A atriz Eunice Muñoz morreu esta sexta-feira, no Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, aos 93 anos, informou o filho da atriz à agência Lusa.
Nascida na Amareleja, no distrito de Beja, em 1928, Eunice Muñoz era uma das maiores figuras do teatro nacional, tendo completado 80 anos de carreira, em novembro passado.
A estreia de Eunice Muñoz nos palcos aconteceu no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, em 28 de novembro de 1941, na peça “Vendaval”, com a Companhia Rey Colaço/Robles Monteiro. Tinha 13 anos.
Filha e neta de atores de teatro e de artistas de circo, ao longo da carreira Eunice Muñoz entrou em perto de duas centenas de peças, trabalhou com cerca de uma centena de companhias.
O seu talento é de imediato reconhecido e admirado por Palmira Bastos, Raul de Carvalho, João Villaret e pela própria Amélia Rey Colaço, o que lhe permite uma rápida integração na Companhia.
Termina o Conservatório com 18 valores e populariza-se no palco do Teatro Variedades, com Vasco Santana e Mirita Casimiro na peça Chuva de Filhos, de Margaret Mayo.
No cinema e na televisão, Eunice Muñoz partipou em oito dezenas de produções de ficção, entre filmes, telenovelas e programas de comédia. Chega ao cinema pela mão de Leitão de Barros em 1946, com o filme “Camões” – por esta interpretação, Eunice ganha o prémio do Secretariado Nacional de Informação, para a melhor atriz cinematográfica do ano.
Em 2006 representa pela primeira vez na casa a que deu nome, o Auditório Municipal Eunice Muñoz, em Oeiras, com a peça Miss Daisy, encenada por Celso Cleto, contracenando com os atores Guilherme Filipe e Thiago Justino.
Condecorações infindáveis
A 13 de julho de 1981 é feita Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. Em 27 de março de 1990 Eunice Muñoz foi distinguida pelo Ministério da Cultura com a Medalha de Mérito Cultural.
Em 27 de março de 1990 Eunice Muñoz foi distinguida pelo Ministério da Cultura com a Medalha de Mérito Cultural.
Em 1991, celebram-se os seus 50 anos de Teatro, com uma exposição no Museu Nacional do Teatro, sendo Eunice condecorada, em cena aberta, no palco do Teatro Nacional, pelo Presidente da República, Mário Soares. A 26 de novembro de 1991 é, assim, feita Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
A 8 de junho de 2010 é elevada a Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada. A 28 de novembro de 2011 é elevada a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.
Em 30 de julho de 2018, no dia do 90º aniversário de Eunice Muñoz, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve presente no jantar de homenagem organizado pelos amigos e familiares da atriz, tendo atribuído a Grã-Cruz da Ordem do Mérito a Eunice Muñoz “pela admirável carreira de uma das mais reconhecidas e amadas atrizes portuguesas”.
Em 13 de setembro de 2015 foi organizado o 74 Eunices, um espetáculo de homenagem à atriz Eunice Muñoz que decorreu na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II. O espetáculo foi dirigido por Cristina Carvalhal. Fizeram parte do elenco do espetáculo 74 actrizes.
Em abril de 2021, a atriz foi condecorada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada.
Após homenagear a atriz, o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, assistiu, no Auditório Municipal Eunice Muñoz, em Oeiras, à peça “A Margem do Tempo”, de Franz Xaver Kroetz, com encenação de Sérgio Moura Afonso, na qual Eunice Muñoz contracena com a sua neta Lídia Muñoz.
No final da sessão, a que assistiram ainda o Primeiro-Ministro, António Costa, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e a ministra da Cultura, Graça Fonseca, foi prestada uma homenagem à atriz.
“Este teatro foi a minha casa durante muito anos, fui feliz no palco, em tudo o que cá fiz”, afirmou então Eunice Muñoz, no final da sessão.
”Agradeço sobretudo a vocês, ao público, que me acarinhou, que me aplaudiu desde que comecei, até agora que comemoro os meus 80 anos de carreira”, disse Eunice Mñoz quando celebrou 80 anos de carreira artística.
“O teatro precisa de nós, de nós no palco e de vocês que recebem o melhor que temos para dar”, acrescentou ainda Eunice Muñoz, concluindo que, “apesar dos dias estranhos e difíceis, o belo continua a existir”.
Ao pronunciar-se sobre o falecimento de Euni Muñoz, Marcelo Rebelo de Sousa disse que Portugal já se tinha habituado à ideia de que Eunice Muñoz era eterna fisicamente. Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu-lhe “décadas inesquecíveis”, dizendo que a atriz jamais será esquecida e que o país está de luto.
Para o recém-nomeado ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, foi “uma atriz com um dom único e um talento natural para a representação. Para os portugueses, a sua vida confunde-se com os palcos e o teatro. Todos a conhecemos e, por isso, todos fomos desenvolvendo uma relação íntima e carinhosa com a mulher de traço humano e inclinação doce e afável”.
“Para os portugueses, Eunice Muñoz é o teatro. É a verdadeira Senhora Teatro. O que felizmente todo o país soube sempre reconhecer”, acrescentou.