Pedro Stürken e Maria Hansen conheceram-se na Austrália, onde ambos viviam um estilo de vida com a saúde, bem-estar e atividade física como foco. No regresso a Portugal, já com ideias na mochila, deram de caras com a pandemia causada pela covid-19. Mas o facto de terem ficado fechados em casa não colocou um travão no objetivo de ambos: trazer esse lifestyle para Portugal. Foi assim que nasceu a Hanken, uma marca de activewear que está a motivar os portugueses, e não só, a serem mais ativos.
A FORBES foi conhecer as coleções da marca e falou som Pedro e Maria sobre o projeto.
Como foi o vosso percurso até aqui e como surgiu a ideia de criar a marca?
Pedro Stürken (PS): No meu percurso estive sempre ligado ao desporto, à alta competição, depois enveredei também pela gestão desportiva. Passado uns anos conheci a Maria na Austrália e depois de termos vivido um estilo de vida que já era o nosso, mas o estilo de vida australiano é muito de atividade física, lifestyle ativo e saudável, viemos da Austrália já com essa ideia de querermos trazer um bocado o lifestyle que vivemos e de que gostamos e que faz parte da nossa vida para Portugal.
Maria Hansen (MH): Cresci em Portugal, mas tenho mãe norueguesa e também estou muito ligada à minha parte norueguesa. O nome da marca é Hansen e Stürken, são os nossos nomes juntos. E sim, começámos na Austrália, já tínhamos muito a ver na parte desportiva, e lá eles têm muito a parte sustentável. Ou seja, são uma sociedade que se preocupa imenso com a natureza, com a sustentabilidade, mesmo em termos de produtos compram coisas boas, para durar, compram coisas recicladas. Quando aqui na Europa ainda não estávamos a reciclar muito no vestuário, calçado, etc., eles já estavam a fazer roupas com plástico reciclado do mar. Nós andávamos de activewear dia e noite, saíamos de casa às 6h da manhã, íamos fazer aulas, surf, e lá sentíamo-nos à vontade porque realmente toda a gente andava de activewear e havia mais oferta. Nunca tínhamos visto umas leggings feitas de garrafas de plástico, foi uma coisa que nos interessou imenso também. Antes de virmos para Portugal também fomos para a Indonésia, onde explorámos um bocadinho a parte mais conciente, mais holística. O Pedro tirou um curso de professor de ioga em Bali e eu tirei de pilates. Depois voltámos para Portugal e foi foi a pandemia. Ou seja, estávamos um bocadinho presos, mas queríamos continuar a inspirar-nos um ao outro e também trazer algumas das nossas experiências de lá para outras pessoas.
Mas a marca surge enquanto estão na Austrália ou quando chegam a Portugal?
PS: Cá. Nós sabíamos que queríamos fazer alguma coisa ligada a este estilo de vida e depois acabámos por juntar as nossas skills, que a Maria é muito ligada à produção, desenvolvimento do produto, e eu tenho o lado mais da gestão, número, vendas. E também trazer um bocado a missão da marca, podermos trazer algumas experiências às pessoas. Além da roupa, que é uma motivação extra para as pessoas terem um estilo de vida mais ativo e mais saudável, queremos conseguir trazer este género de experiências para as pessoas, que as ajudem a ter vidas melhores, mais ativas e também a explorarem o serem melhores pessoas.
E porquê a decisão de fazer tudo em Portugal?
MH: O meu background também é um bocadinho de desenvolvimento de produto, eu fazia calçado para marcas escandinavas, já estava muito ligada à indústria, ao fabrico, aos materiais. Antes de conhecer o Pedro já era esse o meu trabalho, mas era com calçado, não era com roupa. Por isso, sei muito bem que para este género de coisas nós tínhamos ótima mão de obra, ótimos materiais e, como é óbvio, temos orgulho em ser portugueses e ter produção cá. Sabíamos que ia ser um bocadinho difícil em termos de sustentabilidade, ainda não chegou tudo, mas as nossas coleções são para durar, não estamos sempre a lançar coisas novas todas as estações, fazemos drops de produtos que vão ficar na nossa coleção e é para durar.
PS: E também uma produção portuguesa acaba por nos dar uma proximidade muito maior com as fábricas, com as pessoas. Em três horas estamos lá, podemos ver tudo, falar com eles e estar muito mais ligados. Além, claro, de que a produção portuguesa é boa, é de qualidade e queremos apostar nisso.
MH: Para seguir o processo, para ver se é mesmo sustentável, para saber quem é que está a produzir. E o que é giro é que estamos a fazer parcerias com os fabricantes, ou seja, estamos sempre a fazer desafios. Quando eles dizem ‘isto não dá’, [nós dizemos] ‘mas veja lá, vamos criar uma coisa nova’. Por exemplo, na nossa linha seamless, se vir no mercado alguém que faça seamless geralmente é tudo justo ao corpo, mas nós queríamos mesmo ser inclusivos e oferecer a mesma elasticidade, o mesmo toque, o mesmo conforto de uma segunda pele para alguns modelos um bocadinho mais largos. As pessoas não querem sempre ter tudo justo, poderem pôr um macacão e uma t-shirt um bocadinho mais fluida.
PS: E depois o seamless também é uma construção que tem muito menos desperdício. É uma máquina que constrói a peça em forma circular, não há qualquer desperdício.
MH: O fio entra na máquina e sai o tubo exatamente com a peça, não há um centímetro de desperdício.
Quando foram aos fabricantes, conhecer os locais e as pessoas, o que é que era não negociável?
PS: A qualidade, que é um dos pontos fortes que nós temos. As pessoas tendo coisas boas, vão durar. E nós temos essa experiência de pessoas que compram e a peça é tão boa que elas compram mais. Podíamos pensar ‘ok, eu faço coisas ótimas e depois as pessoas não precisam de comprar mais’, mas não é bem assim, nós vemos o contrário. As pessoas gostam tanto que compram mais.
MH: Outra coisa também não negociável era a parte da sustentabilidade, mas não tirando na parte da qualidade. E criar uma relação saudável com os fabricantes, para podermos estar próximos, para haver transparência. Isso faz com que se possa fazer projetos melhores, transparentes, de melhor qualidade, e também ao mesmo tempo as pessoas divertirem-se porque por mais que seja business, tem de haver um bocadinho de paixão. Portanto, pessoas que estivessem interessadas em evoluir a tecnologia, a procurar coisas sustentáveis, a trabalhar em equipa.
Para alguém que viveu lá fora e esteve sempre ligado a este tipo de roupa, qual é o valor do selo Made in Portugal lá fora?
MH: Antigamente não era tão reconhecido porque a Itália sempre teve o label maior de qualidade. Hoje em dia, é dos melhores. Toda a gente quer pôr o Made in Portugal, todas as melhores marcas estão a voltar para a mão de obra portuguesa e hoje vale ouro.
PS: E é interessante que fales em Itália, porque o nosso fio do seamless é um fio italiano e é dos fios mais sustentáveis que há no mercado. A obtenção do fio faz com que consigamos reduzir 45% de emissões de CO2, na produção do próprio fio, e poupamos também cerca de 30% de consumo de água.
MH: Ou seja, nós queremos mesmo ir ao detalhe de saber qual é o fio que escolhemos, porque é que escolhemos o fio, a fábrica trabalha com o fio, como é que eles produzem. Antigamente era a fábrica que fazia muitas destas coisas, o consumidor não tinha conhecimento sequer. Aqui, no fundo, nós fomos a todos os suppliers e criámos o nosso ecossistema para conhecer tudo, ter mão em tudo e saber realmente de onde é que tudo vem. O mais sustentável é consumir um produto durante muitos anos, mas o importante é saber o mais possível de onde é que vêm as peças todas e ter controlo nisso.
Como descrevem o ciclo de vida destas peças?
MH: Até posso dar um exemplo, nos nossos primeiros protótipos eu estava grávida e foi um ótimo teste. Os protótipos chegaram eu estava mais ou menos de três meses e usei, usei, usei enquanto grávida, e usei meses e meses a seguir. Ou seja, volta ao sítio. Isto é um fio que se molda ao corpo, mas depois quando lavado com deve de ser, ou seja não se pode usar amaciador porque estraga a fibra dos elásticos, se uma pessoa cuidar bem da roupa, não secar ao sol, dura muito, muito tempo.
PS: Agora temos uma experiência de mais de dois anos de feedback de clientes e o feedback geral é que a peça continua impecável. Estamos muito contentes com esse feedback.
Quanto foi necessário para dar início a um projeto destes?
MH: Depende das produções, porque nós fomos lançando coleções. No inicio foi mais aquelas coisas como registo de marca, website, etc.. Depois fizemos faseadamente. Lançámos quatro produtos, depois mais um.
PS: Exato e cada produção tem o seu custo. Mas entre os 50 e 100 mil euros, isto já com produções grandes.
MH: E sendo que nós produzimos em fábricas grandes, não produzimos em sítios pequenos. É preciso quantidades. Um facto interessante, para pôr um fio de seamless numa máquina demora sete horas. Para demorar setes horas para pôr o fio numa máquina tem que sair bastante produção dali, não se pode fazer só 10 peças.
PS: E as melhores fábricas exigem maiores quantidades.
Qual é o vosso principal mercado?
MH: No inicio [era mais Portugal], mas temos tido muito crescimento para fora, especialmente porque estamos em concept stores como o Fitting Room, que também tem marcas estrangeiras.
PS: Já vendemos para a Europa inteira, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, países como o Koweit, não me pergunte porquê, mas que também já vendemos. Sentimos que às vezes o público português ainda não sabe apreciar a qualidade e se calhar há menos poder de compra em Portugal, infelizmente, mas o que nós temos visto é que quando o cliente tem poder de compra e conhece, toca, percebe que é bom e compra. É o que temos visto em todas as experiências que temos de mercados que fazemos.
MH: É mais decisivo na forma de comprar. E mesmo online aposta mais, vê a nossa marca e se calhar experimenta.
Preferem optar por comprar uma peça que mesmo tendo um valor mais elevado, vai sair mais barato no final porque vai durar muito tempo. Cá em Portugal ainda não há muito essa mentalidade?
MH: Está a mudar, isto vem um bocadinho também do meu lado escandinavo, eles pensam assim. Eu fui criada pela minha mãe, 100% norueguesa, que me dizia: ‘eu dou-te uma carteira boa que te vai durar, em vez de cinco que amanhã vão estar estragadas’. Eu cresci muito assim. Uso há cinco anos as mesmas calças pretas e continuam pretas. Vou escolher umas calças que me durem, compro menos e bom. Isto já está muito na mentalidade escandinava, que foi uma coisa que quisemos trazer para a marca, e realmente isso é que é ser sustentável.
Qual é a gama de preços?
PS: Agora que lançámos o jumpsuit que vai aos 115 euros, varia entre os 40 e os 115 euros.
MH: Se bem que agora vamos ter casacos também, mais perto dos 200 euros.
PS: São à prova de vento, de água, a qualidade é muito boa. Os materiais são muito bons.
MH: E ao usar material reciclado também é mais caro. É mais caro comprar um material reciclado, isso também pesa. Se é feito em Portugal, o material, os acabamentos. Mas outras parte sustentável que me esqueci é o packaging, temos o mínimo possível, não temos etiquetas, é tudo impresso. A embalar usamos sacos uma caixa reciclados, pomos o menos possível para o cliente receber o produto em boa condição. Não podemos dizer que somos 100% sustentáveis, mas é uma grande força que temos feito.
Há alguma coleção que esteja para sair?
MH: Temos casacos e estamos a trabalhar na nossa coleção tech que é mais para desportos de alta intensidade, coisas mais técnicas.
PS: Temos vários produtos para sair como fatos de treino, leggings em tech, com uma fibra diferente, mais t-shirts, camisolas. Vamos expandir a coleção bastante. Vamos apostar no calçado. Está a crescer.
MH: E como temos tido uma receção ótima no estrangeiro, vamos apostar na expansão.
Qual acham que é a realidade em Portugal em relação ao um estilo de vida mais saudável e ativo?
PS: Acho que está a mudar e acho que a covid-19 veio muito mostrar isso. Acho que as pessoas quando se viram em casa fechadas, sem poderem sair, começaram a perceber que é preciso ter este estilo de vida para conseguirmos ser pessoas equilibradas. Na nossa vida andamos sempre de um lado para o outro, isso é muito cansativo, gera muito stress e isso depois traz consequências ao corpo. Por isso temos de apostar em passar esta mensagem de: Para conseguirmos ter uma vida melhor, temos de ir por estes caminhos, temos de trabalhar um bocadinho em nós. É isso que falta e eu acho que está a mudar em Portugal agora.