Natural de Singapura, é num inglês britânico perfeito que, a uma velocidade estonteante, nos conta como tem sido a aventura de ser uma empresária de sucesso num país que não é o seu, mas onde já nasceram todos os seus filhos.
De olhos sempre brilhantes conta-nos como se formou em Londres e trabalhou na consultora Pricewaterhousecoopers, na capital do Reino Unido, e como surgiu Portugal no seu radar. “Queríamos investir, no início dos anos 2000”, explica-nos quase como se fosse óbvio. “Ainda olhámos para a Croácia”, mas foi Sagres que os apaixonou. A ela e ao marido, Roman Stern, um suíço louro de olhos azuis que partilha com a mulher a simpatia que dedica a todos com quem se cruza. E a exigência de com quem trabalha.
O clima, a crise financeira, a magia de um Algarve por descobrir e com “enorme potencial” fizeram com que a região ganhasse a corrida e em 2001 o casal mudou-se para o sul de Portugal. “As pessoas passaram a receber-me bem melhor quando fiquei grávida”, recorda com uma gargalhada. “Parece que, de alguma forma, perceberam que estávamos aqui para ficar”. O primeiro dos quatro filhos nascia, assim, praticamente ao mesmo tempo que arrancava o projecto do Martinhal Family Hotels & Resorts. Corria o ano de 2002. Um espaço dedicado ao luxo, mas sobretudo a famílias que querem viajar e estar descansadas: “muitas vezes aquela mãe só tem aqueles minutos para beber um cappuccino sem pensar em mais nada. Não importa se só há uma criança em todo o resort: aquele kids club tem que estar a funcionar!”, nota, como se isto explicasse todo o conceito. “Eu tenho quatro filhos em casa. Adoro poder levá-los a viajar, mas sei bem o que é não haver lugares adequados para os receber: os quartos dos hotéis não têm ligação com os dos pais, não há com quem os deixar à noite se apetecer jantar com tranquilidade.”
A um ritmo imparável
Chitra e Roman viram um nicho e agarraram-se à oportunidade com unhas e dentes. Com um MBA pela London School of Economics e fluência em seis idiomas no currículo – achamos relevante salientar que uma delas é mandarim! –, há algo nela que nos faz não conseguir afastar o olhar. Talvez o entusiasmo, a paixão com que fala, talvez o ar cansado que teima em ignorar e que não lhe tira um pingo da classe que espalha por onde passa. “Não posso parar, não é? É importante estar, controlar”, diz em jeito de justificação.
O Martinhal abriu as portas em 2010 e em 2012 começou a arrecadar prémios internacionais na categoria de “Melhor Hotel e Resort para famílias na Europa”, “Melhor Villa na Europa”, e por aí em diante. No ano passado, o casal inaugurou um resort na Quinta do Lago (antigo Monte da Quinta Club) – portanto, já há viagens regulares de mais de 100 km – e este ano deram o passo que consideravam essencial: subiram ao centro do país. Em Março inauguraram o Martinhal Cascais Family Hotel (antigo Hotel Onyria Edition) e este mês abre portas o primeiro hotel familiar em Lisboa: o Martinhal Chiado Family Suites. A questão é que o dom da ubiquidade ainda não lhes foi concedido, pelo que tentamos perceber como vão fazer. “Agora vamos fazer mais viagens a Lisboa”, diz Chitra, sempre de sorriso aberto, antes de voltar a levantar-se para distribuir mais cumprimentos e desejos de boa viagem.
O valor da proximidade
Chitra é parte do Martinhal. Os clientes gostam de a ver, de lhe falar, fazem questão de se despedir. E ela nunca se escusa a uma conversa, uma ajuda, nos entretantos de confirmar se tudo está a andar como deve em cada um dos serviços. “Nós confiamos nas nossas equipas, mas é diferente quando estamos a ver, verdade?”, afirma, piscando o olho. É fácil, também, encontrar Chitra e Roman rodeados dos filhos a passear pela propriedade – “tenho que lhes pedir que escolham lugares para almoçar fora daqui, porque se não passamos dias sem nunca sair”, confidencia a responsável, que no ano passado foi distinguida com o prémio de “Gestora do Ano” nos Amadeus Brighter Awards.
Em Sagres, o Martinhal tem três restaurantes, supermercado, piscina, spa, um court de ténis e outro de padel, um polidesportivo e ainda vários bares e um clube para os amantes dos desportos aquáticos – além de uma creche, naturalmente, e de várias actividades para os hóspedes de palmo e meio. O investimento realizado foi superior a 85 milhões de euros. Para os projectos de Lisboa e Cascais, a factura sobe até aos 40 milhões, conseguidos através de private equity e de empréstimos bancários. “Era importante para nós estarmos em Lisboa. Passamos a estar próximos de outro tipo de público. E é também uma forma de lhes darmos a conhecer o projecto de Sagres”, explica.
Na capital, o conceito é outro: “é um hotel mesmo no centro da cidade, no coração do Chiado. Os pais podem deixar os filhos durante o dia e ir àquela exposição em que eles se aborreceriam; ou ir às compras; ou ir ao Teatro ou à Ópera mesmo ali ao lado”, realça. “Não há outro hotel familiar em Lisboa”, pelo que têm a certeza de que será aposta ganha. Até porque, recorda, o Martinhal nasceu em tempos de crise e tem vindo sempre a crescer. No ano passado, as receitas, em Sagres e na Quinta do Lago, foram de cerca de 20 milhões de euros, com uma taxa de retorno dos clientes na ordem dos 35%. Pelo Martinhal, a gestora estima que tenham passado mais de 40 mil pessoas “pequenas e grandes”, durante todo o ano. Com os dois projectos no centro do país, Chitra e Roman prevêem continuar a crescer. E não prometem ficar por aqui no que ao investimento em Portugal diz respeito.