Gonçalo Saraiva Matias, presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS)é perentório em afirmar: “A única forma de Portugal não perder população é pela via da imigração e não através das políticas de natalidade”.
O gestor, especialista em questões da demografia, fez uma apresentação durante a Annual Forbes Summit 2024, evento que decorreu esta semana no Hotel Tivoli, em Lisboa. A conferência, que celebrou os nove anos de existência da Forbes Portugal, decorreu sob o mote “Reimagine Portugal” e contou com a presença de várias personalidades do panorama empresarial português.
O presidente da fundação promovida pela família Soares do Santos, dona da Jerónimo Martins e dos supermercados Pingo Doce, centrou o seu pitch numa das questões mais prementes na sociedade atual: o envelhecimento da população portuguesa. Refere que Portugal é o segundo país mais envelhecido da Europa, e o quarto mais envelhecido no mundo, e isto é um facto para toda a Europa, uma vez que só aqueles que têm conseguido atrair mais imigração é que conseguem fugir a este envelhecimento crescente.
Em 2001, o número de pessoas com mais de 65 anos ultrapassou o número de crianças e jovens com 15 anos e atualmente há mais duas vezes séniores do que crianças e jovens em Portugal. Temos aquilo que se chama uma população em pirâmide demográfica invertida.
Portugal tem um índice de sustentabilidade potencial muito baixo. “Teremos um ativo por ativo por um inativo, o que traz um peso elevado sobre a segurança social, um sistema distributivo, isto significa que teremos uma pessoa a descontar para outra que esteja a receber”, explica. Isto é um cenário de total insustentabilidade.
A partir de 2009 há um saldo natural negativo, ou seja, morrem mais pessoas do que nascem, e a divergência tem vindo a aumentar, devido ao envelhecimento da população e muito devido às baixas de natalidade, que não chegam para a taxa de compensação, que tem de estar acima de dois.
O aspeto positivo é que em Portugal se vive mais tempo, o que é uma enorme conquista na esperança média de vida, que está agora nos 81 anos. Como é que a sociedade se vai preparar para isto, questiona o especialista, será que estamos a tomar as medidas necessárias?
Em 2001, o número de pessoas com mais de 65 anos ultrapassou o número de crianças e jovens com 15 anos e atualmente há mais duas vezes séniores do que crianças e jovens em Portugal. Temos aquilo que se chama uma população em pirâmide demográfica invertida. “Estimamos que o impacto disto nas contas públicas seja de 27% do PIB em custos relacionados com o envelhecimento, que aumentarão até 2050.
Imigração é a única forma de manter a população
Portugal tem crescido em população – tem atualmente 10,6 milhões de habitantes, o valor mais alto de sempre-, mas é à custa da imigração. “Na última década perdemos sempre população pela via natural e estivemos, até 2017, a perder população também pela via migratória”, refere Gonçalo Saraiva Matias. E avança: nos próximos 30 anos de 20%, ficando pelo 8 milhões, o que acarreta dificuldades do ponto de vista do estado social.
Em 2017 começamos a ter um saldo migratório positivo, e em 2019 já foi possível compensar o saldo natural. “A imigração permite compensar as perdas de população natural. E vou dizer isto de forma muito clara, para que não haja dúvidas: a única forma de Portugal não perder população é através da imigração no curto e médio prazo. Não há outra forma, não haja ilusões. Não há qualquer hipótese pela via natural, pelas políticas de natalidade. Aqui não há ideologias, há factos”, afirma o presidente da fundação.
Ainda assim temos uma percentagem baixa de imigrantes: são cerca de um milhão de pessoas, e cresceu este ano para cerca de 10%, mas há países como o Luxemburgo onde chega a 50% e isto é normal na Europa, que ronde os 15%, ou seja ainda há espaço para crescer em Portugal, refere Gonçalo Saraiva Matias.
Há setores da economia portuguesa que colapsavam sem a presença de imigrantes, diz o presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Conforme as projeções do INE e da Fundação Francisco Manuel dos Santos, Portugal não é sustentável com o fenómeno da baixa imigração, pois isso é insuficiente e Portugal vai continuar a perder população. “É importante olhar para estes números pois há uma perceção de excesso de imigração que não corresponde à realidade”, diz o especialista.
Segundos os dados apresentados 30% dos imigrantes são brasileiros, que tem uma boa integração devido à facilidade da língua. Cerca de 21% tem origem na União Europeia, 8% da Ucrânia, e 5,7% do Reino Unido, 4,4% da Índia. Cabo Verde representa 4,2%, Angola 3,8% e a Guiné Bissau 2,7%. O Nepal tem um peso de 2,9%, a China de 2,5% e o Bangladesh representa 2%.
Há zonas geográficas onde há mais imigrantes, como Odemira, com uma taxa de 50%, ou Lisboa, que atinge os 30%, por isso a perceção que existe nestas zonas com maior imigração é diferente das que têm menos imigrantes. São cerca de 22% as empresas que atualmente ocupam trabalhadores imigrantes, que têm um contributo de 2,6 mil milhões de euros nas contas públicas.
Há setores da economia portuguesa que colapsavam sem a presença de imigrantes, diz o presidente da Fundação. Cerca de 40% ocupam-se na agricultura e pescas e 31% no alojamento e restauração, 28% em atividades administrativas e 23% na construção.