Segundo o mais recente estudo do Capgemini Research Institute, “People Experience Advantage: How companies can make life better for their most important assets”, apenas 28% dos trabalhadores que não desempenham funções de gestão afirmaram estar satisfeitos com o seu trabalho. No entanto, 80% dos gestores acreditam que os seus colaboradores estão satisfeitos.
A análise identifica quatro fatores como principais obstáculos à satisfação dos trabalhadores: os desafios em torno da progressão na carreira e do desenvolvimento de competências; os comportamentos e as relações com os seus gestores; a compensação e o reconhecimento; e ainda os dados e a tecnologia.
Este documento, que teve por base um inquérito a 2.250 trabalhadores pertencentes a 750 organizações, destaca ainda as principais medidas que as empresas e os seus gestores devem tomar para colmatar a lacuna que existe entre a sua própria perceção e o nível efetivo de satisfação dos seus colaboradores, de modo a manterem-se competitivas e reterem os seus talentos.
“Muitos trabalhadores, impelidos por um mercado de trabalho extremamente ativo e por preocupações económicas e financeiras, têm vindo a reavaliar a sua vida profissional”, assinala o estudo da Capgemini.
O estudo revela que 34% dos trabalhadores inquiridos planeiam deixar a empresa onde estão atualmente no prazo de um ano, e que destes, a maioria (66%), planeia fazê-lo já nos próximos três a nove meses.
Ainda que os valores adequados dos salários constituam um dos principais fatores no que diz respeito à satisfação dos assalariados, mais de metade dos trabalhadores abrangidos pelo estudo (52%) afirmou que, continuariam a considerar abandonar o seu atual empego, mesmo que lhe fosse oferecida a mesma posição noutra empresa com o mesmo nível de remuneração.
Mais de metade admite sair da empresa, mesmo que seja para ir ganhar o mesmo noutro lado.
“Esta tendência reforça a necessidade de as empresas agirem rapidamente no sentido de reforçarem a retenção dos seus principais talentos”, adverte a consultora.
Ao invés, 97% dos trabalhadores que têm experiências positivas com o trabalho, manifestaram a sua intenção de continuarem na mesma empresa onde estão durante o próximo ano. E 96% revelaram que se sentem enquadrados e motivados.
A análise conclui que as experiências positivas no trabalho são essenciais para a saúde das empresas e que podem mesmo ter um impacto económico positivo. De facto, cerca de metade (48%) dos gestores das empresas onde foram reportadas experiências de trabalho positivas, afirmaram que o nível de satisfação dos seus clientes melhorou como consequência indireta.
Discrepância de opiniões entre gestores e colaboradores
Apesar de 92% dos gestores inquiridos acreditarem que as suas equipas são felizes no trabalho, o estudo aponta que apenas 30% dos trabalhadores partilham desta opinião.
Estabelecer o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal continua a ser uma preocupação fundamental para todos, com 65% dos trabalhadores e 61% dos gestores a citá-lo como o aspeto mais importante da sua experiência profissional.
A necessidade de alcançar um equilíbrio real continua a ser uma das principais preocupações dos colaboradores, uma vez que apenas 29% consideraram que podem ausentar-se, e só 28% afirmou que o seu horário de trabalho é suficientemente flexível para lhes permitir conciliar trabalho e vida familiar e pessoal.
Outra preocupação crítica para os trabalhadores, está relacionada com o propósito do seu trabalho – isto é, saberem porque fazem o que fazem. Perto de três quartos dos inquiridos consideraram que este é mesmo o aspeto mais importante de todos na sua experiência laboral.
“Assegurar que os colaboradores têm uma compreensão correta e completa das funções que desempenham, bem como de quais são as perspetivas de progressão na carreira e do potencial de crescimento que podem esperar alcançar nas empresas onde trabalham, são aspetos fundamentais para melhorar a sua experiência e aumentar os níveis de retenção de talento nas empresas”, sublinha a Capgemini.
“Sentido de autonomia e confiança entre os colaboradores é fundamental para o sucesso do modelo de trabalho remoto”, apontam os analistas.
O estudo alerta também que à medida que as empresas vão desenvolvendo uma relação de equilíbrio entre os modelos de trabalho remoto e presencial “torna-se imprescindível que prestem uma maior atenção à flexibilidade”.
Quase cerca de metade dos trabalhadores inquiridos (48%) e 87% dos gestores estão satisfeitos com a oportunidade de trabalharem de forma remota. “Estes dados corroboram as conclusões avançadas por um estudo anterior que revelou que 66% dos colaboradores que se sentem micro-geridos são também aqueles que afirmaram que estão cansados do trabalho remoto. Daqui se infere que incutir o sentido de autonomia e confiança entre os colaboradores é fundamental para o sucesso do modelo de trabalho remoto”, apontam os analistas.
As oportunidades de formação são importantes, mas são negligenciadas pelas empresas, salienta este inquérito.
A aprendizagem e o desenvolvimento de competências também são destacados pelos trabalhadores como sendo aspetos importantes (65%). No entanto, apenas 28% declararam que o seu trabalho lhes permite aprender e desenvolver novas competências. As empresas têm, portanto, aqui uma grande oportunidade para colmatar esta lacuna.
Redefinir a estratégia de RH
O estudo recomenda às empresas “que desenvolvam uma estratégia de Recursos Humanos (RH) interfuncional para proporcionarem uma experiência inclusiva a todos os seus colaboradores, independentemente da sua faixa etária, das funções que estes desempenham, ou/e do estatuto que possuam. Esta estratégia poderá contribuir para consolidar experiências díspares e criar uma cultura corporativa mais consistente e homogénea”.
Claudia Crummenerl, Head of Workforce and Organization, Enterprise Transformation da Capgemini Invent, enfatiza que “as organizações precisam não apenas de repensar os habituais ciclos de gestão de talentos e de considerarem os seus trabalhadores como ‘consumidores de serviços’, mas também de terem em conta a experiência dos seus colaboradores na sua globalidade, incluindo o trabalho diário. Estes momentos, sobretudo o da criação da confiança no trabalho e a atribuição de tarefas em modo remoto, são mais importantes para a perceção do que é uma experiência positiva de trabalho, do que apenas as etapas habituais do ciclo de vida dos RH”.
Claudia Crummenerl entende que “é verdadeiramente crucial as empresas escutarem os seus colaboradores. É igualmente imperativo as empresas promoverem uma cultura de bem-estar dos seus colaboradores e incentivarem a aprendizagem contínua, para reduzirem o fosso de perceção que existe atualmente entre os trabalhadores e os seus gestores. A tecnologia tem um papel fundamental a desempenhar na criação de uma cultura de trabalho colaborativa e na disponibilização das ferramentas adequadas para os colaboradores realizarem o seu trabalho de forma eficaz”.
“É imperativo as empresas promoverem uma cultura de bem-estar dos seus colaboradores e incentivarem a aprendizagem contínua, para reduzirem o fosso de perceção que existe atualmente entre os trabalhadores e os seus gestores”, diz Claudia Crummenerl, da Capgemini.
O estudo recomenda que, no âmbito da gestão da sua força de trabalho, as empresas desenvolvam uma estratégia de RH que considere oferecer novas oportunidades de aprendizagem que aumentem o valor dos colaboradores para a empresa e liguem as funções do trabalho aos resultados, detalhando claramente as oportunidades de formação e o potencial de desenvolvimento das suas carreiras.
“Para isso, as empresas precisam de formar os seus gestores para serem genuinamente empáticos, para ouvirem os seus colaboradores e para serem capazes de os empoderar através de uma cultura de aprendizagem contínua”, remata a Capgemini.