Adam Vollmer acredita que pode conquistar uma fatia significativa e lucrativa do crescente mercado norte-americano de bicicletas. E para isso conta com a Faraday, uma empresa de bicicletas eléctricas com quatro anos de existência. Os clientes-alvo destas máquinas de 2300 euros são pessoas como ele, que se deslocam de “A” a “B” num ambiente urbano denso e onde conduzir e estacionar pode ser um pesadelo.
Muitas pessoas preferem bicicletas eléctricas a modelos manuais nas suas deslocações, uma vez que lhes permitem chegar rapidamente ao trabalho e atingir velocidades até 32 km/h sem deitar uma pinga de suor. Outros acham pura e simplesmente divertido conduzir estas bicicletas.
E temos ainda as pessoas da geração do baby boom, que estão agora a envelhecer e que deixaram de andar de bicicleta por causa das artrites nos joelhos e que vêem nestes modelos eléctricos uma forma de voltarem à estrada.
A Faraday tem uma forte concorrência neste mercado – que é pequeno mas está em franco crescimento.
Quem anda numa Faraday tem várias alternativas ao seu dispor. Se optar por não carregar no botão azul de alimentação, uma caixa rectangular do tamanho de uma mala grande situada atrás do assento, a Faraday funciona como uma bicicleta normal. Mas, ao ligar o motor, incorporado na parte da frente do quadro da bicicleta, as luzes de trás e da frente acendem e um botão no lado direito do guiador permite-lhe seleccionar potência média ou alta.
Mal começa a pedalar, um sensor situado na roda dentada activa o motor. Quanto maior o esforço maior a ajuda motorizada e, de repente, as colinas de São Francisco, nos EUA, mais parecem superfícies planas.
A Faraday tem uma forte concorrência neste mercado – que é pequeno mas está em franco crescimento. Em 2015, as vendas de bicicletas eléctricas nos EUA aproximaram-se dos 370 milhões de euros, face aos 75 milhões em 2012, segundo dados recolhidos por Edward Benjamin, presidente da Associação de Veículos Ligeiros dos EUA, que reúne entidades que comercializam bicicletas eléctricas. Apesar da evolução das vendas neste período, é muito pouco quando comparado com os 4,6 mil milhões de euros da Europa e os 10 mil milhões na China.
Os chineses usam as bicicletas eléctricas por uma questão económica e em virtude da poluição sufocante. Os europeus há muito que vêem nas bicicletas, incluindo os modelos eléctricos, uma excelente opção para se deslocarem de casa para o trabalho. Já nos EUA, onde a cultura do automóvel ainda prevalece e onde andar de bicicleta assume um carácter mais lúdico, o número de ciclistas tem vindo a aumentar gradualmente e está a aproximar-se dos números da Europa,” afirma Benjamin.
No entanto, o mercado americano conta com mais de 150 marcas de bicicletas eléctricas – os dois maiores fabricantes de bicicletas sedeados nos EUA, ambos com oito anos de existência, são a Pedego e a ProdecoTech.
Vitória da inovação
Graças à melhoria das infra-estruturas de várias cidades, incluindo ciclovias e trilhos para bicicletas, as vendas de Vollmer estão a disparar. Depois de em 2014, quando a Faraday começou a produzir as primeiras bicicletas, terem ultrapassado os 820 mil euros, mais do que duplicaram para os 1,8 milhões em 2015. As receitas relativas a 2016 aproximam-se dos 4 milhões de euros e a empresa prevê chegar aos lucros no final deste ano.
“Estávamos bem cientes de que as bicicletas eléctricas eram um nicho emergente,” afirma Adam. “Experimentámos uma série de bicicletas eléctricas e concluímos que eram todas muito pouco inspiradoras.”
Em 2008, e com duas licenciaturas em engenharia mecânica, uma por Stanford e outra pelo MIT, Vollmer entrou para a IDEO, a empresa de Palo Alto que ficou famosa por ter concebido o primeiro ‘rato’ da Apple. Quando um grupo de nome Oregon Manifest convidou a IDEO para participar num concurso com vista a reinventar a bicicleta moderna em 2011, formou uma equipa e deitou mãos à obra, fazendo horas extraordinárias de noite e aos fins-de-semana. “Estávamos bem cientes de que as bicicletas eléctricas eram um nicho emergente,” afirma. “Experimentámos uma série de bicicletas eléctricas e concluímos que eram todas muito pouco inspiradoras.”
O seu objectivo era conceber uma bicicleta eficiente, agradável de conduzir e bonita. Um dia, ao passar pelo showroom da Tesla, a equipa reteve o nome Faraday, o pioneiro britânico da tecnologia electromagnética do século XIX.
A Faraday venceu o concurso e, em troca de uma pequena participação no capital da empresa, a IDEO concordou em avançar com um financiamento inicial e fornecer serviços na área do design, de modo a ajudar Vollmer a arrancar com a empresa.
Desde então lançou duas campanhas na Kickstarter, que lhe permitiram angariar cerca de 300 mil euros adicionais, e angariou fundos junto de business angels, como o co-fundador do Twitter, Biz Stone, e o antigo vice-director de vendas da Tesla, Matt Eggers.
Concorrência cerrada
Vollmer e seis empregados trabalham num escritório de 139 metros quadrados numa rua estreita entre a sede da Airbnb e do Pinterest, em São Francisco, no bairro de SoMa. Vollmer analisou a produção de bicicletas nos EUA, mas rapidamente percebeu que quase todos os fabricantes de bicicletas se tinham deslocalizado para a Ásia. “Tínhamos de construir a nossa própria fábrica,” afirma. A Faraday concebe os quadros e a parte electrónica, enquanto as peças são compradas na Ásia e as bicicletas são montadas em Taiwan.
A maioria das bicicletas eléctricas chinesas, que custam menos de 300 euros, usam baterias baratas de chumbo-ácido que ao fim de cerca de 32 quilómetros ficam sem carga. Desde 2003, quase todas as bicicletas eléctricas europeias e americanas têm baterias de ião de lítio com autonomia até 160 quilómetros e que cabem num tubo ligeiramente alargado (peça que vai do guiador até aos pedais).
As bicicletas da Faraday usam motores no eixo da frente, mas muitas bicicletas eléctricas, como é o caso das fabricadas pela Stromer, a empresa suíça que vende as bicicletas mais caras do mercado a preços que chegam aos 9 mil euros, têm no eixo de trás.
Os dez modelos da norte-americana Trek usam motores instalados junto à roda dentada, e as suas bicicletas de montanha são muito populares entre os ciclistas mais velhos que já não têm preparação física para este desporto extenuante, mas que acham que conseguem aguentar com a ajuda de um motor.
A Faraday, tal como a maioria das marcas norte-americanas de bicicletas eléctricas, usa a tecnologia conhecida por pedal-assistido, o que significa que o motor só é accionado quando o ciclista começa a pedalar. “As pessoas querem ter a sensação de conduzir uma bicicleta e de fazer exercício,” afirma Vollmer. “Mas não querem ficar completamente suadas.”
Qual é o seu mercado: “Pessoas que gostam de bicicletas e que já conduzem uma. É o caso de Vollmer, que afirma conduzir o seu velho Mazda de 2006 nas suas deslocações de fim-de-semana. “Mas de segunda a sexta-feira evito ao máximo pegar no carro,” afirma. J Shelby Carpenter e Susan Adams