Os 500 anos do nascimento de Luís de Camões serão celebrados sobretudo em Portugal, mas a Estrutura de Missão pretende alargar as iniciativas a outros países e territórios, como Marrocos, Moçambique, Índia e Macau.
“O roteiro camoniano será tido em conta na medida do possível”, afirmou hoje o comissário-geral das comemorações, José Augusto Bernardes, à agência Lusa, mencionando os lugares de África, Oriente e Extremo Oriente onde Camões esteve, no século XVI.
Até à próxima semana, o investigador está na Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), a convite da Universidade de Macau e de outras entidades da antiga colónia, integrada na China em 1999.
“Tive encontros com estudantes e com o público em geral. Permito-me destacar a visita que efetuei à Escola Portuguesa e a oportunidade muito gratificante de nela poder falar de Camões a jovens macaenses”, adiantou, para salientar que Macau acolheu este ano um congresso sobre Camões e que outro vai acontecer em Moçambique, em 2025.
Segundo o comissário-geral, “a chamada rede externa, envolvendo as cátedras e várias universidades onde o português tem presença significativa, tem estado bastante ativa”, com diversas realizações.
“Em Macau, a memória e o apreço por Camões são especialmente intensos. Camões está por todo o lado, na chamada Gruta, desde logo, mas também na toponímia e na memória dos habitantes que se exprimem em português”, destacou.
Na RAEM, o responsável máximo da Estrutura de Missão encontrou “bons projetos em fase adiantada de execução”.
“Tocou-me o plano de uma edição bilingue de ‘Os Lusíadas’, ilustrada por artistas chineses e portugueses, promovida pelo Consulado de Portugal em Macau e Hong Kong”, declarou.
Embora a maioria dos eventos aconteça em Portugal, “não esqueceremos as comunidades portuguesas” pelo mundo, “nem os países de língua oficial portuguesa”, assegurou José Augusto Bernardes.
“Tenho a ambição de poder fazer o mesmo que em Macau nas outras escolas portuguesas espalhadas pelos diferentes continentes. Para esse e para outros fins, conto com a ajuda de outros e outras colegas”, disse.
O programa comemorativo do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões abrange “atividades com maior visibilidade e outras que, embora igualmente importantes, não gozam do mesmo impacto público”.
O comissário-geral destacou a realização de “Um dia para Camões” em cada capital de distrito e nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira.
“Em alguns casos, conta com a participação de escritores, alguns galardoados com o Prémio Camões. Noutros casos, esse dia insere-se em atividades culturais como feiras do livro ou outro tipo de certames culturais”, informou.
O primeiro desses dias dedicados ao poeta será em Coimbra, a 12 de fevereiro, seguindo-se o Funchal, em 31 de março.
“O objetivo será sempre implicar públicos jovens, levando-os a reagir à mensagem de Camões naquilo que ela tem de atual e agregador”, disse o comissário-geral à Lusa.
Estão igualmente previstas “iniciativas mais convencionais”, como congressos e exposições fixas ou itinerantes, tanto em território nacional como no estrangeiro.
“Uma delas terá lugar em Paris, na sede da UNESCO, outra na Biblioteca Nacional de Madrid. De uma maneira ou de outra, todas terão vocação didática e serão comissariadas por camonistas”, referiu.
A Estrutura de Missão “promoverá diretamente dois grandes congressos”: uma reunião internacional de camonistas, na primavera de 2026, em Lisboa, e um congresso sobre o ensino de Camões, em Coimbra, no outono de 2025.
“A figura do poeta tem vindo a desempenhar um papel agregador ao longo dos séculos e na pluralidade dos espaços e das culturas em que se fala a nossa língua”, realçou o catedrático da Universidade de Coimbra.
Entretanto, será construído um “sítio de Camões”, reunindo “informação qualificada” sobre a vida e a obra do poeta, funcionando como “lugar fiável e certificado para Camões no mundo das plataformas e da informação” disponível na internet.
As comemorações do quinto centenário do nascimento de Luís de Camões arrancaram oficialmente no passado dia 10 de junho, com uma programação a estender-se até 10 de junho de 2026, a difundir em pormenor.
Na altura, o Ministério da Cultura adiantou que esta programação abarcaria espetáculos para teatro e cinema, iniciativas de comunicação através das redes digitais, programas para televisão e exposições, publicações especiais, um concurso escolar para professores e alunos, assim como ações de formação.
A representação da comédia “Filodemo”, em parceria com o Teatro Nacional D. Maria II, a elaboração de um breve filme de animação sobre a vida de Camões para os primeiros ciclos do ensino básico, e a contratação de peças sobre o mesmo tema para apresentar em escolas constavam do programa, à semelhança de um ciclo de debates na Cinemateca Portuguesa, encontros na Biblioteca Nacional de Portugal e a colaboração com o Instituto do Cinema e do Audiovisual.
A grande exposição na Biblioteca Nacional de Portugal, segundo o anúncio do ministério de Dalila Rodrigues, será intitulada “Revisitar Camões”. Exposições bibliográficas itinerantes terão por alvo as escolas do 2.º e 3.º ciclos dos ensinos básico e secundário; outra, em parceria com o instituto Camões, será a que vai percorrer Goa, Macau, a Ilha de Moçambique e outros pontos do mundo onde se ensina a língua portuguesa.
Um plano especial de edições, que inclui a reedição de livros e a publicação de inéditos, pela Biblioteca Nacional, em parceria com a Imprensa Nacional está igualmente previsto, assim como a elaboração de audiolivros de “Os Lusíadas” e da “Lírica de Camões” para distribuir pela rede escolar. Também anunciada em junho foi uma série de 12 ‘podcasts’ sobre Camões, com um convidado diferente em cada episódio.
No âmbito da cooperação luso-espanhola, está agendada uma exposição comemorativa na Biblioteca Nacional de Espanha (BNE), a inaugurar a 10 de junho de 2026.
De acordo com o Ministério da Cultura, esta exposição “vai contar com o importante acervo camoniano na BNE e terá um comissário espanhol, a designar, contando com a participação de académicos e investigadores” dos dois países.
Lusa