O ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, figura incontornável da diplomacia mundial durante a Guerra Fria, morreu esta quarta-feira aos 100 anos, informou a sua organização em comunicado.
Kissinger, que dominou a política externa dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, “morreu hoje em sua casa em Connecticut”, adiantou a empresa de consultadoria Kissinger Associates.
O lendário e controverso diplomata manteve-se ativo até ao fim da vida, apesar da idade avançada. Em julho, já com 100 anos, visitou a China, onde se encontrou com o Presidente do país, Xi Jinping.
As opiniões do antigo diplomata sobre assuntos da atualidade, como a invasão da Ucrânia pela Rússia e os riscos da inteligência artificial, também têm sido frequentemente citados nos meios de comunicação social.
Kissinger nasceu em 27 de maio de 1923, em Fürth, na Alemanha, no seio de uma família judia que se mudou para Nova Iorque, fugida do nazismo.
Nascido em 1923 na Alemanha, Kissinger e sua família, que era judia, imigraram para os EUA em 1938 para evitar a perseguição sob o regime nazista.
O diplomata desempenhou um papel fundamental nas negociações que ajudaram a pôr fim à Guerra do Vietname, o que, de forma controversa, o levou a receber o Prémio Nobel da Paz em 1973.
Assim, recebeu o Prémio Nobel da Paz juntamente com o homólogo vietnamita Le Duc Thuo pelas negociações secretas para pôr fim à guerra do Vietname e normalizou as relações diplomáticas entre os Estados Unidos e a China durante a presidência de Richard Nixon (1969-1974).
No entanto, Kissinger será também recordado pelo apoio dado a ditaduras como as da Argentina, entre 1976 e 1983, aos últimos anos do regime de Francisco Franco, em Espanha, e ao golpe de Estado contra Salvador Allende, no Chile, em 1973.
Os críticos ridicularizaram-no mesmo pelo seu apoio aos regimes ditatoriais na América Latina e pela sua ação militar na Ásia.
A influência de Kissinger cresceu à medida que Nixon se envolveu no escândalo Watergate. Após a renúncia de Nixon, Kissinger continuou a servir como Secretário de Estado no governo do presidente Ford.
É, até à data, a única pessoa na história dos Estados Unidos que ocupou simultaneamente os cargos de secretário de Estado e de conselheiro de Segurança Nacional.
Reações
O ex-Presidente norte-americano George W. Bush e outros políticos republicanos lamentaram esta quarta-feira a morte do ex-secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, com 100 anos, na sua casa em Connecticut.
O país perdeu “uma das vozes mais fiáveis e mais ouvidas na política externa”, sublinhou Bush em comunicado.
O facto de um homem como Kissinger, refugiado da Alemanha nazi, ter chegado a chefe da diplomacia norte-americana “demonstra a sua grandeza e a grandeza da América”, acrescentou.
Na mensagem, o ex-governante agradeceu ao antigo chefe da diplomacia dos Estados Unidos os seus conselhos e a amizade.
O líder da Câmara dos Representantes no Congresso norte-americano, Mike Johnson, também elogiou o legado de Kissinger numa mensagem na rede social X (antigo Twitter), na qual se referiu ao ex-diplomata como “um estadista que dedicou a vida ao serviço dos Estados Unidos”.
O senador Lindsey Graham, por seu lado, destacou a “vida notável” de Kissinger, de origem judaica e que fugiu da Alemanha nazi com a família quando ainda era apenas um adolescente.
Outro senador republicano, Tim Scott, que até há pouco tempo era pré-candidato republicano às eleições presidenciais de 2024, afirmou na mesma rede social que poucos tiveram “um impacto tão consequente na política externa americana” como Kissinger.
O embaixador da China nos Estados Unidos, Xie Feng, qualificou hoje de “enorme perda” a morte do antigo secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger, arquiteto da aproximação entre Pequim e Washington nos anos 70.
“Estou profundamente chocado e triste por saber da morte do dr. Kissinger aos 100 anos”, escreveu o embaixador Xie Feng na rede social X (antigo Twitter), bloqueada na China, naquela que é a primeira reação oficial de Pequim sobre o assunto.
“Esta é uma enorme perda para os nossos dois países e para o mundo”, acrescentou o diplomata chinês, acrescentando que “a história recordará o que (…) trouxe às relações entre a China e os Estados Unidos”.
com Lusa