O CEO da Galp assume que hoje a empresa está orientada para um propósito baseado na ideia de regenerar o futuro e o portfólio. Na aposta nas energias limpas uma das metas é atingir uma capacidade de mil megawatts no hidrogénio até ao final desta década.
Assumiu o cargo de CEO da Galp há cerca de um ano. Quais foram as suas impressões quando chegou à empresa?
Encontrei uma ótima empresa, com um bom portfólio de ativos e com pessoas muito boas, muito empenhadas e muito trabalhadoras. Posso dizer que foi um bom ponto de partida. Fui recrutado com o propósito de transformar a Galp em termos de conduzir a transição energética no portfólio de ativos criando também uma nova e mais dinâmica forma de trabalhar. E em terceiro lugar para estar mais comprometida a nível externo. Ter um relacionamento externo mais forte com o Governo, com a sociedade em geral.
Implementou uma nova estratégia que passou também pela redução da equipa executiva. Já há resultados?
Tem sido uma transformação excitante. Temos uma comissão executiva muito diferente. Estamos também empenhados em gastar metade do capital em produtos e em fontes de energia com baixas emissões de CO2. Metade do nosso investimento vai ser realizado em renováveis e em novas energias, estamos empenhados em apostar em soluções de baixo carbono. Temos uma nova estratégia com um propósito. Somos agora uma empresa orientada para um propósito baseado na ideia de vamos regenerar o futuro juntos. Trata-se de querer regenerar o nosso portfólio de ativos, mas também de trabalhar em conjunto com a sociedade e com o governo e também de reenergizar as nossas pessoas.
Qual o contributo que a Galp irá dar na aposta no hidrogénio verde?
A Galp quer ser um player de classe mundial no hidrogénio. Neste momento, estamos prestes a lançar o nosso primeiro projeto de hidrogénio que ainda é pequeno com dois megawatts. Mas já estamos a preparar o lançamento, no início do próximo ano, de um projeto com 100 megawatts e estamos a trabalhar com um conjunto de parceiros, com algum apoio do ‘EU Green Deal’, para mais 100 megawatts. Estes são os três projetos atuais, mas a nossa ambição é atingir a fasquia dos gigawatts e ter mil megawatts de capacidade até ao final desta década. Penso que Portugal está num lugar muito bom porque os custos das energias renováveis são competitivos para a Galp porque somos o maior consumidor de hidrogénio no país. Na nossa refinaria de Sines também temos a oportunidade de usar hidrogénio nas nossas operações. Penso que poderemos crescer e criar diferentes oportunidades para os clientes no hidrogénio. O futuro dos combustíveis estará no hidrogénio.
O encerramento da refinaria de Matosinhos não foi um processo pacifico. O que poderia ter sido feito para não ser tão penoso?
Penso que foi uma boa decisão encerrar Matosinhos. A Galp perdeu muito dinheiro durante um longo período de tempo. A refinaria não era económica, por isso era inevitável sendo até a menos competitiva refinaria da Península Ibérica. À medida que se assistia à queda da procura por produtos petrolíferos era a mais óbvia para ser encerrada. Por isso, foi uma boa decisão. A forma como foi executado poderia ter sido feito melhor. A empresa estava a entrar numa transição de liderança, em que o novo CEO, eu próprio, estava em processo de ser nomeado. A empresa poderia ter gastado mais tempo. Numa situação mais estável, em que não se estivesse a atravessar uma mudança de liderança, teria havido um foco mais forte para envolver devidamente os stakeholders nesta decisão inevitável. E também se tinha conseguido um plano mais forte para lidar com as pessoas. Quando se está a fechar uma refinaria é inevitável que algumas pessoas percam os seus empregos. Mas é muito importante fazê-lo de uma forma sensível. E acredito que poderíamos ter feito um papel melhor. Nunca é uma tarefa fácil.
Como vislumbra o futuro de Matosinhos?
A transição energética vai criar mudanças no nosso sistema energético. Acredito que vão ser criados muitos mais empregos ao longo do novo sistema energético do que aqueles que se perderem no velho sistema. No que toca a Matosinhos, acredito que vamos criar muitos mais empregos com o Matosinhos Future Hub. Em termos líquidos vai ser um local muito melhor em termos de empregos, para o crescimento económico. E também um crescimento económico que apoia o ambiente e que ajuda a prevenir as alterações climáticas em vez de acelerar, que obviamente, é o que os combustíveis fósseis fazem.
E como será feita a descarbonização de Sines?
Sines é uma boa refinaria. Não é a refinaria melhor refinaria na Península Ibérica. É a única em Portugal que tem uma posição muito estratégica para Portugal receber os produtos que precisa para manter o país a funcionar. É importante trabalhar em conjunto com o Governo quanto ao seu futuro. No cenário de hoje, as taxas de CO2 estão muito mais altas, há muita regulamentação sobre as diferentes quantidades de biocombustíveis e outros que temos de colocar no nosso mix de produtos. Estamos num momento em que temos de reinvestir fortemente no futuro. Temos de investir em biocombustíveis, em soluções de hidrogénio. A Galp está numa posição em que consegue ver um futuro para Sines. Consegue vê-la no futuro como um parque de energia verde. Mas tem de acreditar que será um futuro em que somos capazes de trabalhar com o Governo para assegurar esse futuro pelo interesse estratégico de Portugal. Vai ser uma discussão importante com o novo Governo.
O artigo completo na edição de abril da Forbes.