O ano ainda não acabou, mas o surf nacional já recebeu uma das melhor noticias que poderia receber em 2023: Portugal está novamente representado no circuito mundial. Frederico Morais conseguiu a qualificação no Brasil, ao assegurar uma das 10 vagas em jogo. Poucos dias depois da conquista, o surfista falou com a Forbes Portugal sobre este regresso, o caminho até aqui e o exemplo que quer deixar aos mais jovens.
O que significa para ti este regresso à elite do surf mundial?
É o resultado de muito trabalho e muita dedicação ao longo deste ano. Eu caí do tour a meio de 2022 e a partir daí sabia exatamente aquilo que queria. Sabia que ia ser um objetivo difícil de alcançar, cada vez mais o circuito de qualificação está renhido, muito mais intenso, é realmente um grande desafio, mas eu sabia que estava à altura, sabia que conseguia. É um sentimento de conquista e alegria enorme.
O que te passou pela cabeça antes da bateria?
Passou muita coisa. Desde achar que não me ia qualificar, que me ia qualificar, que ia ser o 11.º, que ia ficar a uma vaga. Houve muitos pensamentos bons, maus, duvidosos, mas ao fim do dia acreditei em mim mesmo, em todo o processo, em tudo aquilo que fiz, limpei esses pensamentos da minha cabeça, foquei-me naquilo que conseguia controlar, que era o meu surf, as ondas que escolhia, aquilo que eu fazia nelas. Aquilo que basicamente dependia de mim. E foi isso que levei para aquela bateria que me deu a qualificação. Realmente sair daquela bateria e receber a notícia que tinha garantido a minha vaga, não por alguém ter perdido, mas sim por eu ter continuado a avançar no campeonato, foi uma satisfação imensa. Foi brutal. Tanto que me emocionei, partilhei essa emoção com o meu treinador, porque ambos sabemos que temos de dar muito de nós para alcançar estes objetivos.
O que é que esta conquista diz sobre o surf português?
Acho que o surf português está num bom caminho. Temos bastantes apoios, temos muitos campeonatos, uma costa cheia de ondas. Agora é estes jovens que aí vêm terem este espírito de sacrifício, a capacidade de se dedicarem e de acreditarem neles mesmos. Que conseguem estar ao nível dos outros surfistas. Eu acredito neles, mas o mais importante é eles próprios saberem que conseguem e continuarem a trabalhar para crescerem cada vez mais.
Numa entrevista para a WSL disseste que passaste por momentos difíceis, como é que foi o processo de superar esses momentos e conseguir esta conquista?
Quando eu caí do tour em 2022 sem dúvida alguma que muitas coisas me passaram pela cabeça. Não é fácil, trabalhamos muito para alcançar os nossos sonhos e os nossos objetivos, e depois a seguir a cinco etapas voltamos tudo para trás. É bastante complicado, é duro para qualquer surfista. Eu tive ali alguns momentos em que me questionei a mim mesmo se ainda tinha o desejo e a vontade de voltar a competir o circuito de qualificação, a fazer todo esse processo para voltar a tentar entrar na elite. Por momentos questionei, mas quando parei e pensei realmente na decisão que queria tomar ainda havia muita vontade, muito desejo pelo World Tour, por ter outra vez Portugal no circuito mais importante do panorama mundial. Aí eu soube que ainda tinha muito para dar dentro de mim e deu resultado.
Consegues explicar o quão difícil é chegar a este lugar na modalidade?
É difícil explicar. Acho que a forma mais fácil de se explicar é: Só lá estiveram dois portugueses. Acho que isso resume bem o difícil e a qualidade que se tem de ter para se ser um residente do World Tour. Acho que só sofrendo na pele é que uma pessoa sabe os esforços e as coisas que tem de abdicar para conseguir dar aquilo que tem e para estar ao mais alto nível, para diminuir as margens de erro, para mesmo nos momentos mais difíceis nos superarmos e voltarmos mais fortes.
Qual é a tua expetativa para a próxima época?
A próxima época vai ser muito especial. Já estive no tour durante bastantes anos, conheço bem as etapas, conheço os surfistas, sinto que cada vez mais sou melhor surfista, sou melhor competidor. Por isso tem tudo para correr bem. Honestamente ainda não comecei a delinear na minha cabeça a próxima época, estou a aproveitar para descansar um bocadinho e matar saudades da família, mas em breve terei de começar a dedicar o meu tempo todo a isso. Peniche é um lugar super especial, é a etapa em casa, é onde a força é mais sentida, onde os portugueses dão o apoio como não há em mais lado nenhum. É uma etapa que eu adoro, é a minha etapa preferida, vai ser ainda mais especial sendo um integrante do tour no próximo ano.
Que exemplo esperas que esta conquista deixe para os surfistas portugueses?
Mais do que para os surfistas portugueses, eu espero que deixe aos mais jovens. Que ao fim do dia, se uma pessoa trabalhar e acreditar tudo é possível. Parece um bocado aquela frase cliché, mas foi sempre o que eu fiz ao longo da minha carreira. E nós fazendo isto, mesmo que o nosso objetivo não seja cumprido, mas se sentirmos que demos tudo o que tínhamos para dar, de certa forma também sentimos um alívio de missão cumprida. Não era para ser, ponto final, mas nós deixámos tudo dentro de água, deixámos tudo em campo, deixámos tudo em qualquer coisa a que nos dedicamos. Foram sempre esses os valores que me passaram e também é isso que eu gostava de passar aos mais jovens, aos surfistas portugueses que sonham e ambicionam ter carreiras internacionais.
Este era o maior objetivo do ano?
Este era, sem dúvida alguma, dos maiores objetivos que eu tinha. A nível profissional era o maior objetivo que eu tinha, claramente. Fecho o ano competitivo com um sorriso na cara, orgulhoso e feliz de saber que deixei os portugueses orgulhoso e que para o ano vamos estar no World Tour.