A esperança na longevidade foi um dos temas centrais debatidos durante o Health Care Summit, realizado em Lisboa, reunindo especialistas da área da saúde para discutir os desafios e as oportunidades do envelhecimento da população.
Jaime Branco, médico reumatologista e diretor científico da U.ME da Nova Medical School, destacou que a longevidade não se resume apenas à idade, mas ao envelhecimento saudável. “Significa que o idoso deve manter-se ativo, de preferência no seu domicílio, num ambiente familiar”, afirmou.
O especialista sublinhou a importância da formação de cuidadores, um fator crucial para garantir um envelhecimento digno e humanizado. Referiu ainda o impacto psicológico negativo que a hospitalização e o constante deslocamento dos idosos entre diferentes casas de familiares podem ter, frisando que “a permanência no domicílio, sempre que possível, é ideal para preservar a saúde mental e física dos idosos”.
Jaime Branco comparou a situação da longevidade com o desporto, criticando a falta de investimento na educação física das crianças, fator que, segundo ele, afeta diretamente a saúde na idade adulta e envelhecimento ativo. “Se adquirirmos hábitos de exercício físico desde cedo, chegaremos aos 69 anos ainda em movimento”, concluiu, reforçando a necessidade de uma vida ativa para prevenir doenças e promover uma velhice saudável.
O cardiologista Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, também esteve presente e destacou a importância de um estilo de vida saudável para aumentar a esperança de vida. “Os últimos 50-60 anos trouxeram um aumento significativo da esperança média de vida nos países desenvolvidos, devido principalmente à redução das doenças infeciosas e ao avanço da medicina”, explicou.
No entanto, Carrageta lembrou que este aumento da longevidade traz desafios acrescidos, como o enfraquecimento do sistema imunológico nas pessoas mais velhas, sendo fundamental apostar em programas de vacinação para a terceira idade, como foi o caso da luta contra a COVID-19.
O cardiologista destacou ainda o papel crucial da dieta mediterrânica, considerada por vários especialistas internacionais como a melhor para promover a longevidade, associada ao exercício físico regular. “É essencial manter uma rotina de atividade física diária, mesmo na terceira idade, para combater a perda de massa muscular e melhorar o equilíbrio”, referiu, sublinhando o tripé saúde composto por uma alimentação equilibrada, atividade física e um sono adequado.
Por outro lado, Manuel Carrageta enfatizou a questão da solidão, classificando-a como um dos grandes desafios da nossa geração. Citando um relatório dos Estados Unidos sobre o impacto da solidão, explicou que esta pode aumentar em 50% o risco de demência e contribui para o agravamento de condições como hipertensão, doenças cardíacas e AVC.
“Ao longo de milénios, os seres humanos viveram em grupo, e o isolamento social leva a alterações neurológicas significativas. A solidão causa um aumento do risco de várias doenças, e temos que combater essa solidão criando uma sociedade onde haja mais convívio.”
Francisco Campilho, CEO da Victoria Seguros, reforçou a importância da literacia em saúde como uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida das pessoas à medida que envelhecem. Referiu que, em 2015, a Victoria Seguros lançou um programa inovador de teleconsulta, mas que a adesão foi limitada pela falta de literacia digital. “Hoje, com a pandemia, vimos um salto enorme na utilização da telemedicina”, disse, destacando que a tecnologia será fundamental para manter o sistema de saúde sustentável, especialmente face ao envelhecimento da população.