Com as preocupações geradas pela pandemia, seguida da crise energética provocada pela guerra na Ucrânia e a consequente inflação, a Europa tem deixado para segundo plano os seus objetivos da descarbonização. Diversas indústrias lidam diariamente com a perturbação das cadeias de abastecimento, com a incerteza económica, com os custos crescentes com a energia, o que não deixa o tema das emissões, que continua em crescendo, ser uma prioridade.
O relatório do The Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), de 2021, adverte que o aquecimento global de 2% será excedido durante este século, a não ser que as reduções de dióxido de carbono, e outras emissões de gases com efeitos de estufa, aconteçam rapidamente.
O objetivo da Finlândia é tornar-se neutra em carbono em 2035, daí que este país do norte da Europa esteja a assumir a liderança nesta área, com avanços em soluções que ajudarão as empresas a otimizar as emissões e alcançar os seus objetivos de transição carbónica. A Finlândia foi o primeiro país do mundo a lançar uma taxa de carbono, ainda nos idos anos 90. Isto levou os setores industriais finlandeses a procurarem soluções com baixas emissões de carbono. Para além de criar o primeiro roteiro de economia circular do mundo, são já 14 as indústrias finlandês que introduziram os seus próprios roteiros da indústria de baixo carbono.
O aquecimento global de 2% será excedido durante este século, a não ser que as reduções de dióxido de carbono, e outras emissões de gases com efeitos de estufa, aconteçam rapidamente.
A descarbonização da indústria pesada é uma questão global de grande preocupação, que tem de ser abordada urgentemente. Atingir objetivos de carbono requer reduções consideráveis nas emissões em todos os setores industriais. As empresas em toda a Europa procuram formas de reduzir as emissões de carbono e a Finlândia tem experiência e soluções pioneiras em indústrias de descarbonização e na criação de cadeias de valor mais sustentáveis, já disponíveis no mercado.
“As empresas têm o desafio de atuar durante a incerteza económica global sem comprometer os valores de ESG (Ambiente, Social e Governança) e as expetativas regulamentares. As reputações das marcas estão em jogo. O cumprimento dos objetivos climáticos exigirá que todos os setores industriais procedam a uma mudança fundamental dos processos intensivos de carbono para cadeias de valor mais sustentáveis. A Finlândia já dispõe de soluções e inovações comercialmente viáveis. Se as empresas de toda a Europa tomarem agora as decisões certas, seremos capazes de navegar nestes tempos turbulentos”, explica, em comunicado, Marika Ollaranta, responsável pelo Programa das Indústrias Descarbonizadoras, da Business Finland, organização do governo finlandês para o financiamento da inovação e promoção do comércio, turismo e investimentos. Esta instituição conta já com mais de 700 especialistas que trabalham em mais de 40 escritórios no mundo. O programa é parcialmente financiado pela Business Finland através do Mecanismo de Recuperação e Resiliência (MRR), da União Europeia, e faz parte da iniciativa “Veturi”, onde empresas internacionais são convidadas a resolver alguns dos desafios mais prementes da sociedade através de maiores investimentos em investigação, desenvolvimento e inovação na Finlândia.
O que estão as empresas a fazer
As empresas finlandesas há muito que são precursoras no fornecimento de soluções de descarbonização comprovadas em várias indústrias. Os principais especialistas finlandeses, incluindo a AFRY, a Gasmet Technologies e a Valmet, mobilizam métodos que já são aplicados em todo o mundo. A AFRY é um fornecedor sueco e finlandês de engenharia, design e serviços de consultoria, com alcance mundial. Trabalhando para melhorar a eficiência energética, a AFRY apoia a indústria de processos com know how tecnológico de valor acrescentado. “Atualmente as unidades de produção, qualquer que seja a maturidade, podem ser otimizadas para emitir menos carbono, de forma rápida e rentável, melhorando a eficiência do processo. As alterações irão melhorar a eficiência global em vários pontos percentuais e, para instalações mais antigas, isto se o cliente estiver preparado para investir. Estamos a falar de números de dois dígitos”, explica Jarkko Kutvonen, diretor da área de Paper & Board Technology, da AFRY.
“A Finlândia já dispõe de soluções e inovações comercialmente viáveis. Se as empresas de toda a Europa tomarem agora as decisões certas, seremos capazes de navegar nestes tempos turbulentos”
Já a Gasmet Technologies desenvolve e produz sistemas de análise de gases e soluções de monitorização de emissões, para assim medir as mesmas durantes o processo industrial. “Uma medição fiável das emissões ajuda a compreender e a verificar o quanto uma instalação está a emitir, bem como se os investimentos para reduzir as emissões estão trazer melhorias. As emissões não podem ser reduzidas sem medição. A medição das emissões é mais frequentemente obrigatória para cumprir os regulamentos locais, mas, atualmente, as empresas querem agir de forma transparente para com os seus intervenientes, por exemplo clientes, investidores e a comunidade onde operam”, afirma Nenne Nordström, CEO, Gasmet Technologies.
A Valmet Oyj é líder mundial no desenvolvimento e fornecimento de tecnologias de processo, automação e serviços para as indústrias da pasta de papel, papel e energia. A Valmet lançou um novo programa de Investigação e Desenvolvimento (I&D) e inovação, Beyond Circularity, que procura reforçar ainda mais o seu trabalho de investigação para a utilização de materiais renováveis e reciclados, resíduos e fluxos laterais, contribuindo para a transição verde.
“Para além de os vários fluxos de material se tornarem totalmente circulares, esperamos que o nível de autonomia das operações de moagem ou de fábrica aumente nos próximos cinco a 10 anos. No âmbito da iniciativa Beyond Circularity, o nosso objetivo é permitir grandes avanços para moinhos autónomos e melhorar ainda mais a eficiência energética e reduzir as emissões. Outra área é o desenvolvimento de conceitos de serviços de ciclo de vida, tendo em consideração indicadores críticos como a idade técnica, as emissões, o consumo de energia e a utilização de água. Em tudo isto, os dados e a transferência de dados são cruciais”, afirma Janne Pynnönen, vice-presidente de Investigação e Desenvolvimento da Valmet.