Chegou ao Benfica em 2019, marcou 102 golos, venceu oito títulos e jogou 131 partidas. No passado domingo despediu-se do clube português e dos adeptos, que apesar de preferirem continuar a vê-la de águia ao peito, sabiam que Cloé Lacasse estava pronta para um novo voo.
O bilhete de avião levou-a de Lisboa para a Austrália, onde se vai reunir com a seleção do Canadá para jogar o Mundial 2023, mas não sem antes carimbar a sua transferência para o Arsenal, clube que a anunciou esta quinta-feira. Cloé chega à liga inglesa depois de protagonizar a transferência mais cara de sempre na história do futebol feminino em Portugal, segundo confirma a própria à FORBES.
“Sim, é verdade. É uma sensação incrível, não é algo que eu pensasse que fosse acontecer quando cá cheguei [ao Benfica], mas é extremamente gratificante. Ver que agora outras grandes equipas europeias estão a vir para Portugal e estão a olhar para as jogadoras com seriedade, mostra todo o trabalho árduo que fiz nos últimos anos, não só eu, mas também o enorme grupo de apoio que tenho. A minha equipa, os meus treinadores e a minha família. Acho que tudo se conjugou e vamos ver os frutos disso em breve”, diz.
Recorrendo à linguagem futebolística, este foi mais um grande golo de Cloé. E um que a jogadora sabia que podia marcar. Porque se há alguém que aposta na sua carreira, é ela própria.
Jogar pelo Arsenal era um sonho?
O Arsenal é sem dúvida um clube de sonho. Quando começaram a mostrar interesse sério, soube que era nessa direção que queria que o meu futuro fosse.
Tiveste outras oportunidades? Porquê esta?
Sim, havia outras oportunidades em Inglaterra e noutros países. Eu sabia que este clube estava a liderar no futebol feminino, especialmente em termos de igualdade de oportunidades para as equipas feminina e masculina. É um clube que pode lutar por todos os títulos, seja em Inglaterra ou na Europa, onde existe muito talento de classe mundial.
Quais são as expetativas para este novo desafio?
Tenho grandes expectativas. Gostaria de lutar pelos títulos ingleses. Quero fazer parte de um clube competitivo, competindo diariamente nos treinos e também nos jogos semanais. Sei que a WSL [Women’s Super League] é uma das melhores ligas do mundo neste momento, se não a melhor. É isso que torna extremamente atrativa a decisão de ir para lá. A minha carreira tem sido uma escalada ascendente e estou pronta para estar rodeada pelos maiores talentos do mundo. Em relação à Europa, no ano passado quase chegaram à final da Liga dos Campeões. Isso demonstra a força que têm e o que são capazes de alcançar.
Já conheceste algumas das tuas colegas de equipa? Como foi a receção?
Sim, quando estive lá pude conhecer algumas colegas de equipa. Todas me receberam bem, estamos todas ansiosas pela próxima época. Quando se está rodeada de competidoras que pensam da mesma forma, é fácil a integração porque todas têm um objetivo comum: ganhar.
Vais jogar uma liga que conta com grandes nomes do futebol mundial, o que é que isso representa para ti?
Sempre fui a pessoa que apostou em mim própria, mesmo em alturas em que os outros não o fizeram. Foi isso que fez de mim a futebolista determinada, resistente e motivada que sou hoje. Sou extremamente ambiciosa em relação à minha carreira e sei que é exatamente aí que devo estar. Porque lutei e trabalhei arduamente ao longo dos anos não só para lá chegar, mas para ter sucesso ao lado das melhores.
Na tua perceção, como é que os outros clubes olham para a liga portuguesa?
Penso que o Benfica ganhou respeito na Europa. Com razão, eles investiram internamente e também a nível internacional no seu processo de seleção de jogadoras. Nos últimos dois anos, o Benfica conseguiu mostrar à Europa que existe talento em Portugal. Penso que a Federação Portuguesa precisa de ajudar mais em termos de financiamento dos clubes, especialmente para ajudar a diminuir a distância entre as três primeiras e as três últimas equipas. A liga precisa de se tornar mais competitiva e equilibrada. Neste momento, penso que os outros clubes fora da Europa respeitam o Benfica. Mas não pode ser só o Benfica. Os outros clubes têm de dar o salto em frente para que o país possa melhorar como um todo. Não apenas um clube.
Qual é o contributo que este aumento nos valores das transferências pode dar à liga portuguesa?
Este tipo de transferências significa que os clubes podem fazer contratos maiores com as jogadoras, podem investir mais na equipa de futebol feminino, esperando que haja transferências com o crescimento das jogadoras, com as formações jovens. Isto é apenas o começo. Esperemos que com isto venha a visibilidade para Portugal e com a visibilidade venha o crescimento. É uma altura entusiasmante.