Fundada em 2008, por empreendedores espanhóis e portugueses, a Hipoges é uma empresa que atua no setor de asset management, detendo quase 50 mil milhões de ativos sob gestão. Dotada de uma equipa de 1.700 pessoas, distribuídas por Portugal, Espanha, Itália e Grécia, é especializada em serviços como hipotecas residenciais e adjudicadas, créditos de fomento à construção, créditos ao consumo sem garantia e créditos a PME. Oferece também consultoria no processo de avaliação e compra e na elaboração de processos e implementação de ferramentas de gestão, bem como soluções de gestão para diferentes tipos de ativos e investimentos.
A empresa surgiu no mercado ibérico após o processo de falência da Lehman Brothers, pela mão de colaboradores que trabalhavam nesta instituição, ou para esta instituição, na compra de portefólio de crédito malparado. A ideia era prestar o mesmo serviço, mas para vários clientes, fosse para fundos de investimento, ou fosse para a banca tradicional. A equipa de gestão é liderada Hugo Velez, managing partner e Co-CEO e Claudio Panunzio, igualmente managing partner e Co-CEO, ambos na equipa inicialde fundadores. O conhecido economista António Nogueira Leite também embarcou neste projeto, embora como senior bord adviser do lado português.
A Hipoges encerrou o ano de 2023 com um volume de vendas de imóveis na ordem dos 1,3 mil milhões de euros, nos quatro mercados onde atua: Portugal, Espanha, Itália e Grécia.
O grupo tem estado a crescer organicamente e por aquisição, tendo adquirido participações maioritárias em várias empresas. Hoje agrega já um universo de 12 empresas distintas, sejam próprias ou parceiras, para áreas de atividade complementares ao negócio, como, por exemplo, a KPI, para a gestão hoteleira em Portugal, ou a Domus, para a comercialização, desenvolvimento e gestão de projetos imobiliárias residenciais em Espanha.
A Hipoges encerrou o ano de 2023 com um volume de vendas de imóveis na ordem dos 1,3 mil milhões de euros, nos quatro mercados onde atua. No território nacional conseguiu aumentar o seu volume de ativos imobiliários em 3,5% face a 2022, e um crescimento de 30% nos contratos de gestão assinados.
O crédito malparado representa 25 mil milhões de euros
Em entrevista à Forbes Portugal, Nuno Antunes, Global Chief Real Estate Officer da Hipoges, para o mercado de Portugal e Espanha, explica que “hoje o nosso core business é também o do imobiliário, apesar de a gestão de crédito malparado ser o principal”. O NPL (Non-Performing Loan), vulgarmente conhecido como crédito malparado, representa cerca de 25 mil milhões de euros dos ativos sob gestão do grupo, diz.
O gestor revela também que “somos o maior gestor de imóveis da Península Ibérica. Temos cerca de 98 mil imóveis em gestão em Espanha, mais cinco mil em Portugal, por isso acho que nenhuma outra entidade terá mais de mil imóveis sob a sua gestão”.
Explica que a Hipoges é uma empresa de prestação de serviços financeiros, porque está ligada aos fundos de investimento, que compra portefólios significativos aos bancos, “portefólios que podem facilmente chegar aos 5 mil milhões de euros, como já aconteceu na Grécia”. Os fundos entregam estes portefólios a empresas especializadas na gestão de todo o imobiliário, “desde a gestão de condomínios, a property facilities management, a parte de vendas, do fecho dos processos, do pagamento de impostos, ou seja, tudo o que envolva o imobiliário e que permita ao cliente ficar descansado”, explica Nuno Antunes. Refere ainda que a empresa se diferencia da concorrência precisamente porque teve origem na banca de investimento e acaba por ter uma linha de ação muito fincada na ótica do investidor.
“Estamos a fazer 70 transações por dia e para isto é preciso uma máquina muito eficiente e muito acompanhada de um sistema integrado”, revela o gestor.
Para fazer face a todos os desafios desta complexa atividade, a equipa de colaboradores tem já uma dimensão considerável. “Das 1700 pessoas, cerca de 250 estão em Portugal, 50 na Grécia e mais 50 em Itália. Os restantes estão em Espanha. Só o escritório de Madrid, tem cerca de 700 pessoas”, explica. O grupo tem escritórios em 11 cidades nestes quatro países.
A necessidade de ter tantos profissionais explica-se pelo facto de gerir muitos processos internamente: legalização jurídica, registos, posse judicial de imóveis, toda a parte da tramitação das propostas, dos contratos de promessa e venda, notários, entre outros. “Estamos a fazer 70 transações por dia e para isto é preciso uma máquina muito eficiente e muito acompanhada de um sistema integrado”, revela. Tem também uma equipa muito grande na área do marketing, com mais de 20 profissionais alocados a esta função.
Setor residencial representa 80% em Portugal
Relativamente ao mercado imobiliário em Portugal, a empresa continua a destacar-se no setor residencial, que representa cerca de 80% das operações do departamento de real estate, sendo que o segmento comercial apenas representou 12% do total de ativos vendidos no último ano.
Braga foi a zona do país que mais se destacou no crescimento das vendas, já que registou um crescimento de 65% face a 2022, seguindo-se Castelo Branco com 38% e Coimbra, com 35%, tendência que reflete uma cada vez maior apetência pelas periferias. Porém, em números absolutos, Lisboa continua a ser a zona com maior número de vendas, representando 35% do total nacional, seguido de Setúbal com um peso de 16% e do Porto, com 10%.
“Em Portugal recebemos, há cerca de três anos, um portefólio de arrendamento, que era o maior no país, o que nos permitiu começar uma nova linha de negócio, a gestão de arrendamento. Isto é um desafio para a Hipoges porque estávamos mais ligados à venda, e o arrendamento implica mais trabalho de manutenção, por exemplo”, refere o especialista. Este portefólio, composto por cerca de 4 mil imóveis, representou um desafio alargado para a gestora. Nota que, em relação a esse segmento de atividade, existe alguma estabilização no valor das rendas. “Ou seja, o crescimento das rendas nos últimos tempos está claramente a desacelerar”, diz.
“O mercado é muito atrativo para os investidores internacionais. É um mercado que funciona bem, bastante profissionalizado, ao contrário do que se imagina”, refere Nuno Antunes.
Refere que o mercado nacional tem falta de produto em geral, mas o ritmo de colocação está agora a reduzir: ou seja, já não se arrenda em cinco ou 10 dias, pode agora demorar um mês a concluir o negócio. Adianta que a rentabilidade tem estado a crescer 5% ou 6% ao ano, o que é muito positivo para os clientes. “O mercado imobiliário é muito atrativo para os investidores internacionais. Funciona bem, e é bastante profissionalizado, ao contrário do que se imagina. Desde a parte jurídica à mediação imobiliária, passando pelos sítios onde se fazem a gestão online de todos os processos legais, está profissionalizado. A gestão online, por exemplo, é uma coisa que já damos por garantida, mas que Espanha só está a começar a desenvolver agora”, explica o gestor.
Para ele, o problema de Portugal é o tamanho, pois há poucos portefólios para investir e há muita competição para muito pouco produto. “Na União Europeia, nos últimos 10 anos, construiu-se 50 casas por cada mil habitantes e em Portugal construiu-se apenas 17”, refere. Ora, isto vai continuar a impulsionar a subia dos preços.
Explica ainda que a Hipoges tem milhares de imóveis premium, que é o foco da empresa. Entre Espanha e Portugal, venderam 22 mil imóveis em 2023, vendas que são feitas sobretudo através de imobiliárias, que a empresa vê como parceiros do negócio.