Inês Pereira é a protagonista dos últimos movimentos no mercado de transferências em português. Até aqui jogadora do Servette, da Suíça, a guarda-redes assinou pelo Everton, mas depressa rumou a Espanha, onde vai vestir a camisola do Deportivo, recém-chegado à primeira liga espanhola.
Numa entrevista em exclusivo à FORBES, a internacional portuguesa sublinha que “o Everton sempre demonstrou muito interesse em mim. Infelizmente, não estou elegível para jogar diretamente na liga inglesa, por não ter os pontos suficientes. Mesmo com esta condicionante, o Everton não desistiu da minha contratação. O Deportivo, também, desde o início quis contar comigo. No final, fruto desta condicionante, assinei pelo Everton e fui emprestada ao Deportivo”. E não tem dúvidas sobre este novo passo: “Penso que será muito positivo para mim ter esta experiência na liga espanhola, que a par da WSL é a melhor liga da Europa, antes de rumar a Inglaterra. Estou muito feliz com este desfecho”.
Para estar elegível para jogar na liga inglesa (WSL), a guarda-redes portuguesa necessitava de um total de 24 pontos. Inês Pereira, no final da época que agora terminou, somou apenas 20. O que contribui para que as jogadoras somem pontos é, por um lado, o clube e a liga onde está inserido, e por outro a seleção e o seu lugar no ranking. Dentro de cada um destes pontos, vários são os fatores a ter em conta: percentagem de jogos jogados, títulos, qualificações, entre outros.
A nível de clubes, Inês Pereira somou o máximo de pontos possível – o total que tem neste momento – mas com a seleção não conseguiu somar qualquer ponto: além de dividir o tempo em campo com outra guarda-redes, Portugal está apenas no 21.º lugar.
A solução foi então esta: Inês assinou pelo Everton, mas vai diretamente para Espanha, uma liga onde poderá somar mais pontos que a poderá deixar, no ano seguinte, elegível para a WSL. Enquanto a liga suíça está na chamada Banda 3, onde o total de pontos possíveis de somar é menor, a espanhola está na Banda 1 e, no final, poderá ser o suficiente para a guarda-redes chegar aos 24 pontos. Ainda assim, a presença de Inês na seleção e o desempenho da equipa nacional também serão importantes.
“É curioso que as ligas onde sempre quis jogar foram a inglesa e a espanhola. Felizmente, está criado o cenário para que possa jogar em ambas. Vou trabalhar muito e aproveitar cada oportunidade para mostrar todo o meu talento”, diz Inês, já com o foco voltado para a nova temporada. “O objetivo é ajudar a equipa a alcançar, o mais rapidamente possível, a permanência na Liga F. O clube tem traçado estar no top 8. Vamos lutar por isso. A nível pessoal, quero aprender todos os dias e chegar ao final da época com a certeza de que termino melhor do que quando a iniciei. Espero que seja um ano de afirmação, ainda maior, a nível internacional”.
Inês Pereira começou o seu percurso no Atlético do Cacém e em Portugal passou ainda pelo 1.º Dezembro, Clube Atlético da Pontinha, Estoril Praia e Sporting. Em 2021 deu o primeiro passo a nível internacional, quando passou a vestir a camisola do Servette. “A mudança para a Suíça foi muito positiva, descobri-me como pessoa e desportivamente também tive desafios que me fizeram crescer, adquiri outras competências que hoje me fazem ser uma guarda-redes mais completa. Joguei pela primeira vez a fase de grupos da Champions League e encerrei este capítulo da melhor forma possível: conquistando a liga e a taça”, diz.
A internacionalização da carreira é opção para várias jogadoras portuguesas. No nosso país já existem alguns clubes profissionais, como o Sporting e Benfica, mas a liga continua a não ser profissional. Também o caminho até à igualdade, e falamos de igualdade de condições e não igualdade salarial, está ainda por ser feito. Como foi possível verificar na última época, quando uma jogadora do Sporting tornou públicas as condições que encontraram num balneário numa visita ao Marítimo.
“Infelizmente a nossa liga ainda não é profissional, é um passo que espero que possamos dar em breve, para que a nossa liga se possa tornar mais competitiva e também apelativa para as jogadoras portuguesas e também para as de fora. No entanto, em alguns clubes a jogadora portuguesa pode fazer do futebol o seu trabalho, como é o caso do Benfica e do Sporting”, afirma Inês.
Só este ano, o mesmo caminho que a guarda-redes fez, também Tatiana Pinto (Atlético de Madrid), Kika Nazareth (Barcelona) e Sofia Silva (Valência) fizeram. É ao futebol espanhol que vamos buscar alguns dos melhores resultados dos últimos tempos: A Espanha venceu o Mundial em 2023, as espanholas Alexia Putellas e Aitana Bonmatí venceram as últimas três Bolas de Ouro, o Barcelona é o atual campeão europeu de clubes.
“Representa a qualidade cada vez maior da jogadora portuguesa. Estou segura de que vão existir cada vez mais clubes a observar o talento português e a querer-nos na sua equipa. Há muita qualidade em Portugal e espero que este mercado tenha sido o ponto de viragem e apenas o início de algo bonito para todas as jogadoras portuguesas”, conclui Inês.