Conheceram-se no liceu, estudaram arquitetura juntas e sempre quiseram ser partners in business. Mas foi numa viagem ao Brasil, assim que terminam o curso, que surgiu a ideia de criar o que hoje é uma das mais conhecidas marcas portuguesas de swimwear: a Cantê.
À FORBES, as duas fundadoras da marca, Mariana Delgado e Rita Soares, contam como tudo começou, em 2009. No dia em que iam começar a estudar para o exigente exame de entrada na Ordem dos Arquitetos, decidem, em vez, folhear um dicionário de Língua Portuguesa à procura de um nome para o projeto que tinham em mente. Começou por ser um negócio que tinham em paralelo a outros trabalhos como arquitetas, mas, rapidamente, perceberam que a Cantê tinha vindo para ficar.
Mais do que apenas uma marca de biquínis, a Cantê invoca e vende um lifestyle que a distingue dos concorrentes. A atenção redobrada que Rita e Mariana outorgam quanto à imagem da marca – das suas famosas sessões fotográficas às modelos escolhidas a dedo – é um dos maiores investimentos que fazem. Preocupadas com conforto e qualidade, as linhas que lançam são o resultado de um brainstorming de uma equipa que foi crescendo ao longo dos anos. Atualmente, contam com mais de 15 funcionários e com diversos departamentos.
Falámos, entre várias outras coisas, sobre a estratégia da Cantê nas parcerias em que se embrenham, no processo criativo por detrás da escolha dos desenhos que produzem, das modelos que elegem, e dos locais onde fazem as photoshoots. Com um pé muito sólido em piso nacional, a Cantê quer internacionalizar-se e, quem sabe, chegar ao mercado norte-americano. Ficámos conscientes, também, que é a concorrência saudável que estimula a Mariana e a Rita a quererem sempre ser melhores e mais exigentes na reinvenção constante da Cantê.
No passado dia 19 de Outubro, a Cantê que conta com loja online e física no Restelo, no Chiado, no Centro Comercial das Amoreiras e no Norte Shopping, lançou a sua primeira coleção de Outono/Inverno.
Acho que é justo dizer que, em Portugal, não há quem fale em biquínis e não pense logo na Cantê. Mas como é que tudo começou? Quando é que se conheceram?
Rita Soares (RS): A verdade é que nos conhecemos no liceu e depois ainda tirámos o curso de arquitetura juntas. Começou por ser uma relação de amizade, depois de irmãs e, logo a seguir, de business também.
Mariana Delgado (MD): Já durante a Universidade trabalhávamos muito em equipa e sabíamos que queríamos fazer algo juntas. Até os nossos professores nos diziam sempre que funcionávamos melhor em equipa do que individualmente!
Uma harmonia desde sempre, então!
MD: Desde que nos conhecemos, sim. Quando começámos a pensar no que é que podíamos criar juntas, assumimos sempre que ia ser relacionado com arquitetura. Mas, quando acabámos o curso, fomos ao Brasil passar férias e tudo mudou. Uma espécie de viagem de finalistas, em que fomos só nós as duas e mais uns amigos nossos.
RS: Quando estávamos no Brasil a nossa maior obsessão era biquínis! Só queríamos comprar biquínis. Aliás, uma pessoa ia ao Brasil comprá-los! Lembro-me que várias amigas nossas, e outras pessoas da nossa família, nos pediram logo para lhes trazermos alguns da nossa viagem. Era mesmo um fenómeno comum.
E foi essa viagem que vos inspirou a criar a Cantê?
RS: Sim, foi a viagem que nos fez pensar neste negócio. Estávamos numa loja de biquínis quando o Diogo, que agora é o marido da Mariana, mas que na altura eram apenas namorados, comentou que não existia nenhuma marca do género em Portugal. Disse-nos que devíamos pensar sobre o assunto e a verdade é que eu e a Mariana viemos para Lisboa com isso na cabeça!
MD: Quando cá chegámos, decidimos que devíamos tentar começar a desenhar os nossos próprios biquínis. Tínhamos alguns medos, claro, porque no fundo era uma coisa completamente nova. Começámos logo a pensar se isto era uma ideia que ia funcionar cá, a pensar no negócio em si, em nomes para a marca, etc.
Mas tinham acabado de terminar o vosso curso – que é um curso comprido e exigente, ainda por cima – e, de repente, queriam mudar de direção.
MD: Exatamente. Quando apresentámos a ideia aos nossos pais e dissemos-lhes que queríamos lançar uma marca de swimwear, foi um choque grande lá em casa. Disseram-nos logo que éramos ‘malucas’! Que era um negócio completamente sazonal e arriscado, que tínhamos é de pensar no curso que tínhamos acabado de terminar, etc.
RS: Mas não nos detiveram. Ainda por cima, ambas éramos muito certinhas: apresentámos as nossas ideias de uma forma muito organizada, sempre fomos alunas aplicadas, chegámos a entrar para a Ordem dos Arquitetos, fizemos o exame à Ordem…
Ou seja, apesar de ser uma ideia que lhes parecia muitíssimo arriscada, os vossos pais também sabiam que vocês as duas eram pessoas com muita consciência do que estavam a arriscar…
RS: Sim! Mas, exatamente no dia em que nós íamos começar a estudar para o tal exame à Ordem, eu mostrei à Mariana uma série de pesquisas que tinha estado a fazer… e os olhos da Mariana brilharam! Foi do género: temos de fazer isto agora. E, em vez de estudar, fomos logo buscar um dicionário.
MD: Começámos à procura de palavras num dicionário de Língua Portuguesa, para darmos um nome ao nosso negócio: tínhamos de ter um nome para começar.
MD: Folheamos várias páginas. Passámos o A, o B… E, quando chegámos ao C, encontrámos uma palavra: canté. A descrição da palavra era ‘oxalá se Deus quiser’. Olhámos uma para a outra e percebemos de imediato que era aquele o nosso nome. Era exatamente aquilo que estávamos a fazer – a começar um projeto, do nada, com uma filosofia de ‘oxalá se Deus quiser’!
Quase que um sinal de que era mesmo suposto avançarem. Mas alteraram o acento: mudaram de ‘canté’ para ‘cantê’.
RS: Sim, achámos que o acento circunflexo invocava melhor o ‘ar de praia’. No fundo, parece-se com um guarda-sol. Era uma forma de juntar o útil ao agradável, de ter uma palavra com um significado especial e com uma alusão tácita à praia.
E isto em 2009, no auge da crise.
MD: Exatamente. E achamos que isso é uma coisa importante de referir também. Havia muito pouco trabalho em arquitetura. Muitos dos nossos amigos estavam a trabalhar fora, ou pro bono, ou estavam a ser despedidos e/ou a ter de ir para outros países. E isso fez-nos sentir que não era um risco demasiado grande o lançamento de um negócio novo, já que arranjar trabalho na nossa área ia ser muito complicado à mesma.
RS: Sim, foi uma fase complicada para o mundo inteiro. Acho que o estarmos conscientes do que se estava a passar com amigos nossos nos deu uma força extra para avançarmos. E não estávamos a perder nada de concreto!
Sim, se sentiram que era uma altura em que não iam perder nada, why not? Mas, durante o primeiro ano da Cantê, ainda faziam outros trabalhos em paralelo, certo?
RS: Sim. Quando a Cantê começou, nós íamos fazendo alguns trabalhos de arquitetura aqui e ali. Diria que eram esses trabalhos que nos sustentavam durante o primeiro ano da marca.
MD: A Cantê começou ao mesmo tempo que fizemos os nossos estágios para a Ordem. Trabalhávamos em ateliê, portanto dava para ir fazendo as coisas em paralelo, nunca perdendo aquele tempo necessário que precisávamos para saber íamos conseguir lançar a marca.
E na altura era mais difícil, digo eu, ‘começar do nada’.
MD: Sim, e o Instagram nem existia, tínhamos só o Facebook. Até convencer fábricas a quererem trabalhar connosco era complicado. Cada vez que contactávamos uma fábrica, as perguntas eram sempre as mesmas. Já têm marca criada? Têm quantidades mínimas? E ouvíamos ‘não’ atrás de ‘não’. Até que, um dia, fomos ao norte e tivemos uma reunião com uma fábrica de swimwear, que é das maiores, em Portugal.
RS: Foi uma reunião interessante porque deram-nos um ‘não’, que era um ‘sim’; mas mais tarde. Ou seja, disseram-nos que era uma coleção muito gira e que acreditavam muito na nossa marca. Percebemos que a Cantê tinha pernas para andar, mas que só nos faltava ter as quantidades necessárias para produzir com eles.
O que continuava a ser um ‘sim’, mas complicado.
MD: Sim. Mas foi uma grande ajuda para nós. Disseram-nos o que devíamos de fazer e como fazê-lo, que íamos conseguir e que, um dia, íamos lá voltar para trabalhar com eles. E assim foi. Tivemos imensa guidance durante o processo.
RS: Sim. Aconselharam-nos a começar com um ateliê mais pequeno, com quantidades menores, e a ir a uma feira, por exemplo.
E foram à tal feira?
MD: Fomos a uma feira, em Paris. Conhecemos pessoas com quem ainda hoje trabalhamos, uns fornecedores e representantes de uma marca italiana de licras. Também nos ajudaram na altura, o que foi engraçadíssimo, porque vieram ter connosco depois de me verem a mim e à Rita meio perdidas no meio da feira.
RS: E, entre mil e uma tentativas, lá conseguimos arranjar um ateliê mais pequeno, onde começámos a nossa primeira coleção. Estamos a falar de 300 unidades, mais ou menos. Tudo desenhado por nós.
E onde é que era o vosso primeiro ateliê?
MD: Lembro-me que arranjámos um espaço na antiga Universidade Moderna, que estava meio abandonada. Éramos duas marcas e um estúdio de design no local. Basicamente nós e a Ripcurl, ao lado. Aliás, era um pânico entrar lá. Havia um porteiro apenas, e uma pessoa entrava numa Faculdade gigante e abandonada, subia umas escadas, andava por uns corredores compridos e, assim num cantinho lá ao fundo, estava a Cantê.
RS: Abrimos uma página no Facebook e estávamos nervosíssimas a cismar se já tínhamos encomendas. Um dia tivemos três encomendas, depois seis… e investíamos tudo de volta na empresa. Começámos a ter procura – não só a nível de encomendas; e, de repente, os clientes queriam experimentar a roupa!
MD: Ocupámos um espaço, que tinha uma cortina. As pessoas iam lá experimentar as nossas peças, numa antiga sala de reuniões com aspeto de estar abandonada, com cadeiras e mesas de escritório. Mas os clientes continuavam a querer ir lá e, de facto, a vir ter connosco.
A Cantê começou a ganhar outra escala, portanto.
RS: Sim, às tantas começámos a pensar que era necessário abrir um espaço maior para receber os nossos clientes. Foi a prova que havia um interesse genuíno na marca. Chegámos ao fim desse Verão e já tínhamos esgotado a nossa coleção. Logo no nosso primeiro ano.
MD: Com a força de uma rede social e com o ‘passa-palavra’ habitual. Lisboa é do tamanho de uma ervilha e, com certeza, que as nossas primeiras clientes foram amigas e conhecidas de amigas.
E foi tudo investimento próprio?
MD: Sim. Foi tudo um investimento feito com o lucro de trabalhos que fazíamos em paralelo, os tais trabalhos de arquitetura. Para conseguir lançar coleções e, no fundo, fazer disparar a marca. Depois abrimos uma primeira loja, em Belém.
RS: Quando abrimos a loja, teve imensa graça. Tivemos uma fila absolutamente gigante à nossa porta. E a loja foi toda construída por nós, até os nossos provadores fomos nós mesmas que os fizemos. Fazíamos mesmo tudo: a gestão do espaço, o atendimento ao público, éramos as duas as responsáveis pela loja online, desenhávamos as coleções, tratávamos das encomendas, etc.
MD: Se nos ligavam a pedir para falar com o departamento de marketing (que não existia), eu passava o telemóvel à Rita, e vice-versa. Foi uma fase com muita piada.
E estavam a ser ‘forçadas’ a crescer, novamente!
RS: Sim, percebemos que aquela loja era demasiado pequena, também. Só haviam dois provadores e a fila era sempre enorme. As pessoas ficavam chateadíssimas connosco porque tinham de esperar para entrar na loja para experimentar as nossas peças. Procurámos uma loja maior e encontrámos uma, no Chiado.
Um crescimento muito rápido, e vocês sempre a ter de expandir… ‘Oxalá, se Deus quiser’.
MD: E Deus quis! Sempre achámos que íamos para o Chiado, no futuro, mas não que ia acontecer de maneira tão rápida. Quando encontrámos a loja, ainda tivemos de fazer uma apresentação à dona da mesma, porque várias marcas estavam interessadas no espaço.
RS: Tivemos uma entrevista, até. Mas gostaram imenso de nós e nós deles. Fizemos o nosso projeto de arquitetura para a loja e, pronto, começámos ali.
Têm sempre um ateliê in house?
RS: Sim, no Restelo e no Chiado. Gostamos muito de ouvir os nossos clientes e a ideia de conseguirmos estar perto da loja, enquanto trabalhamos no ateliê, sempre foi muito importante para nós. Eu e a Mariana ficávamos a ouvir o feedback do público, diretamente, e era assim que aprendíamos e nos apercebíamos daquilo que precisava de mais trabalho. De forma a ir ao encontro do que as pessoas procuram, claro.
MD: Ainda hoje mantemos essa proximidade com o cliente. Tentamos sempre assegurar essa relação que temos com eles. A Rita não gosta tanto, mas eu, por exemplo, adoro vendas. Adoro ir para a loja vender, falar com as clientes e saber o que é que elas acham. Imensas clientes querem dar-nos ideias e eu peço sempre para me mostrarem do que é que estão a falar. Gosto de ver as fotografias que me mostram. E, a verdade, é que ouvimos sempre o feedback que nos dão. Nós pensamos seriamente no que nos dizem.
E, agora, continuam no Chiado, mas a vossa sede é no Restelo.
RS: Sim. À medida que fomos crescendo percebemos que precisamos de um sitio ainda maior. A equipa começou a crescer, a loja online ganhou uma dimensão enorme, e não fazia sentido ter dois escritórios no Chiado.
Noto que a Cantê destaca-se, também, por vender mais que apenas biquínis e fatos-de-banho. Aliás, há toda uma arte por trás da vossa imagem e do cuidado que têm com a mesma.
RS: Sim, eu e a Mariana sempre achamos importante tentar desenvolver mais do que apenas uma marca de swimwear. Sempre pensámos na Cantê como uma marca de lifestyle. Ou seja, em vez de vender só um produto, também queríamos vender um estado de espírito. As nossas sessões fotográficas, a imagem, as pessoas que convidamos para serem modelos da marca… faz tudo parte de vender um espírito de verão. A nossa imagem é dos nossos maiores investimentos.
MD: A filosofia da marca fez com que pessoas quisessem ter uma “peça Cantê”. Tentámos sempre continuar no topo do mercado e dar aos nossos clientes a sensação de que estão a comprar um biquíni especial. Claro que a nossa imagem foi evoluindo com o passar dos anos, e cresceu muito connosco.
Outra preocupação da Cantê é o conforto e a qualidade das linhas que lançam.
RS: Sim, queremos que as nossas peças sejam o mais confortável possível e que se adaptem o melhor possível a diferentes corpos. Temos uma linha em que vendemos as partes de cima e de baixo, em separado, e, ao longo do processo criativo das nossas coleções, fazemos questão de ter modelos que favorecem pessoas diferentes.
MD: Não conseguimos ter peças que, efetivamente, sejam adequadas para todos os tipos de corpos. Daí o nosso cuidado em ter coleções diferenciadas. Até depois do processo criativo, já numa fase em que temos protótipos, usamos muito do nosso tempo a experimentar os mesmos modelos em pessoas com fisionomias diferentes.
Um approach que se foca em diversidade…
RS: Sim. Temos tamanhos diferentes e as nossas coleções são abrangentes. Em 2019, lançámos a nossa linha de Basics, e as nossas clientes podem escolher a partes de baixo e cima diferentes, e em tamanhos diferentes.
Hoje em dia, quem desenha as peças?
MD: De início, éramos nós as duas. Mas agora temos uma equipa muito maior. Temos três designers de produto. Uma pessoa mais focada em roupa, e duas mais focadas em acessórios, peças de crianças e de homem, etc. Temos uma equipa de produto, também.
E como é que é o vosso processo criativo? Como é que pensam nas vossas coleções?
MD: É um processo muito guiado pelo nosso instinto. Juntamo-nos e pensamos em várias coisas: temas, viagens, países, cores, etc. Depois temos uma discussão em equipa e decidimos que queremos explorar dois ou três temas.
RS: Claro que às vezes existem tendências e temos atenção a isso também, mas gostamos de ser originais e criar peças que não sejam apenas trends. Podemos levar padrões, cores e tecidos que gostámos, por exemplo, à nossa equipa. Como a Mariana disse, às vezes só o pensar numa localização pode ser o início de um processo criativo nosso. Em paralelo, a nossa equipa de marketing começa a fazer pesquisas, a pensar nas pessoas com que poderíamos trabalhar, que tipo de ativações é que poderíamos fazer, que tipo de comunicação, etc.
Claro! E também fazem parcerias como outras marcas, o que é muito vantajoso para ambas e é uma estratégia vossa recente.
RS: Sim! É uma vertente que andamos a explorar nos últimos anos. Acho que esta relação entre marcas é algo muito vantajoso, de facto, e faz-nos explorar áreas que acabam por nos complementar. Por exemplo, com a Samsung, a Somersby, etc.
MD: Quando fazemos grandes lançamentos é sempre bom ter estas marcas presentes, ajudam a criar ambientes diferentes. Ficamos com um leque de possibilidades criativas, a nível de ativações de marca e de marketing, em que não só criamos momentos únicos como desenvolvemos conteúdos dinâmicos e interessantes.
Claro, e dá à Cantê a oportunidade de se debruçar sobre assuntos diferentes.
MD: É verdade. Por exemplo, trabalhamos com marcas que dão muita importância a questões ambientais, que também são importantes para nós, e acabamos por incorporar esses elementos nas nossas campanhas e eventos. Temos, também, marcas mais viradas para lifestyle e o lado mais animado da vida. Temos de saber jogar com esses componentes.
RS: E temos um segmento, em loja, chamado ‘In the closet’, em que convidamos pessoas a fazer o seu próprio styling com algumas das nossas peças.É uma parceria com a Samsung e as nossas convidadas fotografam-se com um telemóvel da marca, para mostrar ao nosso público os conjuntos e combinações que escolheram.
Recentemente, apareceram quiosques da Cantê no Centro Comercial das Amoreiras e no Norte Shopping. São novos pontos de venda permanentes, não é?
MD: Sim! São pontos de venda permanentes, num formato quiosque, em ambos os centros comerciais. Aliás, fomos nós que desenhámos os quiosques!
RS: Foi um processo criativo e desafiante. Do desenhar o espaço à escolha dos materiais utilizados. Existem limitações, como por exemplo a altura das bancadas, e fomos obrigadas a ser originais no desenho dos espaços designados para arrumação.
MD: Acabámos por escolher os centros comerciais que mais se enquadravam com a nossa marca. Ter uma loja implica um investimento muito maior e, desta forma, estamos presentes em superfícies com taxas de ocupação elevadas.
Claro. É uma estratégia que vos põe ainda mais no mapa, sem os custos inerentes aos de ter uma loja ‘inteira’. E dá uma outra visibilidade à marca por se tratarem de espaços que estão nas praças abertas dos centros comerciais.
MD: Exatamente! E temos provadores nos nossos quiosques, algo em que fomos pioneiras. É, também, uma forma de garantir a nossa presença em locais premium e em áreas com um fluxo grande de pessoas. Ambas as localizações têm parques de estacionamento, o que é uma enorme vantagem para as nossas clientes.
E que tamanho tem a Cantê, atualmente? Já falámos da equipa criativa e da equipa de produtos, mas nota-se que é uma empresa já com alguma dimensão.
MD: Somos nós as duas, a equipa criativa e de produtos, como mencionámos, temos três pessoas no departamento de marketing e comunicação, temos um departamento de logística, uma pessoa para o controlo de qualidade, a financeira, gerente de loja, uma pessoa para a loja online e e-commerce… Acho que já somos 16 ou 17, salvo erro!
RS: E as pessoas que trabalham em loja, claro. De facto, temos um número de pessoas pelas quais somos responsáveis e temos várias em cada departamento para garantir que o negócio flui. Há uma complexidade grande em negócios que atingem esta escala.
E não é só complexidade inerente no criar de uma empresa – negócios como o vosso obrigam-vos a pensar em vários outros fatores externos e internacionais, até. Com importações e exportações, por exemplo.
MD: É verdade. Da crise económica à pandemia. E, mais recentemente, à guerra atual. Mesmo antes da guerra, os preços já estavam a subir. Agora subiram ainda mais. Nós dependemos de produtos e fábricas de fora. Diria que 80% dos nossos materiais vêm de piso estrangeiro. Hoje em dia não podemos olhar apenas para a conjuntura política e económica de Portugal. Há coisas que não me afetam a mim diretamente, mas podem afetar os meus produtores noutro país.
RS: Desde novas políticas, a relações diplomáticas, à inflação… Depois temos de fazer uma nova gestão das nossas margens, dos nossos preços finais, impostos, etc. Estamos a passar uma fase em que os preços aumentam, mas o poder de compra diminui. É desafiante. Assim como a pandemia foi desafiante, também.
Claro. São alturas em que o foco não é tanto crescer como é sobreviver.
MD: Exatamente. Aliás, foi isso, precisamente, que disse à Rita. Foi o que fizemos durante a pandemia – e aprendemos imenso. Foi interessante para nós, como empresa, perceber que o trabalhar à distância não é um bicho de sete cabeças. É possível e é-nos muito útil em várias ocasiões.
RS: Claro que certos trabalhos, ou fases específicas dos nossos projetos, requerem o estar presente, aqui connosco. Mas a flexibilidade hoje em dia é diferente. É possível fazer certas coisas a partir de casa. Inclusive, uma das nossas colaboradoras de marketing vive no Rio de Janeiro e trabalha de lá o tempo inteiro.
MD: E, por outro lado, temos um espaço agradável e a nossa equipa sente-se à vontade em trazer os filhos para o escritório quando seja necessário. É um ambiente laidback e gostamos de manter e transmitir esse sentimento de liberdade.
Sim, notei logo, quando entrei, que é um ambiente de forte cumplicidade entre todos vocês.
MD: É um ambiente muito tranquilo. Eu própria trago os meus filhos para o escritório, seja depois da escola ou porque eu tinha de trabalhar um pouco mais. Eles adoram viver um bocadinho este mundo, o mundo dos pais. Não há nada melhor que conseguir tê-los por perto.
RS: O que tentamos incutir aos nossos colaboradores é um sentimento de responsabilidade, sem que isso infrinja a autonomia deles. As coisas têm de ser feitas, há deadlines a cumprir, mas cada pessoa gere o seu tempo da forma mais produtiva possível. Para nós o importante é manter qualidade: nas nossas criações propriamente ditas e no local de trabalho.
E essa afinidade acaba por se refletir no vosso apoio ao cliente…
MD: Sim, quisemos simplificar ao máximo a forma como os nossos clientes nos podem contactar. Até a Constança, que é responsável pelo nosso site, aconselha algumas das nossas clientes por telemóvel. E, se clientes vêm ter connosco à loja porque precisam de ajuda com as peças que compraram ou querem comprar, estamos aqui para os ajudar.
Agora estão a querer explorar um bocado mais a vossa presença online, não é?
MD: Sim, lançámos o nosso novo site, recentemente. É uma maneira de podermos explorar muito mais esse mundo. Com campanhas direcionadas a certos clientes, por exemplo. Agora temos mais liberdade para pensar no nosso visual marketing, o que não conseguíamos com os nossos sites anteriores.
RS: Estamos, também, a tentar dar um novo passo com a Cantê – o de ter campanhas específicas e direcionadas para diferentes mercados. Ou seja, termos uma certa imagem em Portugal, outra nos Estados Unidos, ou no resto da Europa. A nossa intenção é de trabalhar nos distintos mercados de forma diferente.
É uma marca com muito potencial lá fora e com uma estrutura que parece sólida para se conseguir avançar nessa direção. A Cantê vende bem internacionalmente?
MD: Sim. E, apesar do nosso mercado ser maioritariamente o português, vendemos para fora e a marca tem tudo para crescer a nível internacional. O nosso segundo maior mercado é o espanhol. Também vendemos para outros países na Europa, para França, Alemanha, Holanda, Itália…
RS: É curioso porque antes do Brexit vendíamos muito para Inglaterra! Sentimos uma redução nas nossas vendas para o Reino Unido; costumava ser dos nossos maiores clientes, logo a seguir a Espanha. Claro que também vendemos para os Estados Unidos, mas mais pontualmente.
E é um mercado que está na vossa ‘mira’? O mercado norte-americano?
MD: Certamente. É dos nossos objetivos. Com o nosso novo site começámos já a pensar na nossa comunicação para o público americano. Seria um ponto muito importante, e de viragem, para a Cantê. Aliás, muitas das feiras a que vamos, de swimwear, são nos Estados Unidos.
Outro ponto que acho relevante mencionar, é o impacto da vossa conta de Instagram no público. Existe muito uma imagem geral do que é que é ‘Cantê’. E vários dos vossos destinos de campanhas ficam rapidamente ‘na moda’.
MD: É verdade. E a localização das nossas fotografias é muito importante para nós. Não é só o produto em si, pensamos em tudo: na localização, nas modelos, nos ângulos… Gostamos de ter harmonia no nosso feed e, até durante as sessões fotográficas, já estamos a pensar no conteúdo específico para os posts e para as stories. São diferentes, mas fluem. Tudo isto acaba por ajudar a construir uma imagem coletiva do que é a Cantê.
RS: Acontece muitas vezes clientes nossas pedirem-nos dicas sobre os sítios onde vamos fotografar. Por exemplo, quando fomos à Madeira ou a Maiorca. Gostam de saber onde ficámos, onde tirámos certas fotografias, etc.
Mas, visto que isso acontece, não são patrocinadas pelos locais ou por estabelecimentos locais dos sítios que visitam enquanto marca?
MD: Somos, sim. Quando ficámos na Madeira, fizemo-lo com o apoio do Turismo da Madeira. Eles viram em nós um potencial para os dar a ver, também. Hoje em dia, marcas vêm-nos como um canal de comunicação. O nosso público é interessante para outras marcas.
RS: Também conseguimos fazer parcerias com hotéis, às vezes. É do interesse deles que os ajudemos a publicitar o espaço, por exemplo. E os nossos clientes acabam por ficar a saber sobre novos sítios a visitar também.
E como é que a Cantê escolhe as suas novas caras? Continua a ser um fenómeno esperar pelas vossas campanhas e tentar descobrir quem são as vossas modelos.
MD: É verdade! Há um interesse muito grande, do público, em saber com quem vamos trabalhar. Acho que, em geral, trabalhamos muito com belezas naturais. Modelos mais next-door, sem muita maquilhagem e em poses mais naturais ou ‘orgânicas’.
RS: Sim, não é muito editorial. Mais, até, porque queremos invocar um lifestyle, também.
Claro, a imagem de marca está lá patente. E quantas linhas tem a Cantê? Porque agora existe uma variedade grande, que abrange um público maior.
MD: Sim, é verdade. Temos o My First Cantê, uma linha para crianças, com materiais orgânicos; a linha Cantê, que é a nossa principal; a linha Basics, em que exploramos o lado mais artístico da Cantê; temos lingerie, desporto, e uma linha de homem, a Molkot.
RS: Dentro da Cantê, temos os biquínis, a roupa, os acessórios… E queremos continuar a fazer crescer as linhas de roupa e acessórios!
Estão sempre a crescer e a adaptarem-se ao mercado. Como é que acham que se conseguem manter no topo?
MD: Acho que existir concorrência é muito saudável. Exige de nós o sermos mais exigentes e a saber querer ser sempre melhores no que fazemos.
RS: É verdade. Atualmente existem marcas com identidades muito próprias e é muito saudável que isso subsista no mercado. Concordo que faz-nos ser mais diligentes e querer estudar os mercados deles, mesmo que comuniquem para outros públicos.
MD: O facto de nos conseguirmos manter no topo vem muito disso, também. Sentimos a necessidade de nos ir reinventando e de continuar interessantes. A exigência está aí.
Por último, a Cantê acabou de lançar a sua primeira coleção de Outono/Inverno: Let’s color the season. Como surgiu a ideia desta vossa novidade?
RS: A Cantê tem-se firmado cada vez mais como uma marca de lifestyle e não só de swimwear. Portanto, sentimos que fazia todo sentido desafiarmo-nos numa nova estação para levar ainda mais a nossa essência para o dia-a-dia das nossas clientes.
MD: Colorir o inverno foi mesmo o nosso mote, e faz parte do que somos enquanto marca.
É uma coleção que se mantém fiel ao ADN da Cantê. O que esperam com este novo desafio? E como difere do que fizeram até hoje?
MD: Pensámos numa coleção que trouxesse o ADN Cantê através das cores e estampas florais, aplicadas em peças para usar em momentos casuais ou até mesmo em ocasiões especiais. A intenção é mostrar que a Cantê pode ir da praia à cidade, sem perder o seu ADN e isso é o que esperamos que as clientes entendam, que podem estar connosco o ano inteiro.
RS: Até agora tínhamos explorado uma linha de roupa mais alargada mas não como protagonista, e é por isso mesmo uma grande aposta e conquista para nós.