O Festival de Cinema de Animação de Annecy, que terminou ontem em França, ajudou “a afirmar mais fortemente” a animação portuguesa a nível internacional, mas falta conquistar ainda Portugal, disse à agência Lusa o programador Fernando Galrito.
Portugal foi, este ano, convidado de honra do festival de Annecy e ao longo de uma semana mais de 60 filmes foram mostrados a milhares de pessoas que passaram pelas salas de cinema da cidade. A delegação portuguesa contou com duas centenas de profissionais, entre produtores, realizadores e estudantes de animação.
A participação de Portugal contou também com um espaço próprio no mercado do filme (MIFA) e foram feitas várias apresentações de projetos para profissionais, num investimento global de cerca de 130 mil euros.
“Esta verba foi bem empregue e foi uma aposta ganha economicamente. Ou a política muda muito ou acredito que ganhámos um espaço e não o vamos poder perder, para continuar a encontrar parceiros internacionais para os novos projetos que vão nascer”, afirmou Fernando Galrito.
Este programador, diretor do festival de animação Monstra, foi responsável pelo desenho da programação portuguesa – que atravessou cem anos de história da animação em Portugal – e desdobrou-se em apresentações de filmes nas várias sessões do calendário do festival.
“Levamos daqui material suficiente para nos continuarmos a afirmar mais fortemente internacionalmente, mas também para aproveitarmos este elã para nos afirmarmos internamente, em Portugal”, disse o programador, em jeito de balanço.
Animação portuguesa é mais reconhecida fora do país
Ao longo da semana, a agência Lusa falou com perto de duas dezenas de produtores, realizadores, animadores e todos foram partilhando dessa perceção de que o cinema português de animação é mais reconhecido internacionalmente do que em Portugal e que o apoio financeiro público é vital para o setor.
“Quando nós olhamos para as estatísticas dos prémios em Portugal, quem ganhou mais prémios, de todas as artes, foi o cinema de animação. Quando um filme português ganha um prémio, é a nossa cultura que ganha. Estas pessoas fazem filmes que falam de nós”, sublinhou Fernando Galrito.
Por Annecy passaram nomes como Regina Pessoa, que tem uma longa e premiada relação com o festival, Abi Feijó, José Miguel Ribeiro, Nuno Beato, Nuno Amorim, Humberto Santana, Laura Gonçalves, Alexandra Ramires, Vier Nev, Bruno Caetano, David Doutel e Vasco Sá, que representam várias gerações da animação portuguesa.
“Isto vem num período muito grande para Portugal, porque estamos a celebrar 101 anos [da história do cinema de animação] e por outro lado começamos a ver longas-metragens, séries de animação. Está a haver uma expansão do cinema português e o lado de cinema de autor está mais estável”, afirmou à Lusa o vice-presidente da Casa da Animação, João Apolinário.
Esta associação sem fins lucrativos coorganizou a presença de Portugal, juntamente com o Instituto do Cinema e Audiovisual e a Associação Portuguesa de Produtores de Animação.
João Apolinário manifestou-se ainda surpreendido pela quantidade de portugueses que foram a Annecy e pela diversidade de profissionais, que procuram também uma internacionalização, revelando que a Casa da Animação está a fazer um levantamento estatístico sobre o trabalho neste setor.
“Quando vemos o que vem de Portugal, vemos muita personalidade, singularidade e isto é, do meu ponto de vista, o que devem preservar”, diz Fernando Galrito.
Depois do Annecy, Fernando Galrito gostaria de replicar algumas das sessões temáticas noutros contextos, nomeadamente em festivais portugueses, num canal de televisão ou até mesmo no circuito comercial de exibição de cinema, para fazer chegar aos espetadores o que se faz em animação.
Em entrevista esta semana à agência Lusa, o diretor artístico do festival de Annecy, Marcel Jean, dizia que, “culturalmente, Portugal é um país muito importante, sobretudo num tempo em que se nota uma certa uniformização na produção cultural e nos produtos culturais”.
“Quando vemos o que vem de Portugal, vemos muita personalidade, singularidade e isto é, do meu ponto de vista, o que devem preservar”, opinou.
Fernando Galrito acrescentou agora: “Falta-nos abrir telejornais com coisas positivas, termos as primeiras páginas da imprensa a falarem. Nós somos muito bons em termos internacionais nisto e naquilo e também em cinema de animação”.
Lusa