Falando no Fórum Eurafrica, que decorre hoje e sexta-feira em Carcavelos, nos arredores de Lisboa, num painel dedicado ao emprego e economia, Nogueira Leite lembrou que a Europa tem outros blocos a competirem na cooperação com África, mas possui algumas vantagens.
“A Europa e África são vizinhos, conhecemo-nos bem e quando falamos de parcerias acredito que Europa está muito bem posicionada para ser um verdadeiro parceiro. Não como [um parceiro] que chega e tira, mas como alguém que fica e interage com África”, precisou Nogueira Leite.
O professor da Nova-SBE sublinhou, no entanto, que esta parceria e cooperação, deve ser no sentido de ajudar a criar verdadeiras cadeias de valor em África, apontando, como exemplo, que a produção de painéis solares poderia ser integralmente feita naquele continente, em vez de este apenas fornecer os materiais que são necessários para depois os painéis serem produzidos num país europeu.
Também o presidente da Comissão Executiva (CEO) do BPI, João Pedro Oliveira e Costa sublinhou que a Europa “precisa mais de África” do que o contrário e que enquanto este pensamento não for verdadeiramente interiorizado e assinalado haverá dificuldade do lado dos europeus em perceberem o seu papel nesta alienação.
Num painel em que vários dos oradores participantes focaram a riqueza de recursos do continente africano, nomeadamente o demográfico (traduzido numa larga percentagem de população jovem) ou o energético, o empreendedor e investidor Sangu Delle apontou a forma fragmentada com que a Europa ainda olha para África.
“Quando se fala da aliança Europa/África há uma fragmentação: há a África anglófona, a África francófona, a África lusófona”, referiu, precisando que como investidor vê no terreno esta fragmentação.
Numa altura em que a guerra na Ucrânia veio somar uma crise alimentar a outras crises, Sangu Delle referiu que, tal como noutras crises, também esta pode trazer oportunidades e uma delas poderá estar no reforço deste continente ao nível da produção agrícola.
“África tem 60% da terra arável, não faz sentido que não seja um exportador de alimentos”, disse.
O Fórum Eurafrica, que decorre hoje e sexta-feira em Carcavelos, está organizado em torno de cinco eixos e conta com a participação do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, dos Presidentes de Portugal, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, e vários empresários e banqueiros portugueses e africanos.
Dividido em dois dias, o Eurafrica foi aberto pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, com o dia de hoje dedicado a vários painéis sobre geopolítica e geoestratégia, saúde, educação e ciência, economia e emprego, transição energética e transformação digital e ainda oceanos e economia azul.
Lusa