Em 2020, a Forbes Portugal colocava-o no primeiro lugar da lista dos youtubers mais influentes do país, com um nível de influência de 30,5, destacado em relação aos restantes 19 integrantes do ranking. Os projetos eram mais que muitos, desde a casa dos ‘Upload’, até à música, passando ainda pela sua própria marca de roupa. Mas, no meio de tudo isso, Wuant decidiu parar a carreira que começou em 2009.
“O que me fez deixar o digital em standby foi o facto de me sentir muito incompreendido e muito injustiçado porque as pessoas não estavam sequer a ter em conta nada do que estava nos 10 anos atrás, só estavam a ter em consideração aquele momento. Isso fez-me perceber que precisava também de repensar muitas das minhas atitudes e valores, porque estava-me a deixar levar muito pela fama e pelo “poder”, aquela sensação de quase ser imbatível”, diz Wuant à FORBES.
A pressão de estar presente em todas as plataformas de uma forma constante, um vídeo com uma grande repercussão negativa que o fez sentir que as pessoas estavam a tirar conclusões precipitadas e, por isso, não o compreenderam, e um projeto que não correu da forma que o youtuber imaginou porque, no final, o grupo era grande e estavam todos “em páginas diferentes”. Foi esta a mistura que levou Wuant a deixar o digital de lado e a focar-se na sua saúde mental.
Quem começou na plataforma quando Wuant começou não tinha como saber o que o futuro lhes reservava. O Youtube não era aquilo que é hoje e é muito provável que nenhuma das pessoas que publicava vídeos tenha sequer imaginado que a sua vida iria mudar de uma forma tão radical. O risco do percurso de Wuant foi exatamente esse, o facto de nunca se ter preparado para o que viria.
“Nunca tive acompanhamento psicológico nem profissional, fui sempre só eu a tentar lidar com as coisas da melhor forma que sabia. Fui fazendo as coisas à experiência e nunca com más intenções”, afirma.
Com a pressão a levar a melhor, 2020 foi, então, um ano em que o youtuber lidou com uma depressão: “Durante o período da pandemia, eu tive sem dúvida bloqueio criativo e sofri de uma depressão. Foi aí também que descobri que sofria de ansiedade. Hoje consigo perceber muito melhor e estou a superar, mas sem dúvida que acho que a pressão de fazer vídeos e de estar constantemente presente nas redes sociais, é uma pressão gigante”, explica, realçando que este é um mercado onde todos estão sempre a tentar destacar-se em relação aos outros.
A ausência acabou por coincidir com os primeiros meses da pandemia. A mesma altura em que todas as pessoas ficaram em casa e estiveram mais ligadas ao conteúdo publicado pelos criadores, que, por sua vez, viram a área crescer, ao contrário da maioria dos negócios a nível mundial.
Ao mesmo tempo, foi uma altura importante para conseguir ver as coisas com uma outra perspetiva: a do espetador. Wuant conseguiu “refletir, reconstruir e definir novos objetivos”. A música é um, e provavelmente o maior. “O nosso objetivo com a música é chegar lá fora e trabalhar para sermos uma banda a nível mundial e não a nível nacional. A nível nacional o teto é muito baixo e eu não quero que isto soe arrogante, acho que isto é ambição e não quero que seja interpretado como desvalorizar, porque não é”, garante.
A banda chama-se Blueyes e é um projeto de Wuant e Foxxy. Durante a pandemia, na casa do DJ Diego Miranda, Wuant “precisava de umas baterias para um som e o Diego conhecia alguém”. Foi quando conheceu o colega de banda, um projeto onde já têm uma linha musical definida, mas ainda estão a “aperfeiçoar a arte”. Tudo isto junto da editora Warner Chappel, tendo em conta o objetivo da internacionalização.
O que aconteceu entretanto, também, foi o regresso ao digital. Ainda que de uma forma diferente. A Twitch é uma plataforma de streaming de vídeo focada principalmente nos videojogos, uma das que mais cresceu durante a pandemia e no ano seguinte. Quando Wuant deixou de se identificar com a pessoa que era enquanto youtuber, foi este o caminho que escolheu.
O Youtube também continua presente, ou não tivesse ele nascido, como “Wuant”, nessa plataforma. O canal principal, que tem 3.72 milhões de subscritores, vai ficar guardado para projetos maiores, mas o youtuber criou um segundo canal onde publica com regularidade: Clips do Wuant, com 160 mil subscritores. No fundo, são cortes das transmissões ao vivo que faz na Twitch.
Por mais mudanças que tenham acontecido na vida de Wuant, por outro lado existem uma série de coisas que parecem não ter mudado. É a mesma determinação, a mesma confiança nas suas capacidades e sonhos, a mesma dedicação ao mundo do digital, que ainda tem dificuldade em descrever, o que espelha bem a forma inesperada como tudo isto foi acontecendo na sua vida. “Eu não sei explicar, é isto que eu consegui criar através do meu quarto e que rapidamente se manifestou para todas as partes do mundo, felizmente. É uma sorte eu poder fazer isto e não há um dia que passe em que eu não dê valor”, diz.
A última não mudança é que Wuant quer muito isto para si próprio, mas também para os outros. Falar sobre o Youtube com o criador é sempre falar do que poderia melhorar, da necessidade de começarem a olhar para Portugal, onde a qualidade é muita.
Mas enquanto essa evolução não chega, resta-lhe a pessoal, que faz com que não largue nenhum dos seus objetivos profissionais, mas que pense também na dimensão da sua influência e na importância da saúde mental.
Artigo completo na edição 64 da Forbes Portugal.