Em 2008 as redes sociais eram terreno de ninguém. Apesar de estarem a somar cada vez mais utilizadores, ainda não existia uma profissão associada a esta plataformas. Mas Bruno Rocha começava a dar passos naquilo que conhecemos hoje como o mundo da influência. Criou a sua conta no Twitter nesse ano, onde publicava conteúdos humorísticos. Hoje, esse projeto chama-se Hugo Gloss, nome pela qual ele próprio é conhecido, e soma 21,3 milhões de seguidores no Instagram, 1,5 milhões de cliques diários, 5 milhões de seguidores no Twitter, 6,4 milhões no Facebook e 1,2 milhões no TikTok.
“Eu já sou de uma geração que começou a ter contacto com a internet muito cedo, eu vi o começo da internet e sempre me fascinei muito com aquilo de sabermos tudo o que está a acontecer no mundo ao mesmo tempo. Eu comecei quase de brincadeira mesmo. Gostava de contar piadas, de fazer conteúdos mais escritos. Foi quando descobri o Twitter”, conta Bruno à Forbes.
Aquilo que fazia inicialmente era bastante diferente da plataforma que conhecemos hoje em dia. Bruno descreve os primeiros tempos de Hugo Gloss com palavras como “humor”, “sarcasmo” e “irónico”. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia passar ao lado do gosto de dar notícias e, por isso, começou a misturar as duas coisas. No final, os ingredientes acabaram por ser os certos para a construção de um dos maiores websites de entretenimento do Brasil.
“No Twitter era tudo muito curto e rápido. No entanto, chegou um momento em que pensei que deveria expandir. Primeiro quando começámos a ter outras redes sociais, senti que ficar numa rede social só era uma coisa muito pequena. Depois, como eu tinha muita vontade de me comunicar mais e tinha muito fascínio por esse ambiente do entretenimento, pensei em criar um portal pra eu poder fazer a curadoria das notícias que queria dar. Em 2013 criei um portal de notícias e também um canal no Youtube. Foi quando começou essa transição de me posicionar não só como uma persona, mas como um veículo”, afirma.
Só que, pelo nome e por ter nascido como essa persona, torna-se muito difícil desligar este veículo em específico do Bruno. “É muito difícil, e especificamente quando se fala de entretenimento, porque as coisas se podem tornar pessoais. Quando se é um veículo e se é também uma pessoa, eu sou o responsável por tudo aquilo, eu sou o dono do guarda-chuva e tudo o que está em baixo dele é minha responsabilidade. Às vezes, existem notícias que eu, pessoa, não gostaria de dar, mas eu tenho uma responsabilidade”, considera, realçando que chega ao ponto de poder afetar a sua vida pessoal, e por isso é essencial “colocar um distanciamento do trabalho para a vida pessoal, para aquilo não te consumir tanto”.
Do Brasil para o mundo
Com uma ascensão desta dimensão, a Forbes quis perceber se o fundador do Hugo Gloss consegue identificar os momentos chave, aqueles que fizeram com que a realidade de hoje fosse possível. Bruno identificou dois pontos.
Em primeiro lugar, como mencionou anteriormente, a presença nas diferentes redes sociais. E mais do que isso, o facto de se adaptar à forma de fazer conteúdo de cada uma delas. Em segundo, quando decidiu assumir a persona que criou: “No início eu não tinha vontade nenhuma de ser uma pessoa pública, tinha inclusive um certo medo de ser uma pessoa conhecida. Acho que no momento em que eu decidi abraçar isso, as coisas mudaram, até porque sendo um rosto, uma pessoa, eu posso aparecer, eu posso levar esse conteúdo a mais lugares, tornar-me um embaixador do meu próprio conteúdo, do meu próprio portal”, diz.
Um dos sítios para onde leva frequentemente o seu portal e a sua pessoa, são as premiações mais famosas de todo o mundo. Antes de chegar a Portugal, onde participou na Web Summit, esteve nos MTV Europe Music Awards, mas trata por tu vários outros eventos, como os Óscares. Um processo de internacionalização que descreve como “natural”.
“Fui a porta de conexão do Brasil com outras culturas, de apresentar coisas novas, pessoas novas, de trazer notícias diferentes. Então acho que esse processo foi natural e também acho que foi um posicionamento importante para que as coisas dessem certo, esse posicionamento de nos portarmos como um veículo global, não só um veículo brasileiro que só fala do Brasil”, afirma, mesmo sendo consciente, segundo conta, que os brasileiros optam por gostar muito daquilo que é brasileiro.
“Não posso entregar o meu ouro a qualquer preço”
Assim como qualquer outro perfil nas redes sociais que se tenha profissionalizado, também o de Bruno tem uma relação com as marcas. “A minha relação e a relação do Gloss com a publicidade sempre foi muito intensa, porque, sendo um portal, temos vários meios de trabalhar com marcas. Fomos desenvolvendo vários tipos de publicidade diferentes, até o facto de eu ser um rosto me ampliou isso, acho que ampliou a minha presença comercial, porque eu posso ser embaixador de uma marca, posso fazer um anúncio, uma presença VIP”, conta.
O número de seguidores do Hugo Gloss atrai muitas marcas, uma vez que tem um alcance enorme. Um número que até para a dimensão do Brasil é bastante considerável. “O Brasil é um país continental, mas mesmo assim continua a ser um número muito expressivo. É um alcance muito grande, dá mais de 30 milhões de seguidores. É uma responsabilidade muito grande, mas acho que temos uma coisa muito clara: O compromisso maior é com o público, é com a audiência. Obviamente, o objetivo é sempre ter mais audiência, conquistar mais pessoas, e eu acho que esse é o desafio de qualquer veículo e de qualquer pessoa pública também, de fazer com que as pessoas se interessem pelo que fazes. E mais difícil que conquistar é mantê-los”, diz Bruno.
Numa entrevista anterior, Bruno tinha afirmado que cobrava 35 mil reais (perto de 6 mil euros) por uma publicação patrocinada no perfil do Hugo Gloss. Confrontado com este número garantiu: “Esse valor é muito antigo”. Hoje trabalha com diversos formatos de publicidade e por isso os valores variam de acordo com o que o cliente quer: apenas uma rede social, todas as redes, a sua imagem, entre outras coisas.
“Eu não gosto de perder dinheiro. Se alguém me procura para fazer publicidade, eu quero sempre fazer dar certo, mas obviamente não posso entregar todo o meu ouro a qualquer preço. Eu tento fazer acordos que sejam bons para ambos os lados, mas esse é um valor que está um pouco desatualizado”, diz.
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