A concretizar-se a fusão das operações de upstream da italiana Eni e da britânica bp em Angola, incluindo Gás Natural Liquefeito (GNL), irá nascer uma empresa com o terceiro portfólio mais valioso, substituindo a francesa Total, enquanto segundo maior produtor do país. Esta avaliação resulta da análise da agência especializada no setor da energia, Welligence Energy Analytics, que sublinha no estudo “Grande fusão em Angola – um sinal do que está por vir?” que “a produção de aproximadamente 250.000 bbl/d fornece uma base sólida para a nova entidade ir buscar oportunidades novas e existentes no país e fora”.
Os especialistas da Welligence antecipam que “a nova entidade tornar-se-á um dos principais produtores da África Ocidental, perdendo apenas para a estatal Sonangol em Angola, na base de trabalho”.
De acordo com a Welligence Energy Analytics, a joint-venture que resulta do memorando de entendimento não vinculativo entre as duas petrolíferas “pode trazer sinergias operacionais e criar economias de escala num país que ainda tem um potencial considerável”.
Ativo | Operador | BP % | Eni % | Conjunto % |
15/06 East Hub | Yes | 0.0% | 36.8% | 36.8% |
15/06 West hub | Yes | 0.0% | 36.8% | 36.8% |
Greater Plutonio – Block 18 | Yes | 46.0% | 0.0% | 46.0% |
PSVM – Block 31 | Yes | 26.7% | 0.0% | 26.7% |
Cabinda A | No | 0.0% | 9.8% | 9.8% |
Cabinda B | No | 0.0% | 9.8% | 9.8% |
Block 3/05 | No | 0.0% | 12.0% | 12.0% |
Block 3/05A | No | 0.0% | 12.0% | 12.0% |
BBLT – Block 14 | No | 0.0% | 20.0% | 20.0% |
Tombua Landana – Block 14 | No | 0.0% | 20.0% | 20.0% |
Kizomba A | No | 24.0% | 18.0% | 42.0% |
Kizomba B | No | 24.0% | 18.0% | 42.0% |
Kizomba C Mondo | No | 24.0% | 18.0% | 42.0% |
Kizomba C Saxi Batuque | No | 24.0% | 18.0% | 42.0% |
CLOV | No | 15.8% | 0.0% | 15.8% |
Oalia | No | 15.8% | 0.0% | 15.8% |
Girassol | No | 15.8% | 0.0% | 15.8% |
Pazflor | No | 15.8% | 0.0% | 15.8% |
Block 20 | No | 30.0% | 0.0% | 30.0% |
ALNG | No | 13.6% | 13.6% |
27.2% |
Fonte: Welligence Energy Analytics |
Os analistas da empresa de estudos de mercado antecipam mesmo que “parcerias semelhantes poderiam seguir noutros locais, com as operações da Eni e da BP no Egito a ser um candidato óbvio”.
Este negócio ainda carece do aval do governo angolano, que prefere uma distribuição mais equitativa entre as operadoras instaladas em Angola. Mas, segundo a Welligence Energy Analytics “o país precisa reter a capacidade operacional e financeira das Majors [grupo das maiores empresas de petróleo e gás do mundo] ”.
Parcerias que dão bons frutos
A agência lembra que a aposta em empresas comuns já não é novidade para as duas multinacionais, sendo que nos últimos cinco anos constituíram entidades semelhantes na Noruega que, hoje, são das maiores produtoras do país. Este modelo de joint-venture já provou dar bons frutos e está agora a dar os primeiros passos na África Ocidental, destacam os mesmos analistas.
A Welligence sublinha que a entidade que nascerá do plano ENI/bp terá capacidade de autofinanciamento e estará totalmente concentrada, na fase de arranque, em Angola. Este cenário “deve resultar em maior foco operacional e financeiro e maior hipótese para explorar as oportunidades existentes que atendam às necessidades da nova entidade” em comparação com as restantes empresas de E&P. A título de exemplo, destaca “que será uma aposta o aproveitamento total do potencial de geração de caixa de curto e médio prazo no Bloco 15/06”.
Feitas as contas, a Welligence destaca que a nova entidade terá uma das maiores carteiras de Angola, com participações em 18 projetos produtores (o Bloco 20 tem início em 2028), além da segunda maior participação no Angola LNG (ALNG). A nova empresa vai operar quatro projetos de produção, o dobro do número da Eni e da BP. E também vai herdar a operação da Eni do New Gas Consortium, um grupo encarregado de ajudar a preencher o ALNG, sendo que terá a maior participação do grupo, 37,4%. A joint-venture também terá exposição a cinco blocos de exploração (Cabinda Norte, Cabinda Centro, Bloco 1/14, Bloco 28 e Bloco 29).
Outro projeto chave de crescimento, segundo a mesma fonte, é o Bloco 15/06 operado pela Eni, onde esta já obteve um sucesso de Infrastructure-Led Exploration (ILX) no início de 2021 com a descoberta de Cuica (200-250 MMbbl no local) e tem ainda planos de perfurar mais dois poços de exploração. Os analistas antecipam que face à intenção da Sonangol vender parte da participação de 48,7% como estratégia para fortalecer a sua componente financeira, pode representar “uma oportunidade de aquisição antecipada para a nova entidade num ativo que ela controla, conhece bem e que ainda tem espaço de funcionamento”. É ainda expetável acontecer, nas palavras da agência, “um ímpeto renovado para desenvolver o cluster PAJ do Bloco 31 operado pela bp”.
Em nota de rodapé, a Welligence admite que a nova empresa poderá optar por algum desinvestimento, já que, detém várias participações pequenas e não operacionais. Por exemplo tem uma participação de 42% no complexo de projetos Kizomba operado pela ExxonMobil que já assumiu que pretende sair. Mas não é expetável que a joint-venture a reforçar a participação neste ativo. E concluem que, “dado o compromisso da Eni e da bp em reduzir as emissões de carbono, a venda de ativos mais maduros pode ser mais provável”.