O Banco de Portugal (BdP) divulgou hoje o relatório do Conselho de Administração de 2020, no qual, revela que atingiu um resultado líquido de 535 milhões de euros. Este desempenho permitiu à instituição liderada por Mário Centeno a distribuição de dividendos ao Estado no valor de 428 milhões de euros. No relatório, a que a FORBES teve acesso, pode ler-se que “considerando o imposto sobre o rendimento corrente, foram entregues ao Estado 671 milhões de euros”.
Apesar de reconhecer que, em 2020, a pandemia da Covid-19 “teve um impacto transversal na atividade” o Banco de Portugal sublinha que o balanço “totalizava 192 mil milhões de euros, um valor superior em 33 mil milhões de euros ao registado no final de 2019”.
O BdP explica que este aumento do balanço é justificado, sobretudo com as medidas adotadas para mitigar os efeitos da pandemia sobre a economia. E detalha que, nesta evolução, do lado do ativo, destacam-se o incremento dos ativos de política monetária em 30 mil milhões de euros, refletindo “um aumento da carteira de títulos detidos para fins de política monetária de 15,6 mil milhões de euros, resultado das aquisições de títulos do novo programa de compras de emergência pandémica (PEPP) e, em menor volume, de títulos do programa de compra de ativos (APP)”.
Do lado do passivo a evolução é justificada pelo aumento dos depósitos das instituições de crédito junto do Banco de Portugal, em 12,4 mil milhões de euros, consequência da significativa injeção de liquidez resultante das medidas de política monetária.
O banco central destaca o crescimento significativo das notas em circulação, 11% no total do Eurosistema, em resultado do aumento da incerteza na Europa no início da pandemia.
Para o aumento de 31 milhões de euros no resultado líquido, face a 2019, o supervisor do mercado financeiro português contou com a margem de juros, no montante de 802 milhões de euros, cuja principal componente são os juros dos títulos detidos para fins de política monetária. Os gastos de funcionamento ascenderam a 196 milhões de euros, menos 9 milhões de euros face a 2019, sendo que os gastos com pessoal diminuíram 5%, em resultado do decréscimo das despesas com as reformas antecipadas. Os fornecimentos e serviços de terceiros também diminuíram 5%.
Ano de viragem para o BdP
Na sua primeira mensagem enquanto Governador do Banco de Portugal, cargo que assumiu em julho de 2020, Mário Centeno realça que a pandemia “colocou à prova a resiliência da sociedade e de todas as suas instituições”. Perante este cenário o Governador do BdP detalha que “adotaram-se medidas nunca antes usadas, nem em tal escala, para conter a crise sanitária e que desencadearam uma inesperada e acentuada redução da atividade económica”.
Mário Centeno admite que “o ano de 2021 será decisivo nos planos internacional, nacional e interno. A Europa deve dar sequência às importantes decisões de integração tomadas em 2020”. E sublinha que “o papel da política monetária não vai voltar a ser o mesmo, desde a coordenação com as políticas orçamentais à preocupação com a sustentabilidade económica e ambiental”. Mário Centeno alerta que “Portugal deve estar preparado para, logo que possível, retomar a atividade com a mesma dinâmica que vivenciou no período anterior à pandemia. Mantendo os mesmos objetivos exigentes de convergência social, económica e financeira com a União Europeia e liderando a Europa no crescimento e nas condições financeiras”.
No que se refere à instituição que lidera, deixa a convicção que “fará parte desse processo, na certeza de que uma organização inovadora e que rejuvenesce todos os anos deve estar preparada para estes desafios”.
O Governador do Banco de Portugal salienta que este será “um ano de viragem, com a definição e início de execução do seu Plano Estratégico de 2021 a 2025, onde as questões de abertura à sociedade, participação ativa no trajeto de recuperação e resiliência de Portugal e na valorização dos recursos internos serão centrais no cumprimento da sua missão”.