Foi das mãos da diretora da revista Forbes, Nilza Rodrigues, do presidente do Conselho de Administração da Media Nove, Luís Figueiredo Trindade, e de Richard Reis, da Ósmio, que Leonor Beleza recebeu, com orgulho, o galardão My Forbes, que premeia o percurso profissional desta ativista política em muito associada aos direitos das mulheres. O prémio foi desenhado pela artista Teresa Milheiro, e patrocinado pela Ósmio, que, segundo Richard Reis, se inspirou no corpo e na força da mulher.
“Durante muito tempo acreditava-se que as mulheres chegavam ao topo porque olhavam o mundo tal como é e faziam as coisas da forma que se fazia habitualmente, tal como o poder se exercia, tal como as decisões eram tomadas, tal como a sociedade era organizada. Mas temos vindo a perceber cada vez mais que não é só isso: o que está em curso é que as coisas vão mudando justamente porque as decisões, a participação das mulheres não é como era antes. Vejo que o que fazem as mulheres, as jovens sobretudo, é introduzir outros temas, ter outra maneira de olhar, outra comoção na maneira como funcionamos, outra capacidade de dizer aquilo que sentimos”.
Foi a fazer esta reflexão que Leonor Beleza iniciou o seu discurso de agradecimento do galardão, pelo qual afirmou se sentir muito honrada, afirmando não saber se merecia as palavras simpáticas a seu respeito que ali foram proferidas. Afirmou ainda que se discute muito hoje se há, de facto, uma transformação da presença das mulheres na sociedade ou se há apenas uma maior partilha. “Eu sou dos que acredita que nós mulheres trazemos outra coisas, outros assuntos, outras preocupações, e não apenas aquilo que tem a ver com a nossa vida tradicional, as coisas que sempre fizemos durante muito tempo sozinhas, sem partilhar”, explica. Acredita que este processo não tem apenas a ver como se fazem as coisas, mas com outra forma de ver mais verdadeira, mais na base daquilo que sentimos e como sentimos, sem dificuldade de trazer isso cá para fora.
“Costumo dizer que eu faço parte de uma geração privilegiada. Nasci em Portugal, numa família na qual as mulheres tinham um lugar na educação e no trabalho, e nunca ninguém imaginou sequer que a minha vida não seria a de estudar e trabalhar. Além disso, nasci pouco antes de o nosso país ser uma democracia, numa fase em que a participação política e social se transformou naquilo que hoje criticamos muito, mas que foi bem pior no passado” afirmou. Disse ainda que nasceu na altura em que tudo estava a acontecer em Portugal, em que a participação social estava a mudar e que se sente privilegiada por isso mesmo.” Tenho muita sorte. Tive muitas vezes sorte em estar no sítio certo, na família e lugar onde as coisas podiam andar para a frente, onde podia fazer”, disse.
“Eu sou das que acredita que nós mulheres trazemos outras coisas, outros assuntos, outras preocupações, e não apenas aquilo que tem a ver com a nossa vida tradicional, as coisas que sempre fizemos durante muito tempo sozinhas, sem partilhar”, admite Leonor Beleza
Ainda no seu discurso de agradecimento, Leonor Beleza referiu que sempre tentou sentir que não temos limites nem barreiras porque estamos num país pequeno. “É muito isso que hoje tenho o enorme privilégio de fazer na Fundação Champalimaud. De certa maneira estou na fundação porque há uns tempos tive um emprego, que foi o pior que tive na vida, o de ser ministra da Saúde, porém, por causa disso alguém se lembrou de me colocar no sítio onde estou hoje. Portanto as coisas vêm como um misto de uma parte negativa e uma parte positiva”, adianta, sobre o seu passado no governo. Acredita ainda que a Fundação Champalimaud é “uma instituição de investigação e de cuidados de saúde tão boa como todas as outras que existem, não apenas em Portugal, não apenas na Europa, mas no mundo”.
“De certa maneira estou na fundação porque há uns tempos tive um emprego, que foi o pior que tive na vida, o de ser ministra da Saúde, porém, por causa disso alguém se lembrou de me colocar no sítio onde estou hoje”, afirmou Leonor Beleza.
Termina deixando uma importante mensagem para os mais jovens, sejam mulheres ou homens, que defendam os seus ideais, que protejam o futuro do planeta, aquele que vamos deixar aos nosso filhos e netos e, sobretudo, participem ativamente na sociedade. “É preciso participar, porque se o mundo não está todo certo, se os perigos que espreitam são muito intensos, então a maneira de conseguir que sejam um bocadinho melhores, é cada um de nós fazer o que for necessário, falar o que for necessário, participar onde for necessário, e muitas vezes participar numa coisa que hoje não é muito fashion, mas que é essencial para ter as coisas efetivamente mudadas, que é a política”, remata.
O percurso recheado de Leonor Beleza
Poucas mulheres em Portugal acumulam um currículo tão brilhante e diversificado como o de Leonor Beleza. Está como presidente da Fundação Champalimaud desde a sua criação em 2004, por desígnio do próprio António Champalimaud, o empresário português que criou um império industrial e financeiros e doou parte da sua fortuna – cerca de 500 milhões de euros – para a criação desta instituição, que é hoje uma referência mundial na área da saúde. A Fundação Champalimaud faz investigação em áreas de ponta, tendo como prioridade estimular descobertas que beneficiem a vida das pessoas, nomeadamente na área da neuropsiquiatria e do cancro.
“A primeira vez que tive uma oportunidade pública de fazer um statement político foi sobre os direitos das mulheres”, disse Leonor Beleza.
Natural do Porto, Leonor Beleza viveu em Coimbra até aos nove anos. Licenciada em Direito pela Universidade de Lisboa, foi professora nesta instituição durante alguns anos. Em 1982 tomou posse como secretária de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, e entre 1983 e 1985 foi Secretária de Estado da Segurança Social, tendo sido depois ministra da Saúde de 1985 a 1990. Depois desta passagem por três governos constitucionais, foi vice-presidente do PSD e reeleita como deputada. Foi ainda Vice-presidente da Assembleia da República. Estava como presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, e como docente, quando assumiu o cargo da Fundação Champalimaud. Através do seu centro clínico, já com 10 unidades e 8 serviços, a Fundação Champalimaud desenvolve atividade na área da Oncologia e Neuropsiquiatria, vocacionada para a inovação e investigação.
Ao longo dos seus mais de 40 anos de carreira, Leonor Beleza tem sido uma ativista reconhecida de causas públicas, nomeadamente na área da saúde, da investigação científica e na transferência deste conhecimento para a sociedade. Foi uma das grandes ativistas nacionais no que concerne aos direitos da mulher. “A primeira vez que tive uma oportunidade pública de fazer um statement político foi sobre os direitos das mulheres”, disse em entrevista.