Forbes Healthcare Summit: “Se acham que a prevenção é cara, experimentem a doença”

“Se acham que a prevenção é cara, experimentem a doença. É isto que costumo dizer aos administradores hospitalares”. Foi desta forma que Purificação Tavares, médica geneticista e fundadora da CGC Genetics/Unilabs resumiu a questão da prevenção da saúde na longevidade, tema debatido durante a segunda edição do Forbes Healthcare Summit. O evento que decorreu ontem…
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Purificação Tavares, médica geneticista fundadora do CGC Gentics/Unilabs, referiu num painel dedicado à longevidade, durante a segunda edição do Forbes Healthcare Summit, que decorreu ontem em Lisboa, que a prevenção é a melhor solução para viver mais anos com qualidade de vida.
Economia Healthcare Summit 2025

“Se acham que a prevenção é cara, experimentem a doença. É isto que costumo dizer aos administradores hospitalares”. Foi desta forma que Purificação Tavares, médica geneticista e fundadora da CGC Genetics/Unilabs resumiu a questão da prevenção da saúde na longevidade, tema debatido durante a segunda edição do Forbes Healthcare Summit. O evento que decorreu ontem em Lisboa, na sede da Associação Nacional das Farmácias, juntou líderes na área da saúde para debater questões relacionadas com este importante tema da sociedade portuguesa.

No painel “Viver Mais, Viver Melhor: a Economia da Longevidade” estiveram presentes como oradores, além da especialista Purificação Tavares, Tânia Saraiva, diretora de Public Affairs da GSK, e José Maria Tonnies, diretor de Experiência de Cliente do Grupo HUG. A questão central do debate foi perceber como é possível, com o aumento da longevidade, viver mais anos com qualidade de vida. Prevenção foi a palavra de ordem.

Lançar um programa nacional de vacinação do adulto é o repto de Tânia Saraiva

Tânia Saraiva arrancou a discussão explicando à audiência que a GSK é uma biofarmacêutica muito focada na inovação, e que distribui cerca de 200 medicamentos e vacinas em Portugal, sendo um dos principais fornecedores do sistema nacional de vacinação. “O envelhecimento é um tema global, não apenas europeu. Em 2020 havia 700 milhões de pessoas acima dos 65 anos e em 2023 e haverá cerca 1,5 mil milhões de pessoas acima dessa idade. Ora isto traz muita alegria às famílias, mas temos uma necessidade de adaptação a esta nova realidade”, refere.

Tânia Saraiva, da GSK. Foto/Vítor Machado.

E acrescenta: “O foco da investigação tem sido aumentar o número de anos de vida, em aumentar a longevidade, mas falta haver mais qualidade de vida nesses anos”. A GSK foca-se muito na prevenção, sobretudo através da vacinação, e pensar num plano estruturado para a vacinação dos adultos é algo que Portugal precisa avançar, com sucesso, tal como foi o plano nacional de vacinação infantil.

“Segundo a OMS, a vacinação é a segunda medida mais importante, a seguir a água potável, como prevenção da doença e aumentar a longevidade. Portugal é dos países que mais acredita na vacinação, na sua segurança e na sua eficácia”, diz Tânia Saraiva. 

“Para resolver esta questão da longevidade com qualidade de vida é necessário trabalharmos todos em conjunto. Com a vacinação, com a prevenção conseguimos poupar 245 milhões de euros em custos de saúde que podem ser aplicados em outras áreas, como o ensino. E explica: “Segundo a OMS, a vacinação é a segunda medida mais importante, a seguir a água potável, como prevenção da doença e aumentar a longevidade. Portugal é dos países que mais acredita na vacinação, na sua segurança e na sua eficácia. O próximo passo é avançarmos para a vacinação do adulto, e haver um programa sistematizado, com financiamento, com vontade política para fazer acontecer, e encarar este passo como um investimento e não como um custo para o SNS”, rematou a especialista.

O presente do avô: Purificação Tavares defende que avós partilhem informação do ADN com os netos

Purificação Tavares, fundadora do primeiro laboratório de genética em Portugal, o CGC Genetics, que nasceu em 1992, e hoje está integrado no Unilabs, refere que na questão da longevidade, ainda não se põe a tónica suficiente na questão da antecipação das possíveis doenças na velhice. “A meu ver, o mais importante, é fazer uma antecipação do diagnóstico, para o médico poder fazer um plano e monitorizar. Temos de compreender as vantagens de saber antecipadamente, porque assim o médico vai medicar para atrasar o aparecimento de uma possível doença degenerativa, demência, e outras e doenças que vão aparecer na longevidade”. Acrescenta ainda: “Penso que a mudança de atitude da população é necessária, para aceitar que é bom saber a predisposição que tem para certas doenças atrasar o mais possível. É preciso ter coragem para se aceitar que se deve saber antes de acontecer”.

“Gostaria de promover a ideia do Presente do Avô:  este consistiria em extrair ADN e oferecer aos netos no dia dos anos, por exemplo, porque assim o presente do avô ficava com cada criança e adolescente”, diz Purificação Tavares. 

A médica geneticista, que seguiu a tradição familiar na área da genética, refere que esta área da saúde providencia painéis de genética, que deteta propensão para, além dos cancros, também de doenças vasculares, que são evidentes no nosso genoma. “Na genética fazemos a análise do genoma, que demoraria meses se não tivemos Inteligência Artificial, se não tivemos na cloud todas as mutações e variantes conectadas com as doenças.  Quando estudamos um genoma, passamos tudo por um filtro de IA, que filtra tudo o que é publicado em revistas até as últimas 48 horas. Portanto temos um rigor incrível à nossa disposição”, explica a especialista. A equipa de IA da CGC/Unilabs tem 25 pessoas a trabalhar nesta identificação.

 

Purificação Tavares, médica geneticista. Foto/Vitor Machado

Purificação Tavares lançou ainda uma ideia para a plateia que foi bem aceite – até José Maria Tonnies do Grupo HUG disse que estava disposto para fazer parceria. “Gostaria de promover a ideia do Presente do Avô:  este consistiria em extrair ADN e oferecer aos netos no dia dos anos, por exemplo, porque assim o presente do avô ficava com cada criança e adolescente. Acredito, que tem de se falar abertamente destes temas, nomeadamente no caso das demências”, rematou a especialista. Para finalizar a sua intervenção e questionada sobre a sua visão para a longevidade, resumiu tudo numa frase “Se acham que a prevenção é cara, experimentem depois a doença. É assim que falo a todos os administradores hospitalares”, disse.

No grupo HUG os idosos não são números, diz José Maria Tonnies

O Grupo HUG é especializado em serviços de apoio ao envelhecimento, com uma abordagem que incorpora as necessidades de cuidados em termos físicos, psicológicos e sociais para o bem-estar e a qualidade de vida da pessoa idosa. O diretor de Experiência de Cliente, afirma que “Somos contactados diariamente por famílias, que nos ligam em pânico com situações de doença, em que as pessoas não conseguem cuidar dos pais, avós. No grupo HUG não vemos as pessoas como números, mas tentamos sempre valorizar o processo de apoio que temos”. E acrescenta: O nosso objetivo é conhecer a pessoa para além do acidente que teve. Focamo-nos muito na história de vida e tentamos através dessa triagem fazer o match perfeito com os nossos cuidadores”.

José Maria Tonnies, do Grupo HUG. Foto/Vitor Machado

João Maria refere que também as famílias adoecem ao ver alguém querido a deteriorar-se. “Vejo isto todos os dias, por isso apoiamos também as suas famílias. Temos uma equipa multidisciplinar com gerontólogos e psicólogos e, para cada caso que apoiamos, um elemento dessa equipa fica responsável pela casa e pela família”, diz.

“Gostaria de criar um sistema para que crianças e adolescentes possam estar com idosos, tomar um café, conversar, criar um choque de gerações, porque é tão bonito. Nós promovemos isso na HUG”, refere José Maria Tonnies. 

José Maria Tonnies explica ainda que “No Grupo HUB tentamos dar vida às pessoas, à medida que vão vivendo mais. Os fatores de destaque são a mobilidade, nomeadamente a mobilidade adaptada, e ter casas adaptadas. As pessoas têm medo de que as casas fiquem tipo hospital, mas hoje há já produtos com um bom design, e não choca assim tanto. É necessária muita prevenção, sobretudo prevenção de quedas, é necessário tirar tapetes. Daí que a saúde preventiva seja essencial”.

Questionado sobre o interesse dos jovens em cuidar dos seus idosos, o especialista refere que vê muito desinteresse por parte das gerações mais jovens. “Gostaria de criar um sistema para que crianças e adolescentes possam estar com idosos, tomar um café, conversar, criar um choque de gerações, porque é tão bonito. Nós promovemos isso na HUG, de forma a que crianças possam passar uma hora por semana, conversar, ouvir, pessoas idosas para criar laços de gerações e criar esta responsabilidade de cuidar”, remata.

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