A House of Curated desde cedo que se destaca pela sua identidade e curadoria meticulosa. A loja lisboeta, no centro da capital, é um espaço que reúne várias marcas de moda, beleza e acessórios. Hoje, é um ponto de referência para quem procura peças originais e de alta qualidade.
A FORBES esteve à conversa com Catarina Justino e Miguel Marques da Costa, que nos contaram como tudo começou. Falámos, entre outras coisas, do compromisso que ambos mantêm na seleção cuidadosa que fazem aos produtos que escolhem ter em loja. Sempre alinhados com os critérios de Miguel e Catarina, a House of Curated explora todo um universo de criadores e talentos – estabelecidos ou emergentes, nacionais ou internacionais. Procuram marcas com enorme criatividade e qualidade, e consolidaram-se no mercado devido à exclusividade que hoje tanto os define. A House of Curated veio para ficar e para nos mostrar, em Portugal (e não só!), que a originalidade não tem fronteiras. Contaram-nos, também, dos planos futuros que têm para a loja, e dos ideais que moldaram o conceito por trás da inauguração deste espaço, em 2021.
Como é que surgiu a House of Curated? Como é que vocês se conheceram?
Catarina: Na verdade, já nos conhecemos há muito tempo, há mais de vinte anos. Estudámos juntos e sempre tivemos o mesmo grupo de amigos, éramos bastante próximos. Acabámos o Secundário, depois a Universidade, e comecei a trabalhar em Madrid. Na altura o Miguel já tinha a sua própria marca de camisas, a C.R.T.D. Sempre falámos em trabalhar juntos um dia, mas ainda não sabíamos em quê ou como.
Miguel: Na altura da pandemia, enquanto procurava lojas para vender a minha marca, cheguei à conclusão de que não havia nenhuma loja em Lisboa que tivesse as características que procurava. Acabei por viajar dois meses para o Brasil, e enquanto lá estive fiquei a conhecer outras marcas. Mas o problema mantinha-se: se as quisesse trazer para Lisboa, ia continuar sem saber em que loja as iria pôr à venda. Comecei logo a pensar em abrir uma loja!
Era uma forma de resolver o problema, claro! E foi uma coisa repentina?
Miguel: Exatamente. Quando comecei à procura de espaços encontrei um prédio inteiro para arrendar. Falei com a Catarina, que ainda estava em Espanha, e contei-lhe a minha ideia. A Catarina disse logo que se eu quisesse, ela entrava comigo no negócio.
Catarina: Sim, começámos a falar sobre esta nossa parceria e, seis meses depois, abrimos a House of Curated.
Miguel: Foi nesse prédio que abrimos a nossa primeira loja, só que, entretanto, mudámos para o onde estamos atualmente, no número 123 da Rua do Poço dos Negros.
Começámos a falar sobre esta nossa parceria e, seis meses depois, abrimos a House of Curated.
E quando se juntaram, qual era o conceito de loja que tinham em mente?
Miguel: Queríamos trabalhar com marcas pequenas e independentes. Vimos muitas no Instagram, mas não estávamos (nem estamos) necessariamente à procura de marcas com muitos seguidores. Serem portuguesas também não era um requisito.
Catarina: Sim, queríamos peças, especiais, de todo o mundo.
Miguel: Acabámos por juntar várias ao nosso portfólio, porque realmente há muitas marcas que não têm um espaço físico, cá em Portugal. Primeiro, porque são muito poucas as lojas multimarca no nosso país; diria que cerca de uma mão cheia delas, apenas. Depois, porque marcas independentes raramente se identificam com os conceitos das lojas que existem. Mais, essas lojas têm, por norma, outras marcas enormes e de peso, e marcas mais pequenas não ganham nelas o destaque de que gostaríamos.
Catarina: Mais ainda: mesmo a nível de stock, uma marca independente rapidamente deixa de ter capacidade de se fazer notar no meio de tantas outras.
Claro, ficam ‘diluídas’ com tanta escolha. E foram vocês a ir ter com esses negócios mais pequenos para os trazerem para as vossas lojas?
Catarina: Algumas começaram a vir ter connosco, sim. Muitas delas fomos nós que sentimos que fazia sentido, como a Beatriz Jardinha, a Hurricane, a Sous, entre outras. Claro que também entrámos em contacto com outras marcas que queríamos muito ter na nossa loja.
E, Catarina, estavas a trabalhar em que área antes da House of Curated?
Catarina: Quando estava em Madrid, trabalhava em marketing, numa marca de cosmética, de perfumaria. Mas sempre quis trabalhar em Moda. É a área na qual tenho mais interesse. Portanto, quando fiz o meu mestrado em Gestão, quis fazer formação em marketing, porque sem um background de moda era difícil entrar nesse universo. Comecei por trabalhar em empresas de cosmética, do setor de luxo, que era o que mais se aproximava da moda. Quando falei com o Miguel, e ele me contou da ideia que tinha tido, fez todo o sentido juntar-me a ele. Já estava com vontade de voltar para Portugal e senti que o que ele me propôs era um negócio sério.
Quando falei com o Miguel, e ele me contou da ideia que tinha tido, fez todo o sentido juntar-me a ele.
E abrir em seis meses é rapidíssimo.
Miguel: Sim, é verdade. Foi tudo muito rápido. Comecei por pensar que o prédio estava num bom sítio para vender a C.R.T.D, mas é uma marca muito de verão. Mas não podíamos não vender no inverno! A ideia de criar uma loja multimarca, com peças para o ano todo, fazia muito mais sentido.
E foi um projeto que coincidiu com o período da pandemia, não foi assim?
Catarina: Sim. Passávamos muito tempo em casa, por isso, conseguimos organizar-nos bem e estar juntos a criar uma estratégia. Acho que se estivéssemos muito focados noutras coisas, por exemplo se eu tivesse de continuar a trabalhar remotamente em Madrid, como equacionei fazer ao princípio, iria ser bastante mais difícil.
Miguel: Sim. Como estávamos os dois mais disponíveis, acabou por se tornar no momento ideal.
Claro, estava tudo alinhado! E a House of Curated começou com quantas marcas?
Catarina: Acho que foram 26. Não tivemos muito tempo para nos organizarmos com muitas mais marcas, porque abrimos muito rápido.
Miguel: E, sinceramente, vários amigos nossos já tinham as suas próprias marcas de roupa. Começámos com uma e rapidamente começam a aparecer outras no nosso caminho: o passa-palavra ajudou. E eu já tinha a minha marca na loja, claro. Além disso, como de início só contactávamos (e continuamos só a trabalhar com) marcas pequenas, também só comprámos poucas quantidades de cada peça ou de cada coleção.
Catarina: E, normalmente, as encomendas que fazíamos demoravam quase um mês a chegar, às vezes mais. Estamos a falar de duas ou três semanas, só na produção das peças, mais duas ou três semanas no envio e receção das mesmas. Roupa vinda da Colômbia ou do Brasil, por exemplo, podiam demorar mais, mas não ultrapassava um mês e meio de espera.
Miguel: Sim, exatamente. E recebemos tudo primeiro, antes de acabarem as obras!
E como surgiu o vosso nome, House of Curated? Faz sentido, porque é uma curadoria vossa das marcas que decidem vender, claro.
Miguel: A minha marca já se chamava C.R.T.D., que é Curated, mas sem as vogais. House of Curated fazia sentido e foi assim que tudo começou. Escolher o nome foi muito fluído. Há uma curadoria, que é muito importante, e que se reflete no nome.
Há uma curadoria, que é muito importante, e que se reflete no nome.
Noto que para as paredes da loja escolheram uma cor que é muito vossa, que já é a vossa cor de marca!
Catarina: É verdade, este tom de azul já faz parte da nossa identidade. Estivemos a escolher bem que cores e tons queríamos, e achámos esta cor perfeita. Serve para o inverno e para o verão. Pode remeter-nos à Europa, ou a um país na América Latina, por exemplo! Transmite um bocadinho de tudo um pouco.
Miguel: E, como disseste, ficou a nossa cor, a nossa imagem de marca. Começámos a usá-la em tudo: nas caixas, nos nossos cartões, no nosso site… E de pensar que ao princípio ia ser tudo branco!
Este tom de azul já faz parte da nossa identidade.
Catarina: Mas a mudança da cor da loja não foi a única alteração que fizemos, claro. Até o espaço em si, foi pensado com um arquiteto; idealizado por nós e desenvolvida com o Tomás Forjaz, um amigo nosso. Ajudou-nos a criar um espaço mais funcional e mais aberto. A iluminação também é muito importante.
Sim, dá tudo imensa identidade ao espaço. E quanto tempo é que ficaram na vossa antiga loja?
Catarina: Ainda ficámos lá dois anos. Já estávamos com vontade de sair daquele lugar há algum tempo, porque estava a tornar-se num espaço pequeno demais para nós!
Miguel: Sim, estivemos um ano à procura de uma loja nova, mas não foi uma procura ‘agressiva’. Estávamos sempre atentos ao mercado, para ver se havia algum espaço maior e livre que nos interessasse. E não íamos para qualquer sítio, em termos de localização, tinha de haver um upgrade.
Noto que vocês os dois são muito versáteis e dinâmicos e que se adaptam rapidamente a quaisquer desafios. Aliás, recentemente, abriram um segundo espaço num hotel, não foi?
Catarina: Sim, foi resultado de um convite muito natural e espontâneo. Recebemos um email do hotel Praia do Canal Nature Resort, em Aljezur. Disseram-nos que estavam a abrir uma loja deles, que também vende produtos da região, e que queriam muito vender algumas das nossas peças de roupa. Marcámos logo uma reunião, e fomos visitar o hotel. Adorámos! Agora até fazemos lá férias.
Miguel: Levámos connosco duas malas cheias de roupa e criámos uma loja. O hotel organiza e gere-a, e trabalha nela um funcionário deles. Mas somos nós que escolhemos o que vai para Aljezur, fazemos essa seleção.
Como é que vos descobriram? Trata-se de uma situação temporária ou permanente?
Catarina: O Diretor do hotel já conhecia a marca do Miguel. Acho que já há algum tempo que queria falar connosco. E é mesmo para ficar, felizmente.
E esse tipo de parcerias é algo que vos interessa?
Catarina: Sim! Estamos abertos a mais oportunidades do género. Já pensámos várias vezes em fazê-lo. O nosso objetivo mesmo é abrir em mais sítios, é expandir geograficamente o nosso trabalho.
O nosso objetivo mesmo é abrir em mais sítios, é expandir geograficamente o nosso trabalho.
Miguel: No fundo, o nosso conceito dá para sermos muito diferentes e especiais. O facto de fazermos curadoria de marcas, dá-nos para expandir os nossos interesses e áreas. E, quanto maiores formos, mais marcas conseguimos ajudar. Essa é uma parte do negócio de que gostamos imenso.
Catarina: Exato. E a nível do design e criação das coleções das nossos marcas, nós acabamos por estar envolvidos um pouco no processo. Falamos diretamente com cada criador e queremos todos muito apurar bem o que julgamos ter mais saída, etc. Partilhamos com eles o feedback que recebemos dos nossos clientes e há uma constante comunicação entre ambas as partes, nós e os criadores.
Claro. Aliás, até já fizeram colaborações mais formalizadas com algumas das marcas que vendem, não é?
Miguel: É verdade. Já fizemos várias peças em colaboração com algumas delas. Acaba por ser um design nosso, da própria House of Curated, com alguns dos outros criadores. Já trabalhámos com a Sous e com a Huarte, por exemplo.
Catarina: Acaba por ser uma coisa mais exclusiva, pensada por nós e pelas marcas. Depois vendemos, também exclusivamente, na nossa loja física e online. Por norma, criamos uma peça, por exemplo, e fazemo-la em duas cores diferentes. Adoramos o processo todo.
Miguel: É bem verdade. E, curiosamente, as nossas colaborações acabam por ser sempre as peças que mais vendemos!
Acrescenta toda uma outra dimensão ao vosso negócio e acabam por explorar um bocado mais os meandros da vossa criatividade! Como é que surgiu a vossa primeira oportunidade?
Catarina: Sim, é sempre muito giro, por isso mesmo, fazê-lo! A nossa primeira colaboração surgiu de uma sugestão de uma marca.
Miguel: Eu fiz uma camisa para mim, em colaboração com a Sous, e a experiência foi tão boa que repetimos e criámos uma camisa para vender exclusivamente na loja. Depois, também acrescentamos novos pormenores em peças da Huarte, que os nossos clientes gostavam bastante.
Acho que também é de destacar o facto que vocês, os dois, focam-se muito no conceito genderless, não é?
Catarina: Exatamente. Hoje em dia, vendemos roupa de homem e de mulher, mas, ao princípio, vendíamos mais roupa genderless. Focávamos-nos em encontrar peças sem género. Continuamos a vender muita roupa genderless, mas cada vez mais é-nos óbvio que qualquer pessoa pode usar o que quiser! A verdade é que começámos a ter mais roupa destacadamente de mulher ou de homem, porque reparávamos que as pessoas ficavam mais confusas na loja. Perguntavam-nos se certas peças eram de mulher ou não!
Cada vez mais é-nos óbvio que qualquer pessoa pode usar o que quiser.
Miguel: Há muitos clientes que não ficam confusos e que estão mais à vontade, mas notamos que a maioria das pessoas continua a precisar de uma maior distinção entre peças. Nós não queremos distinguir muito e temos uma secção toda unisex, num agregado em que juntamos imensa roupa. Sempre que podemos vamos juntado peças, mas agora também separamos algumas, para ser mais fácil.
Catarina: Sim, porque são muitas as pessoas, realmente, que ainda gostam muito de ir diretamente à secção que acham ser as delas.
Claro, têm de ir ajustando um bocado do vosso modelo ao comportamento, e feedback, dos clientes.
Miguel: Sem dúvida. Temos de pensar no que é mais eficiente, apesar de mantermos que cada um usa o que quiser. Mas é engraçado explorar o comportamento do nosso público. Claro que muitos homens compram peças de mulher, é comum. Mas mais comum é as mulheres comprarem roupa de homem para elas próprias.
Catarina: Sim, é sempre interessante. Mas, como o Miguel disse, na verdade é roupa para todos. Aliás, abrimos a loja com o intuito de tentar ser o mais genderless possível – é o futuro!
Miguel: Claro! Eu, por exemplo, uso roupa da nossa loja, e tanto tenho peças de homem como de mulher. Nem penso muito sobre as etiquetas. Se me servir e eu gostar, já está. Essas divisões “tradicionais” são, por vezes, muito superficiais. Até a Catarina, que adora uma marca “de homem” que, por acaso, é das que vendemos mais, pede sempre coisas para ela em tamanho XXS!
Abrimos a loja com o intuito de tentar ser o mais genderless possível – é o futuro!
Percebo e concordo completamente. Às vezes até há peças que são totalmente genderless, mas que como dizem isto ou aquilo na etiqueta, acabamos por ficar na dúvida se as queremos ou não. E acaba hoje em dia por ir sendo, muitas vezes, apenas uma coisa cada vez mais arbitrária. Outro ponto muito interessante é o da exclusividade de marcas.
Miguel: Sim, é verdade. Da mesma maneira que as nossas colaborações são única e exclusivamente vendidas, ou na nossa loja física, ou na nossa loja online, também pedimos exclusividade às marcas que vendemos na House of Curated. Todas as marcas que aqui temos, e que só estão em Lisboa, só estão aqui. Não existem em mais lado nenhum.
Catarina: Aliás, muitas delas só se vendem aqui, exclusivamente, em Portugal inteiro. Também somos o ponto de venda exclusivo de algumas marcas que ligamos a toda a Europa. Claro que por serem negócios mais pequenos, e independentes, não são facilmente descobertos por mais ninguém. Mas a verdade é que os próprios sabem que tudo tem funcionado muitíssimo bem. Estamos sempre em contacto com eles, não falhamos pagamentos, etc.
Da mesma maneira que as nossas colaborações são única e exclusivamente vendidas, ou na nossa loja física, ou na nossa loja online, também pedimos exclusividade às marcas que vendemos na House of Curated.
E essa proximidade e confiança recíproca notam-se. Aliás, vocês entrevistam vários dos vossos criadores para o site.
Catarina: Sim, gostamos muito de o fazer. Gostamos de entrevistar, para site, os criadores das nossas marcas e outras pessoas com quem trabalhamos. É uma parte do site que acaba por ser dedicada a eles, também.
Miguel: E é uma forma de expormos a história deles. De contarmos aos nossos clientes um pouco mais sobre o que fazem e de onde são, por exemplo.
Claro. E qual é a vossa maior plataforma?
Miguel: Diria que sobretudo o Instagram e o nosso site. Estão muito ligados, claro.
Catarina: Sim, e o passa-palavra também tem tido imenso poder. Acho que estes três círculos, juntos, são como ouvem falar de nós.
E toda as vossas comunicações são feitas em inglês, certo?
Miguel: Sim, a página do nosso site também está toda em inglês. Nós vendemos bastante para fora de Portugal, e grande parte dos nossos envios são para o estrangeiro.
Catarina: Exato. Temos pessoas de Itália a comprar marcas italianas na nossa loja online, até! Ou pessoas dos Estados Unidos a comprarem os nossos chapéus de cowboy, da Hurricane. Acontece imenso.
Nós vendemos bastante para fora de Portugal, e grande parte dos nossos envios são para o estrangeiro.
Sim, e a House of Curated não vende só roupa e acessórios. Têm coisas para casa, jogos, cartas, velas… E estão sempre à procura de produtos inovadores e de coisas novas!
Catarina: Exatamente. Estamos sempre a querer conhecer e trabalhar com novas marcas. Adoramos descobrir coisas novas e o nosso objetivo não é o de ficar apenas com as marcas que já temos. É o de nos aventurarmos com novos produtos e peças.
Miguel: Algumas marcas até já desapareceram, deixaram de existir. Nós compramos o stock das peças que queremos e vamos fazendo isso à medida que vemos aquilo de que nós gostamos. Depois também há marcas que param de produzir algum tempo, e que depois voltam. Mas dá diversidade à loja e torna-nos mais únicos!
Adoramos descobrir coisas novas e o nosso objetivo não é o de ficar apenas com as marcas que já temos.
Exatamente. Voltando aqui para o facto de venderem muito para o estrangeiro, sabem quais as percentagens, pelo menos por alto, daquilo que vendem para cá e para fora?
Catarina: É muito interessante! Online, ou seja, no nosso site, diria que 80% das nossas vendas são para o estrangeiro. É um número muito significativo. Muitas destas pessoas nós nem sabemos de onde é que apareceram, ou como nos encontraram! Uma das nossas melhores clientes descobriu-nos online!
80% das nossas vendas são para o estrangeiro.
Miguel: Sim, nós até já lhe enviámos umas cartas nossas, como presente. Já lhe mandamos presentes de Natal! Temos alguns clientes assim. Que não sabemos como chegaram até nós, mas que são ótimos clientes. Ficaram fiéis à loja!
Identificam-se muito com a vossa curadoria, pelos vistos! E vocês têm sempre coisas novas, todos os meses. Para muitos, tornaram-se no local ideal para se conhecer novas marcas, sem muito esforço.
Miguel: Sim, estamos constantemente a receber coisas novas. E todos os meses temos novidades. Diria que de duas em duas semanas, normalmente, temos novos produtos. Recentemente, por acaso, lembro-me de ter dito à Catarina que estivemos ali num período sem haver muitas coisas novas. Mas, de imediato, começámos a procurar marcas diferentes. É mesmo um esforço que fazemos.
Quantas marcas é que vendem atualmente?
Catarina: Perto de 40, já. E temos mais a chegarem.
Sempre limitado ao stock existente, que tornam deliberadamente exíguo e, nisso, transformam-nos em produtos mais exclusivos, tipo limited editions?
Catarina: Sim. Por exemplo, se escolhemos um vestido, somos capazes de escolher só um de cada tamanho. Ou quatro peças iguais no total. É para serem peças únicas, para os nossos clientes sentirem que não são peças que toda a gente tem.
Miguel: Dá outra camada de exclusividade à loja. E tem outra implicação que nos convém: dá-nos a possibilidade de termos mais peças diferentes em loja, em termos de espaço.
Mudando um bocadinho o ponto de aplicação das minhas perguntas: como é que dividem as tarefas entre vocês os dois? Complementam-se muito, digo eu.
Miguel: Nós na verdade fazemos um bocadinho de tudo juntos. A Catarina está responsável pela parte financeira da empresa. Eu pela comunicação e gestão das redes sociais, como o Instagram. Como somos amigos há imenso tempo, estamos muito confortáveis um com o outro. É mesmo trabalho em equipa e temos uma amizade fortíssima.
É mesmo trabalho em equipa e temos uma amizade fortíssima.
Catarina: Sim, e quando estamos a escolher a roupa que queremos ter na loja, também somos muito flexíveis um com o outro. Eu sou capaz de escolher o que me conseguia imaginar a usar, e o Miguel escolhe o que ele usaria.
Miguel: Já cometemos o erro de comprarmos peças de que não gostávamos, mas que sabíamos que se iam vender, e arrependemo-nos muito depressa de o ter feito. Não gostamos nada de ter coisas que não compraríamos, parece que nem sabemos vendê-las bem porque, de facto, não são do nosso gosto.
Catarina: Depois somos o género de estar na loja, sempre a olhar para a tal peça, a pensar “temos de vender aquilo rápido para que desapareça”!
E ficam com menos espaço para o que gostam. Os clientes que têm também devem ter gostos parecidos com os vossos.
Catarina: Completamente. Passamos imenso tempo aqui e queremos que esteja ao nosso gosto. E a mentalidade de comprar “o que vai vender”, acaba por redundar naquela coisa de seguir trends. A nossa identidade acaba por ficar diluída se estivermos sempre atrás do que está na moda. Queremos, em vez disso, estar focados na qualidade das peças, no facto de serem coisas bem feitas, que duram muito tempo, etc.
Como é que escolhem as marcas? Quais os critérios?
Miguel: Peças que gostemos e produções pequenas com qualidade. Gostamos de saber se são marcas com muitos seguidores, ou mais ‘niche’.
Catarina: Também é importante saberem se têm lojas em Portugal, ou na Europa, apurar quanto é que eles vendem, como levam a cabo a produção deles, se é sustentável, se são originais, etc.
Miguel: Sim, há pequenas marcas que infelizmente, como não querem ou podem investir muito mais, não conseguem ter a qualidade necessária. Também tentamos, por exemplo, ter sempre disponível roupa com uma grande variedade de preços. Tanto temos vestidos de 500 euros, como temos roupa de 20 ou 30 euros. É-nos muito importante essa variedade de preços. Peças originais, e diferentes do que se pode encontrar em qualquer lado é importante, claro.
Como é que descreveriam os vossos clientes?
Catarina: Acho que temos, maioritariamente, dois tipos de clientes. Primeiro, o cliente fiel, que vem cá à loja quatro vezes por ano, que é ótimo comprador, e com quem criámos já amizade. Várias vezes encomendamos peças sabendo, de antemão, que certos clientes nossos vão adorar! Depois, diria que temos os one-timers, que vêm cá porque estão fartos de outras marcas e lojas.
Miguel: Sim, e também pessoas que não querem comprar tudo de marcas de luxo. Que querem coisas originais e que gostam da exclusividade. Ou clientes que já confiam no nosso gosto e não vêm à loja: dizem-nos que precisam de mais roupa e nós escolhemos peças por e para eles! Depois enviamos-lhes a roupa com estafetas, como a Uber, por exemplo.
Fascinante… É prática comum enviarem roupa para os vossos clientes por Uber? Parece-me muito moderno e interessante, confesso.
Catarina: Acontece muitas vezes, sim! Há quem venha cá só buscar um saco de roupa, a correr, e sem experimentar nada! Enviamos fotografias da roupa ao cliente, por exemplo, e depois mandamos-lhes logo o link para pagamento, como se fosse uma compra online. Mas lá está, são relações que se vão formando com os nossos clientes. Acaba por ficar uma experiência muito mais personalizada. E mais rápida.
Sim, sem formalismos e a estabelecer relações próximas e de confiança. A forma como expõem as vossas roupas reflete esta vossa descontração?
Miguel: É interessante perguntares isso, porque, de facto, não organizamos nada por marca! Fazemos uma seleção, juntamos as peças, sempre. Operamos muito mais por mood. Uma parte da loja é mais para saídas à noite, outra mais para praia, etc. A única marca que tem lugar fixo, por assim dizer, é a minha, a C.R.T.D. Mas só porque há várias pessoas que vêm cá apenas para as minhas camisas.
Catarina: Sim, nós não somos rígidos com a forma em que nos organizamos, de todo. Às vezes fazemo-lo por cores, outras vezes por estilo de roupa, e outras vezes por mood, como disse o Miguel. Queremos que fiquem a conhecer novos criadores, também.
Miguel: E nunca tivemos assim uma grande estratégia planeada ao pormenor, é tudo muito orgânico. O objetivo é que gostem e que usem várias vezes a mesma peça. Não é comprarem por impulso para depois se arrependerem.
E continuam a ser só vocês os dois?
Catarina: Atualmente já temos outras pessoas a trabalhar para nós. Temos quem faça o management diário da loja, a limpeza, o fechar a caixa, etc. Como queremos crescer, queremos ter tempo para sermos criativos e descobrir coisas novas. A parte mais gira é a mais complicada e a que só nós conseguimos fazer, na verdade.
Miguel: Sim, achamos que devíamos delegar a parte do dia-a-dia a terceiros, para conseguirmos explorar maneiras de crescer. Mesmo com esta delegação, acabamos por vir cá à loja praticamente todos os dias! Gostamos de fazer o trabalho mais hands on, também. Eu gosto imenso de estar na loja a vender e a Catarina também. Ainda por cima gostamos ambos de falar com os nossos clientes.
Sim, e fazem a comunicação das outras marcas.
Catarina: É mesmo verdade, sim. Gostamos muito de ajudar as outras marcas, como disse, mas também as estamos a propagar. Muitas não têm posicionamento no mercado, ou não querem abrir loja própria porque não têm capacidade para tal, e vêm ter connosco por isso mesmo.
Miguel: E agora Lisboa tem imensa gente de fora. Turismo e não só, muitos estrangeiros vivem agora cá. E mesmo aqueles que estão apenas a visitar Portugal, muitas vezes voltam para os países deles, mas continuam a comprar do nosso site.
Por fim, quais os vossos planos futuros? Sem ser o da vossa expansão?
Catarina: Queremos mesmo entrar mais no processo de criação das marcas com que trabalhamos. Gostamos muito da parte relativa ao design, por exemplo. E já pensámos em ter marca própria, claro. Queremos fazer mais e novas colaborações. Cada vez que criamos uma categoria nova no nosso site – como quando começámos a vender perfumes ou livros – ficamos sempre muito contentes. Expandir nessa direção, na de diversificação de produtos, é do nosso interesse, como é óbvio.
Queremos mesmo entrar mais no processo de criação das marcas com que trabalhamos.
Miguel: Também gostávamos de passarmos a ser uma House of Creators, com marca própria do mesmo nome. Ou seja, explorar mais esse lado do negócio. Como já dissemos, queremos muito abrir espaços diferentes, fora de Lisboa, até no estrangeiro.
Catarina: O que estamos a fazer no hotel, que acaba por ser um formato género pop-up, é um exemplo daquilo que gostaríamos de fazer. Funciona muito bem e estamos muito contentes. E, pelo feedback que nos têm dado, eles, tanto parceiros como clientes, ficam também muito contentes.