O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, instou Nova Deli a estabilizar os laços bilaterais, para “benefício de ambos os lados”, após a Índia ter chumbado um investimento multimilionário da fabricante de automóveis chinesa BYD.
Wang, que é diretor do Gabinete da Comissão para as Relações Externas do Partido Comunista da China (PCC), reuniu com Ajit Doval, conselheiro de Segurança Nacional da Índia, à margem de uma reunião entre altos funcionários do bloco de economias emergentes BRICS, em Joanesburgo.
O responsável chinês pediu medidas políticas para “aumentar a confiança mútua estratégica” e “focar no consenso e na cooperação”, de acordo com um comunicado difundido pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China.
A forma como a China e a Índia se relacionam vai afetar diretamente o respetivo desenvolvimento dos dois países e o cenário internacional, notou Wang.
Acrescentou ainda que ambos os países devem aderir ao “julgamento estratégico” de que não representam uma ameaça um ao outro, mas antes oportunidades para o seu próprio crescimento.
Nova Deli ainda não divulgou um comunicado sobre o encontro. De acordo com a nota divulgada pela diplomacia chinesa, Doval reconheceu que o “destino dos dois lados está intimamente ligado e é necessário reconstruir a confiança mútua estratégica e buscar o desenvolvimento comum”.
“O lado indiano está disposto a trabalhar com o lado chinês para encontrar uma maneira fundamental de resolver a situação na fronteira, num espírito de compreensão e respeito mútuos”, disse Doval.
As relações entre os dois países vizinhos deterioraram-se, nos últimos anos, após lutas, com paus e pedras, terem despoletado, em 2020, ao longo da disputada fronteira, na região da Caxemira. Pelo menos 20 soldados indianos e quatro chineses morreram durante os confrontos.
Pequim e Nova Deli mantiveram o diálogo.
No início do mês, Wang reuniu com o homólogo indiano, Subrahmanyam Jaishankar, à margem de uma reunião entre os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático, em Jacarta.
A Índia recusou esta semana uma proposta da fabricante de veículos elétricos chinesa BYD para construir uma fábrica avaliada em mil milhões de dólares, em parceria com uma empresa local, de acordo com a imprensa indiana.
O governo indiano rejeitou o plano da BYD e da Megha Engineering and Infrastructures Ltd., com sede em Hyderabad, por questões de segurança nacional, segundo a mesma fonte.
China e Índia são ambos membros dos BRICS, juntamente com Brasil, Rússia e África do Sul.
Os conselheiros de Segurança Nacional dos países membros do bloco estiveram reunidos segunda e terça-feira em Joanesburgo.
Os funcionários estão a avaliar um mecanismo de cooperação de segurança coordenado, num período de crescentes fricções geopolíticas. O bloco defende um modelo alternativo aos blocos liderados pelo Ocidente.
Na segunda-feira, os conselheiros de segurança nacional da Bielorrússia, Burundi, Cuba, Egito, Irão, Cazaquistão, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos participaram de uma discussão dos “amigos dos BRICS”, sobre cibersegurança e inteligência artificial.
A reunião precede uma reunião entre os líderes dos países membros, marcada para agosto, para a qual 55 nações africanas foram convidadas, no que deverá ser uma das maiores reuniões entre líderes do Sul Global.