A Quinta da Alorna foi fundada em 1723 por D. Pedro de Almeida. Reza a história que depois de ter conquistado a resistente Praça Forte de Alorna nas vizinhanças de Goa, onde exercia o cargo de Vice-Rei, recebeu do Rei de Portugal, D. João V, o título de 1º Marquês de Alorna. Ao longo destes três séculos não perdeu o cariz familiar, mas soube em tempo útil adotar uma gestão profissionalizada ainda que os atuais acionistas da família Lopo Carvalho mantenham uma presença constante nas principais decisões. Pedro Lufinha, o gestor à frente da empresa, garante que o futuro é de confiança e de crescimento da empresa. Em conversa com a FORBES admite que 2025 e 2026 serão anos de novos investimentos.
A Quinta da Alorna comemora 300 anos de existência. Quais têm sido os pontos chave da empresa?
Temos muitos. Além dos vinhos temos também a nossa parte agrícola que é muito relevante. Mas é nos vinhos que temos marca e é por isso que somos reconhecidos. Somos uma empresa que tem investido muito. Desde 2001 até agora investimos mais de seis milhões na adega e depois adicionamos mais 1,5 milhões em vinha, o que nos permite hoje ter capacidade de construir vinhos com enorme qualidade e estar no mercado da restauração e das garrafeiras com grande notoriedade e qualidade.
Em termos de capacidade de produção quais os indicadores que pode referir?
Neste momento, vendemos cerca de dois milhões de garrafas por ano, em que, cerca de metade é feito em Portugal e a outra metade na exportação. Estamos em 23 países.
Nesta presença externa, quais os países que mais contribuem para as vendas?
Os mais relevantes são o Brasil onde temos uma grande percentagem das nossas vendas, Polónia, Reino Unido e Países Baixos.
E como estão a evoluir as outras áreas de negócios?
No enoturismo ainda só temos a loja, mas que é muito importante nas nossas vendas, tem um volume de vendas muitíssimo relevante. Prevemos abrir dentro de um ano uma sala para fazer eventos corporativos. Nas outras áreas de negócio, a mais relevante é a agrícola. A propriedade tem cerca de 2600 hectares, é muito grande. A vinha ocupa cerca de 180 desses hectares, depois temos cerca de 1900 de floresta que é duas vezes Monsanto, é uma área muito grande. E temos 500 hectares de regadio, onde temos milho, trigo, ervilha, batata de indústria, feijão verde, grão-de-bico. É nesta área, em que, não temos marca, mas que produzimos para grandes marcas que se compra diariamente no supermercado. É uma área muitíssimo importante que nos liberta muito cash-flow.
O imobiliário é outra aposta…
Estamos a estudar a imobiliária para um projeto a médio prazo no segmento residencial aqui na Quinta. Espaço temos muito.
Com 300 anos como é que a empresa se vai reinventando para se manter jovem?
Os investimentos que temos feito ajudam. Há três anos, por exemplo, investimos numa micro-adega que nos permitisse fazer vinhos de qualidade superior e reforçar a qualidade do que temos. Estamos agora a lançar um vinho que desafia um pouco os dogmas da enologia e queremos lançar um vinho de topo com uma elegância muito grande, mas com pouca madeira. Um vinho com muita fruta que é um pouco o oposto do que temos vindo a assistir. São algumas formas de reinvenção. No ano passado, lançámos um vinho só da nossa vinha de calhau rolado que tem uma particularidade muito grande a nível, nomeadamente, de acidez e de estrutura. Vamos tentando criar vinhos diferentes. Daqui a 15 dias ou três semanas vamos lançar um vinho rosé de gama alta de qualidade superior. É assim que vamos tentando lançar produtos inovadores no mercado.
A inovação está sempre no vosso business plan?
Sempre. Vamos investindo quer em equipamentos quer em tecnologia que nos permita ter maior controlo sobre os processos de maturação da uva, por exemplo, sobre a questão da sustentabilidade económica e ambiental. No fundo o tema da agua e da sua poupança, da energia, utilização cada vez menos produtos nocivos ao ambiente como os herbicidas. Tudo isto faz parte do nosso ADN e vamos continuar nesse caminho.
Ambicionava ser líder de mercado. Esta próximo dessa liderança?
Não estamos. Neste momento, estamos focados em crescer na nossa gama alta. Depois dos investimentos estamos a crescer 34% na nossa marca Quinta da Alorna. Temos outras marcas, em que, não crescemos tanto. Mas, claramente, esta é a nossa marca bandeira e é nessa que estamos a canalizar os nossos esforços. Estas vendas são de uma categoria superior, em que temos os produtos mais caros. Menos garrafas com mais valor. Estamos focados nisto para depois irmos às gamas mais baixas e depois consolidar no setor com compras, com aquisições de outras propriedades ou com investimento noutras regiões.
Há essa ambição de alargar a presença no mercado…
Sim, assim que consolidemos o crescimento… Estamos a reforçar a equipa comercial nos últimos anos. Contratámos um diretor comercial, reforçamos este ano com dois comerciais para estarem no mercado nacional. No próximo ano, vamos contratar mais um comercial para a área de exportação onde, claramente, estamos a apostar muito no reforço da área comercial.
Nessa expetativa de entrar noutras regiões onde faria sentido ter a vossa presença?
Há diversas, já olhámos para várias, mas não temos nenhuma que estejamos a ponto de fechar e não estamos, neste momento, ainda com estrutura capaz de absorver outra região ou empresa. Queremos primeiro consolidar este crescimento que estamos a encetar para depois adicionarmos regiões com uma equipa totalmente oleada.
Na componente de exportação, há novos mercados em estudo?
Sim. Estamos focados em crescer um pouco mais na Ásia em novos mercados, nomeadamente na Coreia do Sul e Japão. E na Europa estamos a focar os nossos esforços em França que é um mercado muito relevante para os vinhos portugueses.
Nesta fase, tanto a vertente nacional como externa têm um peso de 50% nas vendas. Há a expetativa de o mercado internacional ganhar mais peso nas vendas?
Há essa expetativa, mas não a curto prazo. Mudámos de distribuidor nacional este ano. O nosso objetivo a nível nacional é também de crescimento importante. Queremos crescer quer na exportação quer no mercado nacional, mas em proporções talvez idênticas. A curto prazo não prevemos que a exportação cresça mais que o mercado nacional. Não é esse o nosso objetivo.
Este ano vai conseguir duplicar a faturação, como estava previsto?
Não vamos conseguir chegar lá. Nota-se uma diminuição, desde o verão, nos produtos de gama de entrada. Não vamos conseguir cumprir esse objetivo, mas estamos a subir em termos de mix de venda, rentabilidade e vendas dos vinhos de gama mais alta o que nos satisfaz muito.
Mas já pode avançar a estimativa de resultados para este ano?
Estamos a concluir o orçamento. O nosso plano é a três anos, por isso ainda é cedo para fechar esses números.
Que impacto é que a pandemia teve na vossa estratégia? Obrigou a repensar investimentos?
Houve que repensar totalmente. Antes da pandemia estávamos com uma estratégia de querer valorizar e melhorar mix para mais rico e a pandemia veio fazer o oposto da nossa estratégia. Nesse ano de 2020, no mercado nacional crescemos 24% em quantidade, mas apenas 12% em valor. Claramente no segmento onde estávamos focados, que é a gama de entrada que é precisamente o segmento que está a quebrar agora por ser aquele onde se nota mais rapidamente o efeito da crise. A pandemia fez com houvesse algum atraso. Tínhamos um crescimento pesado para o on-trade que foi precisamente aquele que esteve fechado. A nossa gama mais alta vende-se é no on-trade, na restauração e garrafeiras, que esteve fechado e atrasou-nos um ano e meio a nossa estratégia.
Depois da pandemia veio uma guerra às portas da Europa. Quais os segmentos que estão a ser afetados?
Surgiu a guerra que, curiosamente, volta a afetar mais a gama de entrada porque nesta todos os custos cresceram: o preço do vidro cresceu exponencialmente, o papel para os rótulos, os transportes. Foi precisamente nesses em que a componente embalagem pesa mais no preço total do produto que tivemos de imputar aumentos maiores aos nossos distribuidores e importadores que se notou num abrandamento face aos nossos objetivos.
O aumento de custos situou-se em quanto?
Depende muito. Na gama de entrada tivemos aumento de custos às volta de 11% a 12% isso incluindo aumento total no custo. Em termos de garrafas mais do que duplicou, assim como o vidro. O papel quase que duplicou.
A Quinta da Alorna é uma empresa de cariz familiar que optou por uma gestão profissionalizada. Como é trabalhar nesta dicotomia?
É interessante. Neste momento, temos um conselho de administração que é composto só pelos acionistas ou filhos de acionistas, são todos familiares. A administração é não executiva, mas é presente. Emana as orientações estratégicas, discute connosco os orçamentos que apresentamos, mas com diretrizes da administração. Aprova a imagem, recursos humanos. No fundo, é uma não executiva muito presente. Estamos muitas vezes juntos e discutimos muitos dos temas. Temos uma orientação importante. A grande vantagem que temos é que, não havendo relações familiares, enquanto estivermos a fazer um bom trabalho continuamos. Quando não estivermos facilmente saímos.
Como vislumbra o futuro da Quinta da Alorna?
Vislumbramos com muita confiança. Somos uma empresa muito capitalizada, que ganha dinheiro, paga impostos, temos tesouraria, cash-flow, temos dívida zero, o que nos permite aceder à banca para fazer investimentos. Temos estado a estudar uma série de investimentos no nosso plano estratégico que encaminharemos para uma dessas áreas a muito curto prazo. O nosso objetivo é crescer muito a dimensão da empresa.
Mas estes investimentos são para avançar em 2024?
Em 2024 não, até porque vem aí um ano de crise e seria insensato fazer grandes investimentos. Mas 2025 e 2026 serão anos importantes para nós.
Quantas pessoas estão afetas à empresa?
Na empresa são cerca de 60.
O vinho ‘Quinta da Alorna 1723 Grande Reserva Tinto’, que assinala os 300 anos, terá quantas unidades e estará em que canais de venda?
Fizemos muito poucas garrafas, apenas 712. O objetivo é estar nas garrafeiras especializadas e restaurantes de topo, além de estar na nossa loja.