A 38.ª edição de entrega dos Prémios Gazeta, que decorreu nos Paços do Concelho, em Lisboa, na sexta-feira passada, ficou marcada pela crise dura que vive o setor da comunicação social, a propósito da situação conturbada por que passam os jornalistas da Global Media Group (GMG).
E dois políticos presentes, Marcelo Rebelo de Sousa (Presidente da República) e Carlos Moedas (Presidente da Câmara Municipal de Lisboa) assumiram a necessidade imperiosa de salvar a comunicação social enquanto é tempo e a bem da democracia.
Para Marcelo Rebelo de Sousa é preciso encontrar fórmulas de modo transversal para viabilizar “aquilo que é fundamental para a democracia”.
O Presidente da República considerou, por seu lado, que “este é o momento” de “chegar a um entendimento de regime” sobre os media, numa altura em que vai decorrer o Congresso dos Jornalistas, defendendo que “é fundamental olhar enquanto é tempo”.
“Este é o momento”, numa altura em que vai decorrer o Congresso dos Jornalistas, “de chegar a entendimentos de regime sobre esta matéria”, afirmou o chefe de Estado.
Isto porque “repetem-se os diagnósticos, a situação piora, vai piorando, depois é rigorosamente irrecuperável”, prosseguiu.
“Estou realista e o realismo impõe que não se demore mais tempo, que não se encontre solução no 42.º ou 44.º” Prémios Gazeta, “que é capaz de já ser tarde”, em que “pelo meio ficaram não sei quantos jornalistas, não sei quantas famílias de jornalistas, não sei quantos órgãos de informação, não sei quantas formas de escrutínio essenciais para a democracia”, reforçou Marcelo Rebelo de Sousa.
Apontou que o Congresso dos Jornalistas anterior “foi o primeiro sinal de alarme” e que neste 5.º Congresso, que decorre entre 18 e 21 de janeiro, “isto não está mal, está muito mal”.
E “é um risco para a democracia como é um risco não se perceber que um sistema democrático jovem pode parecer-se aceleradamente com sistemas envelhecidos”, acrescentou.
“É fundamental olhar enquanto é tempo e para o ano nos encontremos sem estes despedimentos, sem estes não pagamentos de salários, sem esta indefinição em que ninguém é responsável, não é o proprietário, não é o gestor, não é o financiador, não é ninguém com responsabilidades administrativas, morreu solteira a culpa”, salientou Marcelo Rebelo de Sousa.
“Às tantas só falta dizer [que] os responsáveis são os jornalistas. Para que quiseram ser jornalistas e escolheram a porta errada”, rematou.
O presidente da Câmara de Lisboa afirmou que é um “golpe” aquilo que está a “viver em jornais de referência” e de “confiança” e defendeu que isto é “um aviso” para se valorizar a classe jornalística.
“O que estão a fazer a estas redações e aquilo que o meu pai sempre me contava é que nestes momentos tão difíceis é que no fundo estão a limitar o vosso espaço, a vossa atividade, a vossa liberdade e, ao limitar o espaço dos jornalistas, ao limitar a vossa atividade, a vossa liberdade, estamos apenas só e sempre a fragilizar a democracia”, afirmou, por seu lado, o Presidente da Câmara de Lisboa.
E “é isso que muitos não percebem e é isso que nós que temos repetir, é a nossa obrigação, a obrigação dos políticos que acreditam neste jornalismo livre e independente sempre de o dizer todos os dias porque é um golpe aquilo que estamos a viver em jornais de referência, de confiança para todos nós portugueses”, sublinhou Carlos Moedas.
Portanto, “é um aviso para valorizarmos a vossa profissão, para valorizar a classe jornalística, para dar valor e não precariedade, para dar estabilidade e não instabilidade”, prosseguiu o presidente da autarquia.
Carlos Moedas partilhou ainda uma experiência pessoal passada com o seu pai, que era jornalista, para dizer que está solidário com os jornalistas do grupo GMG, que detém títulos como o Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias (JN), TSF, O Jogo, Dinheiro Vivo e Açoriano Oriental.
“Aquilo que sinto (…) e as palavras que disse imediatamente publicamente sobre este caso que estamos a viver com a Global Media são palavras sentidas de quem viveu em sua casa o que é o seu pai” não receber o salário ao fim do mês.
“Penso que nunca o disse publicamente, mas a angústia é tão grande para as famílias que hoje não só para os jornalistas que aqui estão, mas para as vossas famílias, para essas a minha palavra de grande solidariedade”, rematou.
Em 28 de dezembro, a Global Media informou os trabalhadores de que não tinha condições para pagar os salários referentes ao mês de dezembro, sublinhando que a situação financeira é “extremamente grave”.
A Comissão Executiva não se comprometeu com qualquer data para pagar os salários de dezembro, mas sublinhou que estava a fazer “todos os esforços” para que o atraso seja o menor possível.
Entretanto, o grupo pagou na quinta-feira o subsídio de refeição referentes ao mês passado e os salários aos trabalhadores nos Açores.
O programa de rescisões na Global Media termina em 10 de janeiro, dia para o qual também foi convocada uma greve dos trabalhadores do grupo.
Em 06 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva da GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.
com Lusa