A exposição “Siza”, que vai destacar a importância da permanente necessidade do desenho na extensa obra do arquiteto Álvaro Siza Vieira, o primeiro Prémio Pritzker português, é inaugurada a 17 de maio, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Dois espaços expositivos da Gulbenkian vão acolher até 26 de agosto esta exposição que será a primeira, nos últimos 30 anos, em Lisboa, pensada de raiz sobre o arquiteto, sublinha uma nota de imprensa da fundação.
Centrada no traço e no desenho de Álvaro Siza, nesta exposição será feito o cruzamento do material de arquivo depositado no Canadian Centre for Architecture, em Montreal, no Canadá, na Fundação de Serralves e na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, e ainda apresentadas peças provenientes do centro britânico Drawing Matters e do atelier do próprio arquiteto, nascido em 1933, em Matosinhos, distrito do Porto.
A exposição “vai deixar clara a necessidade que Siza tem de passar ao papel aquilo que imagina e que vê” e também o uso do “desenho como forma de pensar”, segundo o arquiteto, crítico e curador da exposição Carlos Quintans, citado pela Gulbenkian.
Álvaro Siza “desenha enquanto trabalha, quando come, nos momentos em que relaxa ao ouvir música, ao ver um filme ou enquanto conversa”, e “não há momentos em que o desenho deixe de ser uma necessidade”, assegura o curador.
A galeria principal do edifício sede da Gulbenkian será ocupada por esquissos, plantas, livros, muitos dos cadernos em formato A4, onde o arquiteto foi deixando o seu traço ao longo dos 90 anos de vida, e outros objetos – de mobiliário e design, com a sua assinatura – que fazem parte do seu universo profissional.
Álvaro Siza – vencedor, em 1992, do Prémio Pritzker, o maior galardão mundial para a arquitetura – tem desenvolvido uma atividade por múltiplas expressões artísticas, entre desenho, azulejaria, tapeçaria, escultura, design de móveis e objetos, joalharia e grafismo.
“Siza começa, desde as suas primeiras obras, a desenhar as cadeiras, mesas ou candeeiros de que necessita, e este trabalho continua e mostra-se tanto nos objetos físicos, como nos desenhos necessários para os construir, evidenciando como o seu trabalho é uma obra total, em que não abandona nenhum aspeto criativo”, refere ainda Carlos Quintans.
Esta “obra total, muita dela construída, mas muita deixada por construir”, será analisada, ao longo da galeria, através de trinta conceitos que se traduzem em verbos como aquecer, baixar, iluminar, nadar, olhar, orar, voar, indica a organização da mostra.
A acompanhar esta análise da obra, estarão 900 fotografias – expostas e projetadas – de projetos de Siza, da autoria do fotógrafo espanhol Juan Rodriguez.
O universo mais pessoal e íntimo de Siza poderá ser descoberto pelos visitantes na galeria de exposições temporárias do Museu Gulbenkian, onde estarão expostos “retratos desenhados de familiares e amigos, apontamentos, vistas das suas viagens, aguarelas, e desenhos que – à falta do seu habitual caderno A4, de uma qualquer toalha de mesa, sacos de avião, programas de exposições ou outra superfície com espaço branco suficiente para ocupar com o seu traço – são registados num maço de tabaco”.
Nesta sala serão expostas obras de sua mulher, também artista, Maria Antónia Siza (1940-1973), da filha e neto, assim como mobiliário, esculturas pessoais e peças de algumas das suas referências das artes plásticas, nomeadamente de artistas como Amadeo de Souza-Cardoso, Picasso e Matisse.
A exposição vai ser acompanhada de um programa público, que inclui visitas orientadas, oficinas de desenho, uma mesa-redonda, com duas sessões, para “Pensar Siza Vieira”, e um ciclo composto por três filmes, escolhidos pelo próprio Siza: “O Arquiteto e a cidade velha”, de Catarina Alves Costa, “Vizinhos”, de Cândida Pinto, e “A Dama de Chandor”, de Catarina Mourão.
Em 2014, o arquiteto doou o seu acervo às fundações Gulbenkian e de Serralves, e ao Canadian Centre for Architecture.
Álvaro Siza Vieira estudou na Escola de Belas Artes do Porto, onde foi professor, e tem projetos desde a Ásia à América Latina, passando pela Europa, tendo assinado em Portugal obras emblemáticas como, entre outras, a Piscina das Marés, em Matosinhos, e a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves e o Bairro do Bouça, no Porto, o Pavilhão de Portugal da Expo’98 e a reconstrução da zona do Chiado, em Lisboa, destruída pelo incêndio de 1988.
Em 2017-2018, o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, acolheu a exposição “Neighbourhood – Where Álvaro meets Aldo”, com curadoria de Nuno Grande e Roberto Cremascoli, que constituiu a representação oficial portuguesa na Bienal de Arquitetura de Veneza 2016. A mostra teve tema central o trabalho de Álvaro Siza no domínio da habitação social, nomeadamente nos bairros de Campo di Marte (Veneza), Schlesisches Tor (Berlim), Schilderswijk West (Haia), e Bairro da Bouça (Porto), enquanto reflexo de “uma compreensão democrática da cidade, da cidadania e da memória coletiva, também próxima do pensamento do seu contemporâneo [arquiteto italiano] Aldo Rossi”.
Lusa