Participou nos últimos dias na conferência da União Africana em Adis Abeba. Qual a importância para Cabo Verde em estar neste fórum?
Cabo Verde quer integrar-se mais ativamente no continente africano. África é um continente de futuro, tem talentos, capacidades, tem imaginação para ser um importante ator na arena internacional neste século XXI. E depois há um propósito firme de modernização e de aceleração da transformação do continente africano. Cabo Verde quer integrar-se nesta nova onda para construir esse novo espírito do continente e acelerar o processo de modernização e transformação rumo a uma África forte, coesa, unida, moderna, próspera e com oportunidades para todos os seus filhos. Esta é a África que queremos e é nesta construção que Cabo Verde quer participar.
Qual o contributo que Cabo Verde pode dar nessa construção?
Desde logo modernizando o próprio país, consolidando as liberdades, a democracia, construindo o desenvolvimento sustentável. Cabo Verde é o exemplo de uma África positiva, que quer provar que é possível o desenvolvimento e que é possível os africanos e africanas viverem melhor. Trabalhando e fazendo o nosso trabalho de casa estamos a contribuir para que a África cresça e se afirme na arena internacional.
Nestes três meses, desde que tomou posse, quais têm sido as prioridades do mandato?
Nestes dias de mandato há uma maior distensão política no país. Há uma maior possibilidade de debate. Eu quero, sobretudo, contribuir para desdramatizar o antagonismo, o desacordo porque o debate a partir das divergências é o sal da democracia. Quero contribuir também para a construção de pontes, de entendimentos e de consensos. Nestes três meses estamos a abrir caminhos para isso. Para uma sociedade mais descontraída, menos tensa, com mais debates e, portanto, com mais luzes e mobilizando todas as inteligências que estão distribuídas na sociedade cabo-verdiana para o desenvolvimento futuro do país.
Então têm sido dias de convivência sã com o partido MpD que está no Governo?
Sim. Temos uma constituição que estabelece as linhas de trabalho de cada órgão de soberania. O Presidente é árbitro e moderador de todo o sistema político. Cumprindo-se a Constituição estaremos a trabalhar com todos os órgãos de soberania para cumprirmos o país.
Em termos de cooperação, Portugal será sempre o eleito?
Sim. Cabo Verde está no mundo. É um país africano e a partir de África quer relacionar-se com todos os países no mundo.
Como olha para o futuro da CPLP que pretende ser um player económico além da componente linguística?
Estamos a fazer o nosso caminho. O Acordo de Mobilidade já é importante e foi um primeiro passo de um caminho longo. A partir daqui temos de continuar a trabalhar para cada vez mais, termos mais mobilidade, mais circulação de pessoas e bens. Agora está a ser trabalhado para a afirmação do pilar económico. Angola elegeu o setor da economia, do desenvolvimento empresarial, de investimentos como pilares importantes da sua presidência. Espero que continuemos a fazer esse caminho, esse esforço para que a CPLP se transforme cada vez mais numa comunidade de povos
Nesta sua passagem por Lisboa ficámos a conhecer o CD que resulta de poemas da sua autoria. Esta veia poética que resultou no CD “Alma” já existia há muito tempo?
Desde adolescente já fazia uns poemas. Acabei por ganhar um concurso literário, fui escrevendo em português e em crioulo. Despretenciosamente fui publicando nas redes sociais e agora estão aqui os poemas musicados.
Ficou então satisfeito com a iniciativa da Primeira Dama e dos artistas que participam no projeto em avançar com o CD?
Estou satisfeito com o resultado. É um bom trabalho, tem várias melodias de várias ilhas. Tem morna, coladeira, funaná. As letras sabem bem quando se ouve através da música. Sinceramente espero que sirva para projetar a música de Cabo Verde. Para projetar Cabo Verde e também para consolidar a amizade e o amor entre as pessoas.