Forbes Annual Summit: O legado dos líderes com propósito

O Forbes Annual Summit de 2025 decorreu nesta quinta-feira, dia 11, no auditório da sede da EDP, na Avenida 24 de julho, em Lisboa, dedicado ao tema Inspiring the Future: 10 anos de legado Forbes. Juntou líderes de vários quadrantes da economia nacional para discutirem o seu legado nos negócios, na liderança, a cultura, entre…
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Miguel Pina Martins, Hélia Gonçalves Pereira e Candy Flores foram os líderes convidados para o painel “O Legado dos Líderes. Governar para o Futuro” do evento anual da Forbes, que se realizou hoje, dia 11, no auditório da sede da EDP, em Lisboa.
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O Forbes Annual Summit de 2025 decorreu nesta quinta-feira, dia 11, no auditório da sede da EDP, na Avenida 24 de julho, em Lisboa, dedicado ao tema Inspiring the Future: 10 anos de legado Forbes. Juntou líderes de vários quadrantes da economia nacional para discutirem o seu legado nos negócios, na liderança, a cultura, entre outros. O painel “O Legado dos Líderes. Governar para o Futuro”, contou com a participação de Miguel Pina Martins, fundador da Science for You e presidente da Chief Portugal Officers, Hélia Gonçalves Pereira, reitora da Universidade Europeia e Candy Flores, cofundadora da empresa tecnológica Madalia World.

Os oradores deste painel começaram por explicar o que entendem por legado. Hélia Gonçalves Pereira foi a primeira a avançar com a sua definição: “Legado, para mim, significa que é possível fazer acontecer um determinado propósito. Legado significa, no caso da minha função, enquanto reitora de uma instituição com cerca de 14 mil estudantes, conseguir fazer com que estes estudantes, à saída, sejam potencialmente grandes profissionais num mundo que é cada vez mais competitivo e, sobretudo, diz-se muitas vezes, ainda melhores pessoas”. E a responsável da Universidade Europeia acrescenta: “Penso que a dimensão humana, a dimensão da empatia, a dimensão da solidariedade, a dimensão do propósito, a dimensão da missão, é absolutamente fundamental para transformarmos a nossa sociedade e o mundo num lugar cada vez melhor para viver”.

“Todos nós, enquanto líderes, temos o papel de deixar a sociedade um bocadinho melhor”, afirma Miguel Pina Martins. 

Também Miguel Pina Martins está alinhado com esta perspetiva de propósito. “Na empresa que fundei, a Science for You, temos uma componente muito forte de legado, porque sempre que uma criança abre uma caixa dos nossos brinquedos, aprende e brincar ao mesmo tempo. E deixar que as crianças fiquem um bocadinho melhores depois de utilizarem o nosso brinquedo, acaba por ser, realmente, uma forma de deixar o nosso legado. E essa é a fórmula que acho que é para tudo. O empreendedor, que é também presidente da associação Chief Portugal Officers, acrescenta que sempre que a empresa desenvolve um produto, sempre que pensa num serviço, pensa em deixar no mundo. “Todos nós, enquanto líderes, temos o papel de deixar a sociedade um bocadinho melhor”, afirma.

Também Candy Flores entende que legado é deixar algo de melhor para o futuro. “Para mim, legado é deixar o mundo melhor do que quando cá cheguei. Isto aplica-se a tudo, seja na nossa comunidade, na nossa família, no nosso trabalho, ou na nossa visão da sociedade enquanto líderes. Eu trabalho no futuro, trabalho com tecnologia, portanto, é ainda mais importante para mim abrir aqui as portas para algo novo que vai ser deixado às comunidades”, refere. A especialista explica que fundou a Madalia World, plataforma que criou o primeiro digital twin de um território inteiro, com o apoio do Governo da Madeira. “Conseguimos o feito de ter a primeira plataforma e o primeiro digital twin territorial do mundo certificado por um governo. Não é nada fácil de se obter, mas conseguimos. Serviu também para provar que a plataforma aguentava com o digital twin de larga escala. São cerca de 750 quilómetros quadrados de digitalização territorial. É muito trabalho, com simulação, com predição, com algoritmos, tudo feito em tempo real”, refere.

Como construir melhores pessoas

Questionada sobre como podem as universidades ajudar na construção de melhores pessoas, Hélia Gonçalves Pereira refere que por vezes, a educação fica um pouco esquecida quando se debatem as grandes questões nacionais: Fala-se muito do turismo, mas pouco da educação. “Mas eu acredito que a educação, ensino superior em particular, é de facto um setor capaz de transformar uma sociedade. Um estudante que termina o mestrado, em princípio, em média, recebe 80% mais em termos de remuneração que um estudante que se limita a fazer o ensino secundário”, refere. E acrescenta que se o estudante terminar uma licenciatura, o seu rendimento vai estar a 45% acima do rendimento que um estudante que só faz o ensino secundário terá.

E diz: “O ensino superior pode, deve, tem um dever para a sociedade que é o de ser capaz de se adaptar aos novos tempos. Ser capaz de inovar, de se transformar. Isto tem a ver com o ensino presencial suportado em tecnologia. Não são apenas as empresas tecnológicas que vivem no futuro. O setor do ensino superior também tem que viver no futuro. Porque nós estamos, de facto, a formar os novos líderes”.

“Se nós olharmos para os países nórdicos, Suécia, Noruega, Dinamarca, em média o estudante do ensino superior tem mais de seis a dez anos de atividade de média de estudante do que em Portugal”, diz Hélia Gonçalves Pereira. 

A especialista refere ainda que o ensino superior tem que se adaptar a novas metodologias de ensino e aprendizagem. A metodologia de ensino e aprendizagem, a ensino e ensina à distância, é sem dúvida alguma coisa que veio para ficar e sobre a qual ainda muito pouco se fala, explica. “Se nós olharmos para os países nórdicos, Suécia, Noruega, Dinamarca, em média o estudante do ensino superior tem mais de seis a dez anos de atividade de média de estudante do que em Portugal. Porquê? Porque ainda estamos num mindset de que é suposto entrar no ensino superior numa lógica de continuidade, acaba-se o ensino secundário, faz-se uma licenciatura ou um mestrado e depois entra-se numa carreira profissional. Já não é assim.”.

Hélia Gonçalves Pereira refere que só desde 2020 é permitido oferecer programas de ensino à distância e isto era uma necessidade. Isto permite o ensino ao longo da vida através de novos instrumentos e novas plataformas de aprendizagem. “Temos de permitir que o estudante em qualquer idade e a partir de qualquer local possa continuar a crescer. E crescer significa formar, crescer significa transformar, crescer significará necessariamente uma sociedade mais informada, mais formada e mais qualificada”, remata a reitora.

Líderes visionários precisam-se

Miguel Pina Martins fala na importância de criar líderes visionários. Um gestor pode estar mais focado no presente e o líder visionário mais no futuro. “Obviamente que o líder visionário também pode ser um gestor, também pode estar a fazer o dia-a-dia, mas, acima de tudo, cada vez mais, num mundo que muda tão depressa, é fundamental estarmos todos focados para conseguirmos ser o mais visionários possível”, diz. Diz ainda que hoje qualquer gestor ou líder tem de pensar em utilizar a Inteligência Artificial, já que “é uma ferramenta brutal que vai estar dentro das nossas vidas. E é um ótimo exemplo como um líder que seja mais visionário, tem a certeza absoluta que vai começar a implementar as suas empresas, os seus projetos, e tudo mais”. Sobre esta questão remata dizendo: “O empreendedorismo, a liderança, a liderança visionária constrói-se, custa muito, dói muito, mas podemos dizer que não está fechado a ninguém”, remata.

“Se fosse para fazer dinheiro, era mais fácil, mas como nós queremos deixar alguma coisa diferente, mudar a perspectiva, mudar a forma como as pessoas interagem com a tecnologia, a forma como as indústrias olham para a tecnologia e implementam a tecnologia, isso dá trabalho. É preciso muita evangelização”, diz Candy Flores.

Sobre liderar com propósito, Candy Flores refere que nem sempre é um caminho fácil, mas que tenta que o propósito faça parte da visão estratégica da empresa. “Eu digo sempre que não interessa como é que nós lá chegamos, o que interessa é ter os olhos no objetivo. E é isso que eu tento fazer todos os dias na empresa”, refere. E acrescenta que o caminho para lá chegar pode ser reajustado, mas a nossa visão estratégica, aquilo que nós queremos conseguir, aquilo que nós queremos deixar, o lugar que nós queremos colocar aqui no mundo, esse tem que ser bem alinhado, bem claro e estrategicamente executado”, esclarece. E acrescenta que isto “é difícil sim, muito difícil, porque construímos tudo do zero, sem financiamento nenhum”. E, como diz, “se fosse para fazer dinheiro, era mais fácil, mas como nós queremos deixar alguma coisa diferente, mudar a perspectiva, mudar a forma como as pessoas interagem com a tecnologia, a forma como as indústrias olham para a tecnologia e implementam a tecnologia, isso dá trabalho. É preciso muita evangelização.”

E para formar bons líderes, é preciso errar. O erro faz parte da construção, como defendem todos os participantes no debate, mas ainda não se mudou a mentalidade em relação ao erro. “Apesar de o nosso ADN estar imbuído do espírito de arriscar, ainda não estamos na nossa plenitude. Isto tem também a ver como vemos o risco e como vemos o tema na nossa educação. Hoje, as crianças são educadas na escola para que, quando erram, são pouco inteligentes. Ou seja, não podem errar. Errar é muito mau”. Esclarece ainda que a nossa cultura não incentiva o empreendedorismo e para mudar isto leva imenso tempo.

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