Quem vê a sede da Vacheron Constantin, em Genebra, Suíça, do lado de fora não imagina o que acontece lá dentro. O edifício que só pode ser descrito como moderno é a casa de uma marca que conta com 270 anos de história: a fabricante de relógios mais antiga em atividade contínua desde a sua fundação.
Com uma disposição invertida daquilo que é o mais habitual em outras empresas, o edifício conta com as salas onde são feitos os relógios nos pisos de cima e os escritórios administrativos em baixo. O motivo é muito simples: a luz solar. Pelos corredores, passam cerca de 700 profissionais, sendo que a marca conta com 1300 funcionários em todo o mundo.
“Graças à nossa longevidade, ao facto de nunca termos fechado, foi possível passar a informação de geração em geração”, explica um dos profissionais responsáveis pela visita. Além disso, conseguem também usar as mesmas máquinas que passaram por essas mesmas gerações. Algumas com mais de 100 anos.
“Fomos fundados em 1755 e, desde então, temos uma atividade ininterrupta, o que nos torna, tanto quanto podemos dizer, a marca relojoeira mais antiga sem qualquer interrupção na sua atividade. O facto de termos sido capazes de manter a nossa relojoaria tradicional, não no sentido de fazer sempre a mesma coisa como em 1755, mas sim de manter e desenvolver o nosso know-how técnico, bem como a nossa experiência no campo do artesanato, demonstra a nossa vitalidade, no sentido de que fomos capazes de nos adaptar e evoluir num mundo em mudança ao longo dos séculos”, diz Christian Selmoni, heritage director da Vacheron Constatin, à Forbes.

Ao mesmo tempo que conseguem segurar esta longevidade, os 270 anos de história não significam que a empresa tenha deixado de lado a mudança ou a inovação. Aliás, Christian garante que a criatividade e a inovação estão no centro da marca. “Não seria possível sobreviver sem criatividade e inovação. Diria que a Vacheron Constantin é vista como uma marca clássica no campo da relojoaria, o que acho ótimo. Somos considerados uma das referências da relojoaria clássica de alta qualidade. É por isso que, imediatamente, alguns podem não associar diretamente a palavra inovação à Vacheron Constantin. Não estamos a fazer, digamos, inovação orientada para o marketing, mas sim a concentrar-nos em elevar sempre o nível da nossa relojoaria em termos de tecnicidade e acabamento”, afirma.
Para que se tenha uma melhor noção do tempo, uma marca ter 270 anos significa que se manteve em funcionamento ao longo de duas guerras mundiais, a revolução industrial, a Guerra Fria, a ascensão e queda de impérios ou o desenvolvimento tecnológico.
O mesmo em relação à indústria propriamente dita. Com o passar dos temos, a marca foi tendo de se adaptar a uma série de mudanças. Christian destaca três, tendo em conta o tempo que passou no negócio: “No final dos anos 90, início dos anos 2000, assistimos à concentração no campo da relojoaria de luxo, com a chegada de grandes grupos de luxo. Acho que o facto de essas marcas terem começado a investir na relojoaria realmente colocou nossa atividade em destaque. Nós passámos de uma área de nicho no campo do luxo para um tipo de atividade importante no ecossistema do luxo. A segunda grande mudança deveu-se a uma maior visibilidade da relojoaria de luxo, que nos permitiu assistir a uma incrível criatividade, graças aos novos intervenientes. Assistimos, assim, ao surgimento da relojoaria modernista. E acho que o terceiro ponto é o ecossistema digital, que realmente se tornou enorme. Nós a usamos desde os anos 90, mas ela começou a crescer no início dos anos 2000. E vimos o surgimento de fóruns de discussão sobre relojoaria no início dos anos 2000. O conhecimento sobre relojoaria de luxo tornou-se quase imediatamente disponível para todos, o que, como resultado, despertou muito interesse e atraiu muitos novos clientes”.
Toda esta esta evolução e adaptação conta a história de uma marca que começou em 1755 e continua a fazer história.
Cronologia da marca
1755
Com apenas 24 anos, Jean-Marc Vacheron fundou aquela que é hoje a fabricante de relógios mais antiga em atividade contínua desde a sua fundação.
1785
Em 1785, o filho de Jean-Marc Vacheron, Abraham, assume o negócio. Ele consegue manter a empresa em funcionamento, apesar das dificuldades decorrentes da Revolução Francesa e da ocupação de Genebra. Seguindo os passos do pai, ele ensina o ofício de relojoeiro ao seu filho, Jacques Barthélémi Vacheron.
1810
Jacques assume a liderança do negócio e é responsável pelas primeiras exportações da marca para França e Itália.
1819
A parceria entre o neto do fundador, Jacques Barthélémi Vacheron, e o empresário François Constantin dá à maison um novo nome: Vacheron et Constantin. Ainda neste ano, numa carta de François para o seu parceiro de negócios, nasce o slogan da empresa: Faça melhor, se possível, e isso é sempre possível.
1880
O símbolo da cruz maltesa da Vacheron Constantin é registado no Instituto Suíço de Propriedade Intelectual, em Berna. Escolhido para representar a busca pela precisão da marca.
1889
O relógio feminino é um dos primeiros relógios de pulso produzidos em série. O seu sucesso causa um grande burburinho, porque até ao início do século XX o relógio de bolso não tinha rivais.
1906
Numa altura em que recebia encomendas de nomes como a Rainha da Romania ou o Príncipe Napoleão, a Vacheron Constantin abriu a sua primeira loja.
1932
A colaboração entre a Vacheron Constantin e Louis Cottier resulta na criação do primeiro relógio World Time com o “sistema Cottier”. Um relógio que permite ver as horas em qualquer fuso horário.
2004
Criação de um design dedicado a alguns dos mais importantes exploradores e viajantes da história, oito figuras que exploraram o nosso planeta: Ibn Battuta, Cristóvão Colombo, James Cook, Vasco da Gama, David Livingstone, Fernão de Magalhães, Marco Polo e Zheng He.
2019
Início da parceria com o Museu do Louvre, em Paris. Esta parceria resultará numa série de projetos de colaboração e cocriação nas áreas da arte e cultura.
2023 e 2024
A mesma parceria é assinada com outros dois museus: Metropolitan Museum of Art (MET), em Nova Iorque, e o The Palace Museum, em Pequim.
(Artigo publicado na edição de agosto/setembro 2025 da Forbes Portugal)





