Uma exposição com mais de 90 obras do casal de artistas Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) e Árpád Szenès (1897-1985) abriu ao público na quarta-feira, no Museu Mohammed VI de Arte Moderna e Contemporânea, em Rabat, Marrocos.
“Une histoire d’amour et de peinture” (“Uma história de amor e de pintura”, em tradução literal) dá título a esta mostra, a primeira dos artistas realizada até hoje em Marrocos, segundo a organização da Fundação Árpád Szenès – Vieira da Silva (FASVS) a convite da Fundação Nacional dos Museus de Marrocos.
Contactado pela agência Lusa, o presidente da FASVS, António Gomes de Pinho, sublinhou que esta mostra “é também a maior já realizada em África e no Mundo Árabe, onde a obra da artista já teve algumas presenças, mas nunca numa exposição com estas características e esta dimensão”.
“Também envolve uma parte documental, com outra exposição de caráter fotobiográfico, sobre a relação entre Vieira da Silva e Árpád Szenès, para dar a conhecer os artistas ao público de Marrocos”, acrescentou, numa conversa telefónica a partir de Rabat, onde decorre a inauguração, ao fim da tarde de hoje, com uma conferência de imprensa.
A exposição, com curadoria de Marina Bairrão Ruivo, que também se encontra na capital marroquina – e que vai deixar a FASVS no final de outubro, ao fim de 30 anos naquela instituição – ficará patente até 15 de fevereiro 2024.
O conjunto de obras é proveniente do acervo da FASVS, que detém o museu em Lisboa, na Praça das Amoreiras, e também da Fundação Millennium bcp, do Metropolitano de Lisboa e de outros colecionadores privados.
“As obras escolhidas e o confronto entre elas permitem uma visão global da importância destes artistas no contexto da criação contemporânea do século XX, e em particular da Escola de Paris a que ambos pertenceram”, segundo a curadoria.
Segundo o presidente da FASVS, Marina Bairrão Ruivo sairá “por comum acordo” daquela entidade, que “aproveitou a circunstância para fazer uma reflexão e algumas mudanças”, numa altura em que se prepara para celebrar os 30 anos de existência.
Questionado sobre esse programa comemorativo, Gomes de Pinho indicou que “está prevista uma grande exposição em outubro [de 2024], sobre os 30 anos da FASVS, e outra, em colaboração com a Assembleia da República, sobre Vieira da Silva e a Liberdade”.
“Embora vivendo em Paris e não sendo uma artista militante, [Vieira da silva] era de esquerda e da oposição. Teve uma intervenção muito interessante no período do 25 de Abril porque, a pedido da poetisa Sofia de Mello Breyner, criou dois cartazes que ficaram como icónicos da Revolução, sob o tema ‘A poesia está na Rua’”, recordou.
Gomes de Pinho sublinhou que a artista viveu intensamente esse momento histórico: “Ela esteve sempre do lado da Liberdade, e é isso que queremos evocar. Ela era muito amiga de Mário Soares e é daí que resulta uma reconciliação com Portugal e a criação da FASVS em Lisboa”, lembrou o presidente do Conselho de Administração da fundação desde 2013.
O presidente da fundação indicou que apesar de Marina Bairrão Ruivo, especialista na obra de Vieira da Silva, estar de saída do museu, é esperada a sua colaboração na preparação deste programa.
O Museu Árpád Szenès-Vieira da Silva, gerido pela fundação, foi inaugurado a 03 de novembro de 1994, e o seu acervo cobre um vasto período da produção de pintura e desenho do casal: de 1911 a 1985, para Árpád Szenès, e de 1926 a 1986, para Maria Helena Vieira da Silva.
Lusa