euros, no ano passado – detendo uma participação de 25%.
Para Rui Marques, director-executivo da 7Graus, a entrada no capital da companhia acontece porque acredita que esta “vai ser um dos maiores players a nível de logística pelo menos da Europa”, admite à FORBES. E para a Huub, a 7Graus – especializada em desenvolvimento e distribuição de conteúdos – representa mais conhecimento em termos de tecnologia, marketing digital e gestão de negócio.
Actualmente, o escritório e o armazém partilham instalações para que todos tenham conhecimento de tudo o que se faz na start-up. Ao longo do piso administrativo percebemos a distribuição das sete equipas, separadas por divisórias que permitem a todos ver tudo. Aqui trabalha-se por projectos, divididos em capítulos: cada um tem uma equipa que termina no momento em que o capítulo chega ao fim.
Ou seja, as equipas, além do trabalho diário, “estão a trabalhar em paralelo umas com as outras”, relata Luís. O objectivo das equipas multidisciplinares é cruzar conhecimentos e manter os trabalhadores motivados. À Huub pertencem 35 pessoas de diversas idades, porque o director rejeita a ideia de que as start-ups tenham obrigatoriamente que ser constituídas por jovens.
Luís acredita numa equipa em que consiga “jogar com a experiência [dos mais velhos] e a motivação e garra dos mais novos”. A entrada de talentos é filtrada por cultura, objectivos e competências. O recrutamento ainda passa praticamente toda por si, que confessa preferir muitas vezes não contratar alguém, por mais que precise, “por não ter o que é necessário em termos de cultura”. Para Luís é fundamental manter a equipa alinhada com o desenvolvimento que querem fazer e com a cultura implementada na empresa.
Da garagem para o mundo
Desde o início a visão do negócio, para os seus fundadores, era clara. Mas como em qualquer negócio, o caminho não se fez sempre a direito. “Saltaram” para o mercado enquanto ainda todos estavam a trabalhar noutras empresas. Começaram numa garagem “sem sistemas, sem nada”. “Tínhamos um armazém de 80 metros quadrados, com caixas até ao tecto, em que fazíamos a gestão em papel”, lembra Luís, engenheiro de gestão industrial, tal como os outros fundadores da Huub.
A companhia nasceu fora do ecossistema das start-ups, sem levantar qualquer ronda de investimentos para começar. Deu os primeiros passos através do investimento limitado dos quatro accionistas fundadores, que nem sempre foi suficiente. “Passámos tempos difíceis em que tínhamos que decidir se comprávamos uma cadeira ou as caixas, porque estávamos no limite. Não tínhamos investimento”, recorda.
“Passámos tempos difíceis em que tínhamos que decidir se comprávamos uma cadeira ou as caixas, porque estávamos no limite. Não tínhamos investimento”, recorda Luís.
Actualmente realizam entre dois mil a três mil envios por mês – quando as marcas lançam uma nova coleção esse número chega aos cinco mil – para mais de 65 países em todo o mundo – mas com especial enfoque na Europa. O crescimento permitiu-lhes uma facturação de 256 mil euros em 2016 mas que, segundo estimativa da própria Huub, vai chegar aos 650 mil euros já este ano.
A empresa está focada em crescer fora do Velho Continente, e prepara-se para, até ao final do ano, abrir operação nos EUA. Para isso contará com a ajuda do mais recente investidor, a 7 Graus, mas nenhum deles se disponibilizou a revelar qual será o valor do investimento neste novo armazém.
A confirmar-se, em apenas dois anos a Huub conseguirá estar em três países e dois continentes, prometendo mudar a forma como as marcas lidam com a logística, e encontrando alternativas ao habitual caminho de captação de investimento.
Com uma presença residual fora da Europa, a presença nos EUA permitirá abrir mercado, ainda que os desafios cresçam à proporção do tamanho daquele país, e do mundo.