A Helexia, multinacional francesa, entrou em Portugal em 2016 com o propósito de fornecer serviços de transição verde e descarbonização às empresas. Setores como retalho, cerâmica, metalomecânica, farmacêutico e alimentar compõem a lista de clientes. Luís Pinho, Country Director Helexia Portugal / Countries & Business Development Coordinator, revela em entrevista à FORBES que já fornece serviços a nomes como Leroy Merlin, grupo Amorim, Auchan, Revigrés, grupo Altis, entre outros.
A Helexia entrou no mercado português em 2016. Qual a avaliação que é possível fazer desta aposta em Portugal?
Ganha. Foi uma aposta ganha, dos vários objetivos que se haviam definido todos foram cumpridos. Entramos no mercado, entre outros fatores, pelo contexto regulatório favorável ao autoconsumo, e apesar da inércia inicial temos conseguido ser um player de referência em volume, mas acima de tudo em confiança, qualidade e suporte aos nossos clientes/parceiros.
Quais as áreas de atuação em Portugal? E quais as que têm maior contributo para o desempenho da empresa?
Atuamos essencialmente em quatro áreas, interligadas e complementares: o fotovoltaico que é, ainda, o grande catalisador para o crescimento e maior contributo para os nossos resultados; os serviços de eficiência energética, que englobam apoio, aconselhamento, auditorias, certificações, e implementação de projetos de redução de consumo de energia; a mobilidade elétrica, onde atuamos fundamentalmente como OPC (Operador de Pontos de Carregamento), e onde temos, depois de uma fase de consolidação, vindo a colocar mais energia para acelerar esta resposta às necessidades dos nossos clientes; e por fim, serviços de engenharia para o grupo, uma área em que nós daqui de Portugal apoiamos a Helexia noutros países. Se por um lado ambas áreas de negócio têm crescido, é nos serviços de eficiência energética e mobilidade elétrica que vemos uma crescente capacidade de contribuir para a transição energética e que alicerçamos o nosso crescimento.
Em termos dos clientes, quais os setores com maior peso para o volume de negócios?
Atuamos em vários sectores, desde industrial ao retalho passando pela cerâmica, metalomecânica, farmacêutico e alimentar, mas também com uma crescente presença no Real State, plásticos e borracha e reciclagem. Todos estes setores têm necessidades diferentes quer em termos de produção de energia, mas também no tipo de soluções para descarbonizarem.
Há nomes de empresas clientes que possa divulgar?
Como exemplo podemos dar os vários projetos no setor do retalho que estamos a desenvolver com a Leroy Merlin, que passa por autoconsumo solar, eficiência energética, mobilidade elétrica e mais recentemente as várias certificações BREEAM para comprovar a sustentabilidade dos ativos imobiliários. Mas também podemos dar referências em setores industriais como os vários projetos de autoconsumo solar e eficiência energética que estamos a desenvolver com o grupo Amorim ou mesmo várias referências que temos na cerâmica como a Costa Verde, Primus Vitória, Dominó Cerâmica ou Revigrés. O importante é que temos uma visão setorial para adequar a melhor solução para cada setor de atividade.
Como tem evoluído a componente financeira, por exemplo, em 2023?
É uma evolução sólida, segura e sustentável, temos apostado sempre em crescer ao ritmo da nossa capacidade de resposta e organização. Isso implica muitas vezes tirar um pouco o pé do acelerador para conseguir manter níveis de resposta e serviço que satisfaçam, quer o cliente quer a nós próprios, enquanto investidores e empresa que aposta na confiança e na qualidade. Este ano apesar de ter sido um ano em que apostamos em consolidar e preparar os próximos anos, crescemos cerca de 20% em EBITDA e um pouco menos em receitas o que sinaliza o nosso esforço de crescimento sustentável e robusto que será fundamental para alavancar áreas já fortes no nosso volume de negócio, mas também outras áreas em que queremos acelerar a nossa posição no mercado.
No ano passado, quais os projetos mais significativos que concretizaram em Portugal, no ano passado?
Fizemos projetos muito interessantes no setor hoteleiro e retalho, não necessariamente grandes projetos ou que contribuam de forma significativa para o volume de negócios, mas que nos orgulham pela capacidade que temos em responder a solicitações de vários sectores de forma estruturada e que agrega valor a essas atividades. Na mobilidade elétrica começamos já a fazer algum retrofit de carregadores para mais potência ou mais capacidade de resposta e sendo – uma vez mais – pouco significativo em termos de volume de negócios, é um exemplo do nosso foco na performance e que é um setor em que acreditamos. Depois, claro, no fotovoltaico comissionamos mais de 30 projetos de autoconsumo para uma potência acima dos 40MWp, isto apenas, foi em termos de volume, duplicámos o exercício de 2022.
Houve outros exemplos na mobilidade…
Na mobilidade podemos dar como exemplo os vários projetos que desenvolvemos no retalho com presença em lojas da Auchan e Leroy Merlin, assim como no turismo com vários projetos desenvolvidos, sendo o mais recente com o Grupo Altis. No autoconsumo solar posso destacar a nossa entrada no setor farmacêutico com dois projetos já concluídos, a Vygon e a Alliance Healthcare e com dois novos clientes, neste setor, para anunciar em breve. Outra referência muito importante é a Fapricela, uma empresa da indústria metalomecânica, na qual, implementámos um projeto de autoconsumo solar de 6,3 MWp, o maior em Portugal numa única cobertura.
Em 2024 quais as metas e estratégia que está no terreno?
Navegar a incerteza e de certa forma a desaceleração que sentimos por força da situação política, que tem implicações claras no processo de decisão das empresas. Esta variável política nacional, veio acrescentar dúvida às já dificuldades e incertezas com a guerra na Ucrânia, conflito no Médio Oriente, crise de segurança no mar vermelho, contexto inflacionista e taxas de juro historicamente altas… tudo isto gera dúvida e incerteza e, ao mesmo tempo, motiva-nos para o muito que ainda tem de ser feito no contexto da transição energética e descarbonização. Queremos manter o ritmo de crescimento apesar de continuarmos focados em consolidar e colocar mais eficiência nos nossos processos, queremos manter o foco no fotovoltaico, mas apostar e investir cada vez mais na eficiência energética e mobilidade elétrica que queremos nos próximos dois anos possa contribuir acima dos 10% no nosso volume de negócios.
Portugal fez uma aposta forte no sentido da transição energética. Acredita que algumas das metas serão atingidas ou serão demasiado ambiciosas?
Portugal é uma referência quando se fala em produção de energia renovável e isso é um excelente sinal da aposta que foi e tem sido feita. Ainda há muito caminho pela frente e muitas coberturas e telhados que podem ser otimizados para produção de energia. Mas entendo que se não olharmos para a vertente de consumo com mais atenção, não estamos efetivamente a resolver o problema. Temos imperativamente de reduzir consumos e isso não implica por exemplo reduzir a capacidade de produção da indústria nem diminuir os níveis de conforto na hotelaria, implica fazer mudanças, pequenas mudanças de comportamentos e claro otimizar o consumo e sistemas de gestão de energia. Neste aspeto da eficiência energética, vejo que as revisões do Planos de Energia e Clima em Portugal e na Europa como um todo foram pouco ambiciosos se tomarmos como comparativo a evolução das metas de introdução de renováveis.
Como tem evoluído o vosso segmento de mobilidade elétrica?
Tem evoluído bem, fundamentalmente depois de algum tempo para consolidarmos o nosso conhecimento e fazermos alguns ajustes na nossa forma de trabalhar e no nosso modelo de negócio. Estamos certos e confiantes de estarmos robustamente preparados para alavancar esta atividade. Vão ser introduzidas ligeiras alterações nos terminais de carregamento, uma nova imposição relativa aos terminais de pagamento (que me parece um pouco a contraciclo com a evolução tecnológica…), mas o que vemos, apesar disso, é um crescimento da infraestrutura inferior ao crescimento da venda de veículos elétricos e por isso temos de avançar mais rápido e eventualmente alargar os nossos serviços, passando também a incluir energia.
O facto de a Helexia fazer parte do grupo Voltalia abre portas para crescer a atividade? Há projetos em que as duas empresas atuam em conjunto?
A Voltalia e a Helexia são um player de referência em Portugal como noutros países, e é claro que isso é uma vantagem competitiva que temos de colocar ao serviço dos nossos clientes e parceiros. Atuamos no mesmo setor, mas com soluções diferentes, nós fundamentalmente junto ao cliente, com autoconsumo e serviços energéticos, a Voltalia com projetos utility scale. Na verdade, tudo isto se complementa, e temos efetivamente em curso oportunidades que trabalhamos em conjunto, para além claro de sinergias de volume e recursos.